Discreta, evangélica e defensora dos direitos das pessoas com surdez, Michelle Bolsonaro é a nova primeira-dama do Brasil. Ela é casada há quase 11 anos com Jair Bolsonaro, presidente eleito neste domingo (28), com quem tem uma filha de oito anos. Acompanhou de longe o marido na corrida ao Planalto, aparecendo publicamente em eventos e atos de campanha somente na reta final. Provavelmente, deve assumir alguma função pública ligada à causa das pessoas com deficiência.
Michelle e Bolsonaro raramente fizeram aparições públicas durante estas eleições. A regra foi quebrada somente na última semana do segundo turno e neste domingo. Ela apareceu ao lado do marido na penúltima propaganda eleitoral e, neste domingo, acompanhou Bolsonaro na votação e, depois, nos discursos após a vitória.
“Sem ela, não teria chegado a esse local. E com ela terei força para prosseguir nessa empreitada de buscar um país melhor”, afirmou Bolsonaro ao fazer uma homenagem a sua mulher, em discurso à imprensa após o resultado da eleição que o elegeu o novo presidente do país com 55,15% dos votos.
Blindagem
Bolsonaro evita envolver Michelle em questões político-partidárias. Na sua biografia, chamada “Mito ou Verdade”, escrita por um de seus filhos, o senador eleito Flavio Bolsonaro (PSL-RJ), não há referências nem fotos de Michelle. Seria uma estratégia para blindá-la, principalmente em período eleitoral em que são comuns ataques e exposição da vida pessoal. Com isso, além de Bolsonaro, somente os filhos mais velhos do presidenciável – Flavio, de 37 anos, Carlos, 35, e Eduardo, 34, todos políticos – participaram diretamente da candidatura do pai.
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As poucas aparições públicas de Michelle ao lado do marido após ele virar candidato foram na convenção do PSL e em uma transmissão ao vivo no Facebook, além na penúltima propaganda eleitoral e no domingo de votação do segundo turno. No primeiro turno, Bolsonaro foi votar sozinho, acompanhado apenas dos filhos e seguranças.
Nem mesmo quando ele esteve internado no Hospital Albert Einstein, depois de ter sofrido uma tentativa de assassinato em um evento de campanha em Juiz de Fora (MG), Michelle apareceu publicamente junto ao companheiro. Ela postou, apenas, uma imagem dele voltando a se alimentar em seu perfil no Instagram. O perfil, porém, é privado. Apesar da discrição, Michelle acompanhou o marido no hospital a maior parte do tempo.
Michelle é apresentada na penúltima propaganda eleitoral
Depois de passar o primeiro turno inteiro sem mostrar sua mulher, Bolsonaro quebrou a regra e mostrou Michelle ao público na penúltima propaganda eleitoral, veiculada na quinta-feira (25), a três dias do segundo turno. O programa foi dedicado às pessoas com deficiência. A esposa de Bolsonaro não tem nenhum tipo de deficiência, mas é defensora dos direitos dos surdos e estuda Libras.
Na propaganda, Michelle é apresentada como um mulher forte e sensível à causa das pessoas com deficiências. A locutora disse que a primeira-dama estará trabalhando junto com Bolsonaro em defesa dos direitos dos surdos e de todos as pessoas que apresentam algum tipo de deficiência. O candidato assinou um termo de compromisso com a comunidade surda.
No vídeo, Michelle conta como se interessou pela causa dos surdos e dá um depoimento sobre a mãe e sobre o próprio Bolsonaro. “O Jair tem um brilho no olhar diferenciado. É um cara humano, que se preocupa com as pessoas. Muito brincalhão, muito natural. Quem conhece, quem convive, sabe que ele é assim. É meu amor”, diz.
Outras aparições públicas recentes
Na convenção do PSL que confirmou o nome de Bolsonaro na disputa ao Planalto, realizada em 22 de julho, Michelle também fez uma das poucas aparições públicas. Ela esteve grande parte do tempo ao lado do marido. Foi uma das raras vezes em que foi fotografada junto ao deputado. Ela sentou ao lado de Bolsonaro na mesa colocada em cima do palco, o acompanhou no púlpito em que ele discursou a apoiadores e, ao final, conversou com deficientes auditivos e convidou-os para tirar foto com o candidato.
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Outra aparição aconteceu em um domingo (14), durante uma transmissão ao vivo feita por Bolsonaro em sua página oficial no Facebook. O capitão da reserva se defendeu da acusação de que teria votado contra um projeto de lei que tratava de pessoas com deficiência. Michelle, usando linguagem de sinais, afirmou: “Eu quero agradecer a comunidade surda pelo apoio ao meu marido Bolsonaro e aos meus amigos surdos, que já há um ano vem pensando, planejando uma proposta para a comunidade surda e também para todas as pessoas com deficiência em geral”. Participaram também da live a intérprete Adriana, professora de Libras da UFRJ, e Priscila, professora de Libras PUC-SP.
Interesse pelos direitos e pela inclusão dos surdos
Em entrevista a um canal no YouTube voltado para a comunidade surda, Michelle contou como despertou o seu interesse pela causa dos surdos e por aprender a língua de sinais. Ela disse que tem um tio surdo e que esse tio lhe ensinou o alfabeto em libras. Mas que foi ao conhecer um casal de surdos na antiga igreja que frequentava no Rio de Janeiro, a Assembleia de Deus Vitória em Cristo, que descobriu o amor pela língua brasileira de sinais. “Quero que todas as pessoas aprendam libras para interagir com as pessoas surdas”, disse Michelle, usando a linguagem de sinais, no vídeo postado em 14 de outubro.
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Atualmente, Michelle frequenta a Igreja Batista da Atitude, na Barra da Tijuca, zona Oeste do Rio de Janeiro. Lá, se envolve com projetos de educação de surdos e mudos.
Silas Malafaia celebrou seu casamento com Bolsonaro
Antes, frequentava a Assembleia de Deus, fundada pelo pastor Silas Malafaia. Foi Malafaia quem celebrou o casamento religioso entre Michelle e Bolsonaro, em março de 2013.
Mais tarde, houve um desentendimento entre o pastor e Bolsonaro por causa do desejo do deputado de trocar de partido (o que acabou se confirmando, com ele saindo do PSC para o PSL). Segundo a Veja, Mafalaia chamou Bolsonaro de “radical” e “desonesto intelectualmente”. Eles, porém, parecem ter resolvido suas desavenças, já que Mafalaia declarou voto em Bolsonaro nestas eleições.
Referências de Bolsonaro a Michelle
Bolsonaro começou a falar indiretamente da sua mulher mais recentemente, para se defender das acusações de que seria machista ou racista. Em um vídeo usado na propaganda eleitoral (antes postado por Flavio Bolsonaro), o candidato conta que tinha decidido não ter mais filhos, mas que mudou de ideia a pedido da mulher. “Ela falou até pela manutenção do casamento, que a realização em grande parte das mulheres é ter filhos”, diz Bolsonaro.
O presidenciável conta, no vídeo, que desfez a vasectomia e teve, com Michelle, a pequena Laura, hoje com oito anos, quem “mudou, sim, muito a minha vida”.
O lado humano do meu pai @jairbolsonaro que muitos não conhecem.
— Flavio Bolsonaro (@FlavioBolsonaro) 17 de setembro de 2018
Ele sempre resistiu em externar isso, mas é o mais puro e verdadeiro sentimento dele, especialmente em relação às mulheres.#BolsonaroPresidente17 #FlavioBolsonaroSenador177#brasil #rj #rio #riodejaneiro #errejota pic.twitter.com/bi37ASJmav
Apesar da referência a Michelle no vídeo, Bolsonaro não a cita nominalmente, nem mostra imagens dela, dentro da estratégia de preservá-la. O vídeo é uma resposta à frase dita por Bolsonaro em 2017: “Eu tenho cinco filhos. Foram quatro homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio uma mulher”.
O candidato também já fez menções ao seu sogro, a quem chama de Paulo Negão. Em entrevista ao programa Pânico no início deste mês, afirmou: “Eu sou apaixonado por uma filha de pau de arara”. E completou: “O meu sogro é o Paulo Negão, de Crateús, no Ceará. A minha filha [Laura] tem sangue de cabra da peste correndo em suas veias”.
Em 26 de setembro, Bolsonaro postou em suas redes sociais um vídeo em que aparece Michelle. Nele, ela faz uma homenagem ao Dia Nacional do Surdo, se comunicando usando a língua de sinais.
“Michelle é minha esposa, sempre se dedicou a aprender com os deficientes auditivos. Aqui ela se apresenta, os parabeniza pela data, diz que ainda estamos no hospital, agradece o carinho e orações e que continuará lutando pela comunidade surda”, escreveu o capitão da reserva. Michelle, porém, aparece sozinha, e não ao lado de Bolsonaro, como na convenção do PSL e na live de 14 de outubro.
Na quinta-feira (25), fez um programa dedicado às pessoas com deficiências e apresentou Michelle como defensora da causa. E, neste domingo (28), dedicou à ela sua vitória.
Como Bolsonaro e Michelle se conheceram
Michelle de Paula Firmo Reinaldo e Jair Messias Bolsonaro se conheceram na Câmara dos Deputados, quando ela foi secretária parlamentar, de 2006 a 2008. Ela trabalhou com os, na época, deputados federais Vanderlei Assis (PP-SP) e Dr. Ubiali (PSB-SP) e na liderança do PP.
Depois, já namorando com Bolsonaro, passou a trabalhar com ele no gabinete, também como secretária parlamentar. A contratação se deu em 18 de setembro de 2007. Dois meses depois, casou-se no papel com Bolsonaro. Em novembro de 2008, foi exonerada pelo deputado, já que o Supremo Tribunal Federal baixou uma súmula proibindo a prática de nepotismo na administração pública, vedando a contratação de parentes até terceiro grau, conforme prevê a Constituição Federal.
Além de Laura, filha mais nova de Bolsonaro, Michelle tem uma menina de 15 anos. Segundo a Folha de São Paulo, chegou a se inscrever no curso de Farmácia, mas nunca cursou. É natural de Ceilândia, cidade satélite de Brasília. Torce para o Flamengo, tem 36 anos, é 27 anos mais jovem que Bolsonaro e tem um irmão mais novo, de 30 anos, integrante do Exército.
Primeira-dama: função protocolar
No Brasil, a primeira-dama tem uma função protocolar. Ela é não obrigada por lei a se envolver em funções públicas, mas, tradicionalmente, ocupa posições ligadas a causas sociais. Quem quebrou essa tradição foi Marisa Letícia, esposa do ex-presidente Lula, que não ocupou nenhuma função social durante os mandatos do marido.
A atual primeira-dama, Marcela Temer, foi nomeada embaixadora voluntária do Programa Criança Feliz, voltado para o desenvolvimento integral da primeira infância.
Michelle, se vier a ocupar alguma função pública, deve trabalhar também com causas sociais, provavelmente das pessoas com deficiência.
*Matéria atualizada no domingo (28), às 21h12, após o resultado da eleição
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