Não bastassem os problemas que vem enfrentando na sua campanha - como dificuldade em escolher vice e a não adesão de outros partidos -, Jair Bolsonaro (PSL) vê escapar apoios que eram dados como seus e de mais ninguém.
A última quinta-feira (ontem) foi especialmente amarga para o capitão reformado nesse quesito. Ele foi abandonado por de um de seus mais próximos aliados no Congresso - o deputado Alberto Fraga (DEM-DF), líder da bancada da bala - e viu ir para o espaço a candidatura do deputado Luis Carlos Heinze (PP-RS) ao governo gaúcho.
Essas “dissidências” exibem as voltas que a política dá. Fraga e Heinze não apenas deixaram de apoiar Bolsonaro. As circunstâncias e o jogo político os jogaram no colo do principal adversário do presidenciável do PSL neste pleito: Geraldo Alckmin, do PSDB. Os dois já iniciaram um duelo pelo segundo turno, como se soubessem que apenas um dos dois têm chances de ir para o pleito final.
Fraga é um parceiro de Bolsonaro de longa data. Sentam próximos no plenário da Câmara, como de resto os outros parlamentares que alinham com seus pensamentos. São os próceres da turma que defende rigor na segurança pública, a favor da redução da maioridade penal e de facilitar o porte de arma para o cidadão. Há uma foto famosa dos dois, fazendo sinais de armas com os dedos apontando para as lentes dos fotógrafos.
O deputado do Democratas está trocando Bolsonaro pela disputa do governo do Distrito Federal, com o apoio do PSDB. Fraga comunicou com antecedência Bolsonaro e disse a ele que infelizmente não estará a seu lado.
Na convenção de seu partido, que contou com a presença de Alckmin, Fraga foi todo elogio ao tucano, com quem fez questão de recepcioná-lo e posar para fotos.
“Meu candidato a presidente da República, Geraldo Alckmin! Aqui em Brasília o senhor vai ter uma trincheira. Vamos levar seu nome a todos os cantos do Distrito Federal” - discursou Fraga, empolgado.
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Sem o palanque de um candidato a governador no Rio Grande do Sul, Bolsonaro sofre outro golpe. Para a senadora Ana Amélia (PP-RS) se tornar vice na chapa de Alckmin, foi preciso sacrifícios do partido no estado. Heinze abriu mão de sua candidatura, ganhou a vaga do PP, no lugar de Ana Amélia, para a disputar do Senado, e vai pedir votos para o presidenciável tucano. Heinze vai compor a chapa de Eduardo Leite, candidato do PSDB ao governo gaúcho.
“Mudanças que a política impõe” - disse Heinze na última quinta, quando deixava o gabinete de Ana Amélia.
Fraga comunicou sua decisão antes a Bolsonaro.
“Ele compreendeu. Sabe que a política tem dessas coisas. E o partido dele aqui (PSL) está também apoiando outro candidato (o general Paulo Chagas, do PRP)” - disse Fraga.
“Mas algumas pessoas vão nos associar e tem gente que votará em mim e o Bolsonaro para presidente. Mas meu candidato, agora, é o Alckmin”.