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FHC monta durante a campanha eleitoral de 1994: foto deixa claro que não era um jegue. | José Varella/Estadão Conteúdo
FHC monta durante a campanha eleitoral de 1994: foto deixa claro que não era um jegue.| Foto: José Varella/Estadão Conteúdo

Focados em conquistar eleitores das mais diversas classes sociais, políticos em campanha se expõem a situações por vezes embaraçosas para ganhar votos, que acabam ficando registradas muitos anos depois das eleições. Percorrem longos trajetos em corpo a corpo com eleitores, comem além das três refeições diárias, param para foto com criança no colo e são obrigados a vestir camisetas e bonés de causas que não conhecem.

E também posam para fotos com animais, como fez esta semana o presidente Michel Temer, com seu cachorro Thor. Temer garante que sua preocupação agora é ser presidente até 31 de dezembro de 2018 e nega ter neste momento intenção de se candidatar.

Esse tipo de comportamento eleitoral quase sempre beira o ridículo por mostrar um candidato tentando desempenhar uma atividade que não faz parte do seu cotidiano. Em seu livro “A Arte da Política – A História que Vivi”, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso reconta o episódio em que montou em um “jegue” e nega que tenha tentado, em momentos como esse, falsamente assumir uma realidade que não a sua. 

“Sempre achei engraçado quando nas campanhas eleitorais os adversários procuraram me caracterizar como alguém de punhos-de-renda, com dificuldades em falar com o povo e por ele ser entendido e que desconhecia o lado da pobreza e da miséria que se abatem sobre milhões de brasileiros. Não apenas passei boa parte da vida acadêmica lidando com esses problemas, como sociólogo "de campo", como tentei, como presidente, entendê-los em maior profundidade para adotar políticas que, sem demagogia, pudessem enfrentá-los”, afirmou FHC, em trecho do livro publicado pela Editora Record, em 2006. 

Mas esses gestos, na maioria das vezes calculado, em geral atendem ao seu propósito. FHC, no mesmo livro, diz que a cena em que foi “objeto de gozação” pela mídia surtiu efeito positivo junto ao eleitorado. “O fato é que a cena, estampada na mídia, repercutiu positivamente no Nordeste”, afirma, sobre o episódio em que montou na verdade um cavalo. 

Listamos abaixo cinco episódios da política recente nos quais os políticos se renderam às campanhas: 

A comilança de Dilma na terra do cachorro-quente

A ex-presidente Dilma Rousseff escolheu comer um cachorro-quente em uma barraquinha de rua durante um passeio no calçadão da Avenida Antonio Agu, em Osasco, na região metropolitana de São Paulo. “Com duas salsichas!”, destacou a então candidata à reeleição, em 9 de agosto de 2014. 

A cidade tem o apelido de “Capital do Cachorro Quente” e Dilma não poderia fazer essa desfeita aos osasquenses em ato de campanha na avenida de intenso comércio popular, onde os ambulantes preparam, a céu aberto, o sanduíche que é refeição de motoboys, motoristas e trabalhadores que passam pelo calçadão ao chegar ou partir de trem no Largo de Osasco. 

A passeata era um evento grande de campanha da petista, com grande alvoroço e expectativa, por ser o primeiro evento de rua dela em São Paulo. Ela foi acompanhada pelo candidato do PT ao governo paulista, Alexandre Padilha, e pela senadora Marta Suplicy, na época ainda filiada ao PT. 

A presidente foi reeleita naquele ano, com uma figura bem mais rechonchuda do que ao final de seu primeiro governo. Durante a sua primeira campanha, em 2010, a presidente chegou a admitir que também havia ganhado uns quilos a mais. 

FHC, o jegue e o cavalo

Em 1994, em sua primeira campanha na disputa presidencial, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foi fotografado ao montar em um jegue durante ato de campanha em Delmiro Gouveia (AL). O animal de pequeno porte parecia desconfortável suportando no lombo o candidato, que parecia ainda maior em cima do animal. Em sua campanha à reeleição, repetiu o gesto, aos montar em um cavalo em Petrolina (PE). A imprensa criticou os dois episódios. 

Em seu livro, o ex-presidente recontou o episódio de 1994 e sustentou que o gesto condizia sim com sua vivência. “Aprendi a andar a cavalo ainda pequeno, com meu pai, e, mesmo sendo mau cavaleiro, é algo que sempre fiz. Pedi a um dos homens que me deixasse montar (...). Segui em frente e juntei-me à cavalhada. Alguém me emprestou um chapéu de couro, típico do sertanejo nordestino”, afirmou FHC, que diz que na verdade tratava-se de um cavalo, não jegue. 

Em 1997, ele repetiu o ato. Em Pernambuco, também montou em um cavalo ao fazer corpo a corpo com um grupo de vaqueiros. Reportagem da época, do jornal Folha de S.Paulo, afirmou que “FHC subiu em um dos cavalos. O animal deu três passos e parou. O presidente aproveitou para conversar com os vaqueiros. Depois de três minutos montado, FHC desceu”. 

Da série “comer, comer”: FHC e a buchada de bode, Doria e a cara feia

Um cafezinho aqui, um pastel ali, um docinho acolá, entre abraços e apertos de mão. Em campanha, comer é um dos exercícios praticados pelos candidatos e é pecado recusar o convite de algum possível eleitor. Em 1994, FHC também foi criticado por ser fotografado comendo uma buchada de bode em uma casa modesta, durante ato em Juazeiro (BA). 

Anos depois, o ex-presidente recontou a história e afirmou gostar desse prato típico do Nordeste. No relato, ele conta que os jornalistas que o acompanhavam ficaram surpresos ao ver que ele aceitaria o convite. “Naquela noite não se tratou de demagogia, como alegaram adversários e alguns críticos na imprensa. O fato é que, episódio à parte, gosto de buchada. (...) Mas havia o estereótipo: uma pessoa como eu não pode andar a cavalo e jamais comer um prato como aquele”, escreveu. 

No ano passado, o então candidato tucano à prefeitura de São Paulo João Doria passou por situação parecida. Foi fotografado com uma expressão franzida ao morder um pastel de rua durante a campanha. A oposição aproveitou o episódio para tachá-lo de almofadinha, justificando a cara feia ao comer um prato popular. Sua assessoria de imprensa reagiu, pedindo que ele não fosse fotografado comendo. 

Fotos com o melhor amigo do homem: Alvaro Dias e Hugo Henrique

Dilma Rousseff utilizou imagens com seu cachorro Nego durante a campanha, como tentativa de suavizar sua imagem de gerentona. Em 2014, durante campanha ao senado, o parananense Alvaro Dias (ex-PSDB, atual Podemos) trouxe seu cachorro Hugo Henrique para os filmes publicitários. 

Dias sofreu críticas e foi ironizado pela escolha de tema e por trazer o exemplar branco e fofinho, de nome pomposo, da raça Bichon Frisé ao horário eleitoral televisivo. Em resposta, atacou a oposição. “Na imaginação deles, é necessário levar para o terreno do deboche para minimizar o êxito dessa proposta, o benefício que pode trazer para o candidato”, disse o senador ao blog de Rogério Galindo, na Gazeta do Povo, na ocasião. 

Na esteira do evento, os marqueteiros de Dias optaram por um caminho de gosto questionável: uma animação que mostrava o próprio Hugo Henrique, dublado por uma voz infantilizada, se defendendo dos ataques e dizendo que tratava-se de atos de “aloprados” e de gente que “estava na Papuda”, citando o presídio de Brasília. 

Corpo a corpo: José Serra, o beijo na boca e a bolinha que era rolo de fita 

Apertos de mão, abraços, sorrisos, pausa pra foto. A vida em campanha reúne tudo isso. E algumas surpresas, como a que aconteceu com o senador José Serra (PSDB-SP), em 2012. Durante uma caminhada na região do Bom Retiro (área com grande concentração de lojas populares de roupas em São Paulo), uma eleitora beijou duas vezes a boca do candidato. 

Antonio Scorza/AFP

Enquanto ele conversava com vendedoras, a moça se aproximou, segurou o rosto do candidato e deu um beijo certeiro, na boca. Ele tentou se desvencilhar e foi pego de novo, só que desta vez de canto de boca. 

Serra protagonizou outro episódio de confusão durante passeata, que foi amplamente divulgado e alvo de ridicularização. Em 2010, durante campanha à presidência da República, Serra caminhava no bairro carioca de Campo Grande quando um grupo de opositores se aproximou. Depois de confusão, ele foi atingido por um objeto na cabeça. O candidato interrompeu a passeata e foi ao hospital fazer exames. 

Posteriormente, vídeos identificaram que se tratava de um rolo de fita adesiva ou bolinha de papel. O episódio foi criticado por opositores, que ironizaram a reação do candidato com o incidente. A atuação da imprensa no caso também foi questionada, com alguns veículos sendo acusados de exagerar ou minimizar o incidente para favorecer lados da disputa. 

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