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| Foto: NELSON ALMEIDAAFP

A menos de duas semanas para o pleito, a campanha de Fernando Haddad (PT) revê algumas estratégias com a intenção de alavancar o petista e tentar ultrapassar o líder nas pesquisas, Jair Bolsonaro (PSL).

O tempo é curto. Mas, com uma campanha de menor duração como a deste ano, as equipes acreditam que esses últimos dias correspondem, para o eleitor, a quase um mês do pleito de 2014, por exemplo. E, por essa avaliação, ainda há muito a ser feito.

Gazeta do Povo conversou, sob condição de anonimato, com dois governadores petistas, um deles do Nordeste, região onde o PT tem a melhor colocação. Também falou com um senador que participa ativamente da formulação das estratégias da campanha, além de duas pessoas da equipe que acompanha Haddad diariamente.

Eles detalharam parte do que será o tom dos próximos dias, de qual será a busca principal. O PT mudará o discurso? Haverá apostas em novos nichos?

1. Voto casado 

As últimas pesquisas de intenção de voto mostraram que o Nordeste é a única região em que Haddad está na frente de Bolsonaro. Lá, especialmente, o PT vai intensificar a tese do voto casado. Ou seja: quem vota no governador do partido, também vota no presidenciável petista.

"Isso reforça a tese de alinhamento político entre os governos federal e estadual, passa uma segurança para a população de que haverá investimento federal na região. É um bom puxador de votos", disse uma das pessoas que falou com a Gazeta.

Além de apostar no voto casado com candidatos do PT aos governos estaduais, há claro, os postulantes de partidos aliados, como o PSB e o PCdoB.

No Nordeste, embora petista, há uma situação peculiar. É no Ceará do presidenciável Ciro Gomes (PDT). Até o momento, o governador Camilo Santana (PT), que tenta a reeleição, está em cima do muro. Pede votos para Fernando Haddad, de seu partido, e para Ciro, que é seu aliado histórico. Precisará se definir nesta semana.

2. Fala ao mercado

Conseguir abrir espaço no Sudeste é essencial para o crescimento de Haddad nessa reta final e em um eventual segundo turno. Lá estão os maiores colégios eleitorais do país.

Uma parte considerada essencial para isso é o eleitorado empresarial. De olho neles, Fernando Haddad já vem dando algumas sinalizações – que vai intensificar nos próximos dias – negando a política econômica adotada no governo Dilma Rousseff. E também atribuindo parte da crise a Michel Temer e ao PSDB, que assumiram o governo após o impeachment da petista.

Bolsonaro lidera na região e mesmo Geraldo Alckmin, que governou São Paulo e saiu com grande aprovação, tem dificuldades de engrenar no estado. 

3. Conciliador 

Desde a semana passada, Haddad vem falando em como tratará a oposição em um eventual governo. E adota um tom moderado, de conciliação. Disse que irá conversar, por exemplo, com o PSDB, opositor histórico, em questões fundamentais.

É parte da personalidade do petista. Mas a estratégia saiu mesmo da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, orientada pelo ex-presidente Lula.

Já de olho no segundo turno, o líder do partido, condenado por corrupção, vislumbra um acordo com partidos historicamente antipetistas, em um movimento "todos contra Bolsonaro". A ideia é reforçar o tom de "desconfiança" contra o candidato do PSL e se aproximar dos demais adversários.

4. Onda final 

Assim como a campanha tucana acredita que na última hora o eleitor antipetista que vota em Bolsonaro repensará e votará em Geraldo Alckmin, por ver nele um caminho mais seguro, o PT também acredita nesse efeito. Só que ao contrário.

"Quem vê em Jair Bolsonaro uma ameaça à estabilidade do país votará no Fernando, que está encostando no deputado nas pesquisas de intenção de voto", explicou uma das fontes petistas.

Essa onda final é o conhecido voto útil. As campanhas fazem previsões em cima dos índices de rejeição. Nesse caso, Bolsonaro tem 46% de rejeição, enquanto Haddad soma 30%*. "Como os índices são superiores às intenções de voto neles, podem influenciar as escolhas finais", advertiu um dos assessores da campanha que conversou com a Gazeta.

A estratégia do voto útil reverteu a disputa presidencial em 2014 nos dias que antecederam o pleito, quando Aécio Neves (PSDB) disparou e ultrapassou Marina Silva (então no PSB e hoje na Rede).

5. Para alguns, menos Lula 

A equipe da campanha petista e o próprio ex-presidente Lula avaliam que a transferência de votos para Haddad ocorreu mais rápido que o esperado e ainda há votos a serem captados nessa analogia de um com o outro.

Porém, a ideia é reduzir um pouco, para uma parte do eleitorado, essa vinculação com Lula. Pelo menos para o eleitor considerado mais esclarecido. Acredita-se que, nesse nicho, a mensagem já foi compreendida e a transferência que caberia, feita.

Entre o eleitorado menos escolarizado, a avaliação interna é de que esse discurso de que Haddad é Lula ainda se faz necessário. "Especialmente porque custam ainda a acertar o nome. Não vemos isso como um impedimento. Quem gosta de futebol fala até Mbappé (jogador de futebol francês). Mas a analogia funciona", afirmou uma das fontes ouvidas pela reportagem.

*Segundo a pesquisa Ibope divulgada na segunda-feira (24). Metodologia: Levantamento realizado com 2.506 entrevistados (Brasil) entre 22 e 23 de setembro. Contratado por: REDE GLOBO E O O ESTADO DE S.PAULO. Registro no TSE: BR-06630/2018. Margem de erro: 2 pontos percentuais. Confiança: 95%.

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