Os militares ganharam proeminência política neste período eleitoral. Passa de uma centena o número de candidatos da caserna a vários cargos, em destaque o presidenciável e capitão da reserva Jair Bolsonaro (PSL). Mas no âmbito do Executivo, no governo Michel Temer, o comandante do Exército e general quatro estrelas Eduardo Villas Boas assumiu atribuições pouca afeitas ao cargo, ou "missões" diferentes dos outros titulares desse posto.
Na agenda do general Villas Boas passou a constar encontros com presidenciáveis. Isso mesmo. E já foram conversas com dez postulantes ao Palácio do Planalto: Alvaro Dias (Podemos), Jair Bolsonaro (PSL), Manuela D´Ávila (PCdoB), Geraldo Alckmin (PSDB), Henrique Meirelles (MDB), Marina Silva (Rede), Paulo Rabello de Castro (PSC), Aldo Rebelo (Solidariedade), Fernando Haddad (PT) e Ciro Gomes (PDT). Ele também se encontrou com o presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM).
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O Comando do Exército informou à Gazeta do Povo que o general recebe autoridades dos três poderes para tratar de assuntos das Forças Armadas (FA), como defesa nacional. "E ressaltar a importância da adoção de políticas que garantam o avanço indispensável dos programas estratégicos da Força, bem como a estabilidade orçamentária, a recuperação remuneratória e a manutenção da operacionalidade da Força, com equipamentos e tecnologias atuais", informou o Comando à reportagem.
"É importante que a sociedade discuta os temas defesa e segurança, para que, no futuro, sejam tomadas as melhores decisões", completou o Comando.
No Twitter, o general Villas Boas publicou fotos do encontro com alguns pré-candidatos. Ele escreveu que tem usado os encontros para mostrar aos presidenciáveis a importância de discutir temas sobre defesa e segurança e para falar sobre as “dificuldades orçamentárias que impactam negativamente as FA”.
Hoje, recebi o Sr. Geraldo Alckmin, pré-candidato à presidência da república. Nesses contatos, tenho mostrado a importância de discutirmos os temas defesa e segurança, iluminando-os para a sociedade, e destacado as dificuldades orçamentárias que impactam negativamente as FA. pic.twitter.com/denJeyJCyE
— General Villas Boas (@Gen_VillasBoas) 18 de junho de 2018
Prosseguindo nos contatos com os pré-candidatos à presidência da república, ocasião onde apresentamos alguns temas, sob a ótica do Exército, que consideramos importantes serem discutidos por quem pleiteia dirigir a Nação, recebi a Sra Marina Silva em nosso QG do @exercitooficial pic.twitter.com/9mnUaJrq0s
— General Villas Boas (@Gen_VillasBoas) 15 de junho de 2018
à tarde, conversei com o Sr. Ciro Gomes na mesma toada dos outros pré-candidatos. Necessidade de orçamento previsÃvel; atenção aos projetos estratégicos do @exercitooficial; defesa e segurança no foco da sociedade foram alguns temas discutidos. pic.twitter.com/YmjipzNcIR
— General Villas Boas (@Gen_VillasBoas) 19 de junho de 2018
PSOL crítica o que chama de “sabatinas” do general Villas Boas
Incomodado por não ter sido chamado para uma conversa com o general Villas Boas, o PSOL fez críticas a esses encontros. Seu candidato a presidente é a liderança dos sem-teto Guilherme Boulos. O líder do partido na Câmara, Chico Alencar (PSOL-RJ), credita o não convite ao fato de a legenda "recusar a tutela militar sobre a política".
"E que queremos que as Forças Armadas deixem de assumir o passado de torturas que, como política de Estado, sua alta cúpula de então praticou", disse Alencar. E afirmou achar estranho essas "sabatinas": "Também consideramos estranho que um general queira 'sabatinar' os pré-candidatos a presidente. Ele se considera com poderes especiais?"
General ganhou espaço no universo político
Os encontros do general Villas Boas com presidenciáveis chamam a atenção. Por que o general promove esses encontros? Que poderes têm para tal? E os presidenciáveis? Por que comparecem se têm agendas lotadas? Por que o comandante do Exército e não de outras forças? São muitas as perguntas.
Fato é que o general ganhou um espaço no universo político. É corajoso. Ele fez elogios públicos ao general Hamilton Mourão – aquele que acusou o presidente Michel Temer de transformar o Planalto num 'balcão de negócios' – quando esse oficial foi para reserva. E publicou sobre o amigo: "Soldado na essência d´alma! Todos te agradecemos amigo Mourão os exemplos de camaradagem, disciplina intelectual e liderança pelo exemplo".
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Temer, que afastou Mourão do cargo que ocupava no Ministério da Defesa, é o comandante das Forças Armadas, mas não se conhece uma palavra dele de incômodo com os elogios de Villas Boas a Mourão, seu desafeto.
Em abril, na véspera de o STF julgar o habeas corpus que poderia tirar Lula da cadeia, o general Villas Boas, numa manifestação política e fora do tom para o titular desse cargo, foi às suas redes sociais dizer que o Exército "repudia a impunidade e o desrespeito à Constituição, a paz social e a democracia". Com a ameaça de que a força estava atenta "às suas missões institucionais". De novo, nenhum comentário do presidente Temer.
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