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 | Valter Campanato/ Agência Brasil/Fotos Públicas
| Foto: Valter Campanato/ Agência Brasil/Fotos Públicas

1989 está de volta. Ou pelo menos essa é a percepção do ex-presidente Fernando Collor de Mello, que anunciou que irá disputar a Presidência da República este ano, ao perceber a semelhança do atual momento político àquele da primeira eleição democrática pós-ditadura. Parte do discurso que adotou em sua campanha presidencial ainda está atual, como o combate a benefícios, defesa das privatizações e abertura de mercados. Mas Collor não é mais aquela figura nova na política e jovem, que venceu as eleições de 1989. Sua ficha também já não é mais a mesma. 

O que o senador alagoano tentará fazer este ano não tem nada de arriscado. Collor está em seu segundo mandato como senador, que termina apenas em 2023. Poderá disputar as eleições, testar suas plataformas e seu atual peso político, que poderá valer algo, por exemplo, na composição do próximo governo. 

“Ele é muito esperto. Faz bem a leitura da política atual e percebeu que esta eleição vai ser parecida com a de 1989, fragmentada. Se Lula estiver fora, abriu tudo, será um Deus nos acuda”, avalia o cientista político André César, da Hold Assessoria Legislativa. 

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Se em 1989 ele se colocou como um “outsider”, um jovem sem ligações com o passado (ele disputou as eleições com nomes do calibre de Ulysses Guimarães, Paulo Maluf, Leonel Brizola, Aureliano Chaves e Mário Covas), esse discurso não caberá mais para Collor neste ano. Outras de suas bandeiras na candidatura presidencial, por outro lado, estão em alta, como uma imagem de liberal, favorável a privatizações e combate aos benefícios dos “marajás”, como foram apelidados os servidores públicos das altas carreiras. 

“Naquela época, votar era uma grande novidade para a maioria do eleitorado. Era um velho sonho das gerações que não tinham votado durante o período da ditadura. Tinha muito medalhão, muita gente de peso disputando aquela eleição. Collor já era governador, mas o discurso da caça aos marajás colou bem. E o Brasil tinha uma inflação altíssima, quase 80% ao mês. A população queria achar os culpados e Collor achou o discurso do marajá, contra os servidores”, avalia César. 

Também ajudou Collor a chegar ao Palácio do Planalto a insegurança que parte da população sentia com o crescimento da esquerda. “Ainda tinha também o medo do comunismo. A classe média, elites, os meios de comunicação foram com ele, contra Lula. O Brasil era um país em construção, não sabíamos o que ia dar”, avalia o cientista político. 

Collor poderá reassumir o discurso do combate à corrupção como parte de sua plataforma nas eleições deste ano, reafirmando propostas suas de 1989, como o combate aos benefícios do funcionalismo público, redução de ministérios e privatizações. Também poderá dizer que já pagou pelo que foi condenado, após ficar oito anos inelegível. 

Mas esse discurso terá de ser feito com cautela. Collor é réu na Operação Lava Jato por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Ele teria recebido ao menos R$ 29 milhões em propinas, apenas entre 2010 e 2014. A defesa do senador nega as acusações e diz que vai provar sua inocência. Em agosto de 2017, o Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou a denúncia do então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o político. 

Mais um no embaralhado espectro de “centro-direita” 

Collor precisará encontrar seu espaço entre os candidatos nas eleições 2018. Ele se enquadrará em polo oposto à esquerda, até por ter vencido as eleições de 1989 em oposição ao petista Luiz Inácio Lula da Silva, restando a ele pouco espaço na lotada e bagunçada centro-direita. Ganhar espaço neste lado do espectro político não será tarefa fácil, com diversos candidatos surgindo, além de um possível representante do atual governo de Michel Temer. 

Mas o senador pode sair com vantagem entre os diversos possíveis candidatos de centro-direita, se conseguir calibrar seu discurso. “O centro de agora não se entende. É gigante e falta uma auto conceituação dos personagens de centro. E o Collor entra com essa expertise, de saber se conceituar. O discurso dele está pronto. Muita gente disse que ele não tem fôlego para chegar lá, mas acho que ele tem”, avalia César. 

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Com uma leitura aguçada dos momentos políticos, Collor tem também grande experiência como comunicador, o que pode o ajudar nesta corrida eleitoral. Em 1989, em um movimento inteligente e calculado, ele encarnou o perfil do moderno, em contraposição aos medalhões do passado que disputavam as eleições com ele. Falava que o brasileiro dirigia “carroças”, como defesa da abertura do mercado para as importações. Combatia os marajás, e defendia os “descamisados”, uma imagem marcante sobre as classes mais pobres da população. 

“Ele demonstrava liderança, discurso forte, com frases como ‘temos uma bala para acertar o tiro da inflação’”, diz César. 

Mais do mesmo dentro do Senado 

Se em 1989 Collor encarnava alguns traços do candidato “outsider”, de renovação política, em 2018 ele não conseguirá se vender novamente como essa figura, que é tão desejada por parte do eleitorado. 

Como senador, repete práticas tradicionais entre os parlamentares, mas que são criticadas pela população. De acordo com dados do Senado, Collor utilizou apartamento funcional em 2017, mesmo possuindo residência em Brasília: a famosa Casa da Dinda, que ele usou como residência oficial durante seu período na Presidência. Questionado por e-mail, o gabinete do senador não respondeu qual é a razão da opção por morar em residência oficial e não em seu imóvel próprio. Por prática parecida, o deputado federal e pré-candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro (PSC-RJ) vem sofrendo críticas

O gabinete do senador mantém 80 funcionários, sendo 49 no gabinete e 31 em escritórios de apoio. A maioria (75) são funcionários comissionados, sem vínculo efetivo com órgãos públicos. Os gastos de gabinete somaram R$ 392.994,57 em 2017. Desse total, a maior parte é utilizada com “serviços de segurança privada”, que consumiram R$ 264.527,00. Somente com Correios, foram usados R$ 61.587,26. 

“Podemos ter Collor e Lula disputando eleições, voltando a 1989. Isso mostra a dificuldade de renovação dos quadros políticos. Renovar não significa melhorar, mas poderia ser uma arejada na política. E não estamos tendo uma arejada. Não sei se isso é reflexo de anos de ditadura, que fecharam a cabeça de uma geração, ou um comodismo de parte das elites”, concluiu o cientista político André César. 

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Em sua atuação parlamentar, retomada em 2007, Collor conseguiu preservar um pouco da importância institucional da Presidência da República. Não atende a imprensa e não concede entrevistas. Suas declarações são feitas ou no plenário ou em sua participação nas comissões. As reuniões das comissões presididas por ele eram iniciadas pontualmente às 8h30, para terror de outros senadores. 

Ele mantem uma atuação discreta como senador, mesmo sendo presidente de comissões como a de Relações Exteriores e a de Infraestrutura. Ao ser denunciado por Janot, em 2015, essa discrição foi quebrada. O senador foi incisivo ao criticar Janot (que o senador chama de “Janó”, com O aberto) durante sua sabatina no Senado para recondução ao cargo. 

Em outro episódio, em agosto de 2015, Collor utilizou a tribuna do plenário para se defender das acusações. Discretamente, ao citar Janot, balbucia “filho da p...”.

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