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Ciro Gomes à espera de um milagre | Daniel Remalho/AFP
Ciro Gomes à espera de um milagre| Foto: Daniel Remalho/AFP

As eleições deste domingo (7) e as pesquisas do primeiro turno não são nada favoráveis para Ciro Gomes, o presidenciável do PDT: tem 11% no Datafolha** e 10% no Ibope**, ocupando o terceiro lugar na preferência do eleitorado. No segundo turno, é o único a vencer todos os candidatos nas simulações feitas. Mas então por que Ciro foi atropelado por Haddad nas pesquisas?

Primeiro de tudo, é preciso lembrar seu espelho: Leonel Brizola, falecido em 2004, fundador e presidente histórico do Partido Democrático Trabalhista. Gaúcho, governou o Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro. Ciro, o Ceará. No discurso e na prática, os pedetistas têm temperamento forte.

Perfil místico

Em 1989, candidato a presidente, Brizola chamava adversários da direita de filhotes da ditadura – inclusive Fernando Collor, vencedor daquela eleição. No Debate da Band, teve um marcante bate-boca com Ronaldo Caiado (então no PSD, hoje senador pelo DEM de Goiás) tachando o candidato com o adjetivo. Em 2018, o pupilo Ciro Gomes segue o estilo.

Pela segunda vez candidato a presidente, Ciro já tachou Bolsonaro de candidato a ditador do Brasil, nazista, entre outros adjetivos que nem sequer podemos citar.

No programa Roda Viva, da TV Cultura, em 1987, Brizola chamou um jornalista de “rato”: “Você quis me insultar e me ofender”. Lembra (e muito) o episódio em que Ciro xingou um jornalista em Roraima.

Outro ponto em comum: ambos culpa(vam) o sistema financeiro pelas mazelas brasileiras. Uma das principais propostas de Ciro é justamente a de limpar o nome de brasileiros do SPC. Eles se parecem até mesmo nos trajes de aparições públicas (Ciro sem gravata, Brizola com):

“Embora o brizolismo não deva ser entendido apenas como fenômeno eleitoral, é inegável que muito de sua força foi extraída da enorme capacidade de transformar em votos a adesão a valores e a imagens que representou”, escreveu em artigo João Trajano Sento-Sé, professor de Ciências Sociais da UERJ.

Atropelados pelo PT

Mas esse espelho não tem sido suficiente. Em 1989, Brizola era o segundo colocado nas pesquisas do Ibope até poucos dias antes das eleições de 15 de novembro. Em agosto, Brizola tinha 13% das intenções de voto. Lula, o candidato do PT, tinha 6%. No mês seguinte, Brizola subiu para 14% e Lula ficou estagnado. Em outubro, 14% eram Brizola e 9% Lula. Em novembro, Lula disparou para 14% e o político gaúcho ficou com 15%.

LEIA TAMBÉM: Por que Ciro Gomes lembra muito o tucano Mário Covas da eleição de 1989?

O crescimento do adversário levou Brizola a declarar no horário eleitoral, pouco antes do primeiro turno: “Lula está muito imbuído de uma pretensão. A direita fez muito trabalho ao seu movimento e a ele próprio, enchendo para jogá-lo ao segundo turno porque será muito mais fácil derrotar ao Lula do que qualquer um de nós. No mais, Collor disse que prefere o Lula no segundo turno.

No segundo turno de 1989, Brizola e Covas (PSDB) declararam apoio a Lula.Foto: Renato dos Anjos

Não adiantou. Na eleição, veio a virada: Lula conquistou 17,1% dos votos válidos e Brizola 16,5%. Foram apenas 450 mil votos de diferença, em um eleitorado de 82 milhões, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Brizola continuou em queda nas eleições presidenciais de 1994. De 11,1 milhões de eleitores em 1989, teve apenas 2 milhões em 1994: ficou em 5º lugar, com 2,5% do total de votantes. “Desde 1994, quando Brizola teve um desempenho pífio na eleição presidencial, a mística brizolista entrou em uma aparentemente irreversível rota de decadência”, diz o professor Trajano Sento-Sé. O fundador do PDT contentou-se em ser vice de Lula em 1998 – e perdeu novamente.

Discurso por educação

Que a educação de qualidade sempre esteve presente nos discursos de todos os presidenciáveis, isso é inegável. Mas nunca foi o suficiente para vencer uma eleição. Com o PDT, não foi diferente.

No plano da educação, Brizola bradou em 1989: “Escola integral para criança em primeiro lugar”. Saltando no tempo, em 2006, com Cristovam Buarque como candidato do PDT (hoje no PPS, candidato à reeleição no Senado do Distrito Federal), o discurso foi similar.

A principal bandeira era educação pública de qualidade. Ex-ministro da Educação de Lula em 2003 e 2004, Cristovam focou toda a campanha nisso. Era praticamente um candidato tampão: ficou em 4º lugar, com 2,5 milhões de votos – 2,64% do total.

Cristovam Buarque quando era ministro da Educação no governo Lula.Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil

“Sabendo não ter chances, tentou ocupar um nicho, centrando sua campanha na “revolução” educacional, vinculando educação com as mais variadas áreas: desenvolvimento econômico, cidadania, saúde, segurança etc”, escreveu Yan de Souza Carreirão, professor da Universidade Federal de Santa Catarina.

Agora, no plano de governo de Ciro, o PDT expressa como meta: “Pelo menos 50% das escolas destinadas ao ensino fundamental II (11 a 14 anos) e ao ensino médio deverão ofertar cursos em período integral”.

Ciro se orgulha de seu estado, o Ceará – governado pelo irmão Cid Gomes de 2007 a 2014 (hoje o governador é Camilo Santana, do PT) –, atingir já em 2017 a meta de 25% de oferta de ensino em tempo integral do Plano Nacional de Educação (PNE) previstas para 2024, com quase 50% das escolas públicas adequadas. Em 2017, eram 1,6 milhão de estudantes cearenses nessa condição, 30% do total.

Terceira via

Agora, empatado tecnicamente com Alckmin, ambos tentam se vender como a terceira via. Ambos fazem o jogo do voto útil. No Debate da Globo, do qual saiu vencedor segundo analistas, Ciro disse:

Houve até um pedido para que unissem forças, criando uma chapa Alcirina (unindo ambos com Marina). Mas parece ter vindo tarde demais, e o orgulho brizolista que corre no sangue de Ciro – e o orgulho tucano do PSDB – parece ter deixado a união para uma próxima vez. Agora, só a interferência de Brizola em um plano superior parece ser capaz de colocar Ciro no 2º turno.

Metodologias

* Pesquisa realizada pelo Datafolha de 3 e 4 de outubro com 10.178 entrevistados (Brasil). Contratada por: REDE GLOBO E EMPRESA FOLHA DA MANHA . Registro no TSE: BR-02581/2018. Margem de erro: 2 pontos percentuais. Confiança: 95%.

** Pesquisa realizada pelo Ibope nos dias 1.º e 2 de outubro com 3.010 entrevistados (Brasil). Contratada por: REDE GLOBO E O ESTADO DE S.PAULO . Registro no TSE: BR-08245/2018. Margem de erro: 2 pontos percentuais. Confiança: 95%.

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