| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Simpatizantes de Jair Bolsonaro (PSL) e de Fernando Haddad (PT) fazem neste segundo turno da eleição presidencial uma disputa particular em Amaporã, município a cerca de 540 quilômetros de Curitiba, no Paraná.

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A cidade, de 5,9 mil habitantes, vizinha de Paranavaí, noroeste do estado, se descobriu politicamente fora do centro ao registrar exatamente o mesmo número de votos, 1.191, para cada uma das pontas, direita e esquerda, no primeiro turno da eleição. Com o empate nas urnas, a pequena produtora de cana, mandioca, soja e milho e criadora de gado, de 3,8 mil eleitores, dos quais 2,9 mil votaram para presidente, passou a viver dias de tensão com o eleitorado se mobilizando para arregimentar cada voto discordante para a votação do dia 28.

“Bolsonaro não é um salvador da pátria, mas representa a possibilidade de mudança para o País”, afirmou o vereador Amauri Schuroff, presidente da Câmara Municipal e produtor rural. Ele já foi eleito em dois mandatos pelo PT, mas nas últimas duas eleições migrou para o PSD. Agora, é bolsonarista convicto.

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Na quinta-feira passada, apostando na vitória do deputado federal fluminense contra o ex-prefeito de São Paulo, Schuroff e a família aceitaram posar para o Estado na residência deles. Ao lado do filho, Luis Fernando; da nora, a administradora Carla Miranda; e da mulher, a pedagoga Valdirene Meurer Schuroff, o ex-motorista de ônibus, um dos fundadores do PT local, hoje ferrenho eleitor de Bolsonaro, afirmou que “os partidos têm ciclos” e que “chegou a vez de mudar as coisas”.

Para ele, que planeja se lançar à prefeitura em 2020, “educação, saúde e segurança pública são os três problemas a serem atacados no município e no País”. Em uma madrugada de dezembro passado, ladrões atacaram a agência do Banco do Brasil da cidade e fugiram, mas, segundo a Secretaria de Segurança do Paraná, o município registrou somente dois homicídios no primeiro semestre.

‘Surpresa’

“Para nós foi até uma surpresa a votação deles”, disse Valdirene Schuroff, vestindo a camisa amarela de Bolsonaro e fazendo referência aos petistas. Acompanhada pela nora, proprietária de uma academia de ginástica na rua principal de Amaporã, elas recordaram que, dias antes do primeiro turno, uma carreata pró-Bolsonaro chegou a reunir 120 carros, enquanto a do PT teve 13 carros. “No dia da votação, eu até comentei com um amigo que seria apertado”, afirmou o vereador Schuroff. “Pela manhã, foi o pessoal do Bolsonaro votar, mas à tarde começou a chegar o pessoal do outro lado.”

Petistas

A cerca de cinco minutos de caminhada da casa dos Schuroff, o casal de professores Pedro Nóbrega e Maria Agnete também aceitou falar da divisão política local. Eles concordaram em se reunir ao filho Pedro José Franklin (o PJ) e um sobrinho, Antonio Carlos Franklin de Souza, professor de educação física, todos defensores do voto em Haddad. “A família é PT desde o meu avô”, declarou PJ Franklin, como gosta de ser identificado o rapaz, que já foi candidato a vereador.

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Para o ex-prefeito Mauro Lemos, que já venceu duas eleições no município pelo PT, a política local produz mesmo resultados apertados. Está no partido de Lula desde 2004 e, aliás, também conseguiu a façanha de repetir votação: exatos 1.721 votos nas eleições de 2008 e 2012. Quando prefeito, nos “tempos gordos” de governo federal petista, foi aliado de Zeca Dirceu, ex-prefeito de Cruzeiro do Sul. Em 2012, Lemos teve apoio da então ministra da Casa Civil de Dilma Rousseff, Gleisi Hoffmann. “Não tenho nada a reclamar do governo federal, mas pelo governo estadual do Beto Richa (PSDB) fui perseguido”, disse Lemos, que admitiu ter ficado afastado desta campanha, mas planeja voltar à disputa municipal em 2020.

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Desta vez, porém, com o PT em baixa em relação aos “tempos dourados” de Lula e Dilma, ele tratou de abrir um outro arranjo político. Apoiou a eleição o deputado Tião Medeiros, do PTB. Pecuarista e produtor de mandioca, Lemos argumentou que vai de Haddad para presidente e não pretende deixar o partido. Com as contas de sua gestão, encerrada em 2016, ainda aguardando julgamento pela Câmara, ele se disse perseguido e reconheceu que pode ter dificuldades já nos próximos dias. Precisa de quatro votos favoráveis para suas contas, que foram aprovadas com ressalvas pela Justiça. Mas o PT tem somente uma das nove cadeiras do Legislativo municipal.

“Esse resultado exato de agora para presidente é uma coincidência”, disse a prefeita Terezinha Fumiko Yamakawa, do MDB, que já foi do PPS e do PSDB, e que agora faz campanha para Bolsonaro. Para ela, a filiação a partidos políticos não é relevante na cidade - o PSL, por exemplo, nem tem representação em Amaporã. “Nem precisa. Aqui, as pessoas não olham para os partidos, mas para quem é o candidato e se ele ajuda a região ou não”, resumiu Terezinha, produtora rural e pecuarista que está no terceiro mandato na prefeitura. Segundo ela, a campanha eleitoral no primeiro turno foi mais para garantir a eleição dos representantes da região. “Nós trabalhamos aqui para Maria Vitória (PP), Caputo (PSDB) e Anibelli Neto (MDB), e todos se elegeram para deputado estadual. A campanha para prefeito, sim, essa pega fogo”, afirmou a prefeita.

Campanha

Nas ruas da área urbana da cidade, os carros com adesivos “Bolsonaro-17” são os mais avistados. Não há a mesma presença ostensiva da militância “Haddad-13”, embora o município tenha pelo menos dois assentamentos do MST consolidados, que descarregam votos nas urnas da cidade.

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No Assentamento Roseli Nunes, com 60 famílias, há cerca de 190 votos. Já o Assentamento Antônio Conselheiro, com 38 famílias, “tem uns 50 votos”, segundo o ex-presidente da Câmara Paulo Fernandes Alves, o Bugão, um dos organizadores da mobilização petista na região. Atualmente sem partido, ele deixou o PT por divergências internas locais, mas trabalha para organizar o comício pró-Haddad do dia 25.

Entre os “haddadistas”, uma novidade: a roupa vermelha, ícone do petismo, não é a mais preferida e muitos até temem vestir a cor nas ruas. “Ninguém sabe onde isso vai parar”, afirmou um eletricista, que pediu para não ser identificado, declarou voto em Ciro Gomes (169 votos), mas “confessou” ter ido de PT em eleições anteriores. “Aqui, todo mundo precisa fazer um serviço aqui, outro lá, e não pode ficar se expondo.”

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A disputa na cidade está tão acirrada que em algumas famílias as coisas parecem complicadas. “Eu vou com aquele da camisa preta, como o meu filho falou”, disse a aposentada Neuza Ana dos Santos, de 66 anos, moradora da periferia de Amaporã, referindo-se a Bolsonaro. Ela admite que votou no PT em outros tempos. Mas agora pretende seguir a opinião de um filho e trocar o voto.

Até a semana passada, filho e nora tentavam convencer a aposentada a se bandear para o lado deles. Animada, ela parecia decidida e disse querer “mudança”, porque é a única em casa a ter renda e não aguenta mais arcar com todas as contas. “Tive de fazer empréstimo de R$ 4 mil para as despesas, tenho cirurgia marcada. É preciso mudar alguma coisa.”

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A decisão de dona Neuza, porém, não é tranquila na residência simples. A neta dela, Carolaine dos Santos, de 20 anos, trabalhadora rural desempregada, bate o pé na discussão com a avó. “Esse aí diz que mulher é vagabunda, que vai acabar com o Bolsa Família. Eu sou bem contra esse Bolsonaro”, afirmou Carolaine. “Eu sou Lula e vou de 13.”

Mas nem tudo é desavença em Amaporã. De acordo com a vereadora Elisabete de Souza Pereira, a Polaca, moradora do Assentamento Roseli Nunes, ex-petista, hoje no PMN, “é difícil alguém que não seja do PT no assentamento”. Ela, porém, mantém relação cordial com a prefeita bolsonarista. “Temos um bom relacionamento, sim”, confirmou a prefeita. Na manhã de quinta-feira, ambas percorreram escolas na cidade e participaram, animadas, da festa antecipada do Dia das Crianças no Ginásio de Esportes.