Com a alta registrada por Jair Bolsonaro (PSL) nas pesquisas Ibope* e Datafolha** divulgadas nesta semana, a possibilidade de a eleição para presidente ser definida já no primeiro turno passou a ser cogitada. O presidenciável rompeu a barreira dos 30% de intenção de voto e abriu distância em relação a seus adversários. Os seus apoiadores intensificaram a campanha pela vitória antecipada e, para isso, tentam esvaziar os adversários e atrair mais antipetistas e indecisos. Mas de quantos votos Bolsonaro precisaria para vencer no primeiro turno?
O número depende, necessariamente, de quantas abstenções (pessoas que não vão votar) e votos brancos e nulos teremos nesta eleição. É que, para vencer no primeiro turno, um candidato precisa ter mais da metade – 50% mais um – dos votos válidos. Isto é, os votos direcionados a candidatos, o que exclui brancos e nulos.
Por isso, é impossível cravar um número. Mas há alguns cálculos que ajudam a estimar a quantidade de votos que Bolsonaro precisa atingir para se aproximar do seu objetivo de ser eleito em primeiro turno.
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Mais votos que os adversários
A conta mais simples é somar a intenção de votos dos adversários nas atuais pesquisas. Bolsonaro precisaria ter um porcentual superior à intenção de voto dos seus adversários somada.
Pelo Ibope divulgado na segunda-feira (1º), o candidato do PSL tem 31% das intenções de voto e seus adversários, somados, 52%. No Datafolha publicado na terça-feira (2), o resultado é similar: Bolsonaro teve 32% e seus adversários, 54%. Ou seja, por esse método, o capitão da reserva ainda precisa esvaziar – e muito – o eleitorado dos seus concorrentes, além de conquistar o que resta de indecisos.
Votos válidos
Outro cálculo é considerar somente os votos válidos. Os institutos de pesquisa começaram a fazer essa conta. Tanto no Datafolha quanto no Ibope Bolsonaro tem 38% dos votos válidos. Com isso, ele precisaria ganhar 12 pontos percentuais nas pesquisas para ter chances reais de vencer a eleição já no próximo domingo (7).
Essa conta dos institutos não leva em consideração as abstenções. Ou seja, a quantidade de pessoas que por um motivo ou outro não comparecerá para votar. Quanto menor o número de votantes, menor o número absoluto de votos necessário para um candidato vencer ainda no primeiro turno.
Para estimar essa quantidade de votos é preciso descontar do eleitorado total um certo porcentual de abstenções. Chega-se, assim, ao total de votos válidos esperados. Em seguida, desconta-se o porcentual de brancos e nulos para se chegar ao total de votos válidos.
Levando em conta as quatro últimas eleições para presidente, é possível estimar uma abstenção média de 18% e um total de brancos e nulos de 9,27%.
Hoje existem 147,3 milhões de eleitores aptos a votar. Descontando essa estimativa média de abstenções, de 18% do eleitorado total, chegaríamos a um total de 120,8 milhões de eleitores comparecendo para votar.
Se 9,27% deles votarem em branco ou anularem o voto, teríamos um total de 109,6 milhões de votos válidos nas eleições deste ano. Assim, Bolsonaro ou qualquer outro candidato precisaria atingir, aproximadamente, 54,8 milhões de votos para vencer no primeiro turno – o equivalente a pouco mais de 37% do eleitorado total.
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Se o número de não votos e de não comparecimento repetir o que aconteceu em 2014, quando tivemos abstenção de 19,39% e brancos e nulos atingindo 9,64%, qualquer um dos presidenciáveis precisaria de cerca de 53,6 milhões de votos para vencer no primeiro turno – pouco mais de 36% do total de eleitores aptos a votar.
A abstenção de quatro anos atrás, no entanto, foi a mais alta registrada desde 1998, e não é possível afirmar se este ano teremos um porcentual parecido. Por isso, a conta anterior, levando em consideração a média das últimas quatro eleições, é a mais adequada.
Só FHC conseguiu vencer no 1.º turno
As únicas eleições presidenciais do atual período democrático com vitórias em primeiro turno foram as de Fernando Henrique Cardoso (FHC) em 1994 e 1998. Naquelas disputas, o tucano venceu com 44% e 43% dos votos totais, respectivamente. Os votos no tucano corresponderam a respectivamente 36% e 34% do número de eleitores aptos a votar naquelas ocasiões.
A taxa de brancos e nulos nas duas corridas beirou os 20%. O total de abstenções foi de 21,49% em 1998 e de 17,77% em 1994.
O que dizem os diretores dos institutos
Sobre a possibilidade de vitória antecipada de Bolsonaro, Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, diz que é algo “muito improvável”, mas que não pode ser descartado. O diretor afirma que as próximas pesquisas apontarão se Bolsonaro conseguirá atrair eleitores dos demais candidatos.
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Marcia Cavallari, CEO do Ibope, destaca que será preciso um esvaziamento de todos os candidatos, no Brasil inteiro, para Bolsonaro vencer no primeiro turno. “Em um país com essas dimensões, não bastaria um movimento concentrado em uma cidade só, como ocorreu com João Doria em São Paulo em 2016. Em uma capital, a informação corre muito mais rápido e permite movimentos assim”, diz Cavallari.
Os diretores citam a necessidade de tirar votos dos adversários para Bolsonaro vencer já em 7 de outubro porque a taxa de votos brancos e nulos já caiu para 8% no Datafolha e para 12% no Ibope. O percentual de indecisos é ainda menor: 5% em ambos os institutos.
Metodologias das pesquisas citadas
* Pesquisa realizada pelo Ibope nos dias 29 e 30 de setembro com 3.010 entrevistados (Brasil) e divulgada em 1.º de outubro. Contratada por: REDE GLOBO E O ESTADO DE S.PAULO . Registro no TSE: BR-08650/2018. Margem de erro: 2 pontos percentuais. Confiança: 95%.
**Pesquisa realizada pelo Datafolha em 2/out com 3.240 entrevistados (Brasil) e divulfada em 2 de outubro. Contratada por: EMPRESA FOLHA DA MANHA . Registro no TSE: BR-03147/2018. Margem de erro: 2 pontos percentuais. Confiança: 95%
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