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| Foto: Raysa Leite/AFP

Desde que o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) sofreu um atentado a faca em Juiz de Fora (MG), na última quinta-feira (6), a Polícia Federal passou a dar prioridade absoluta para esse caso. A ordem do diretor-geral da PF, Rogério Galloro, é para que o crime seja solucionado no menor tempo possível.

Uma grande dúvida é: o autor da facada em Bolsonaro, Adelio Bispo de Oliveira, agiu sozinho? Até agora, há outros dois suspeitos. Um deles foi liberado ainda na sexta-feira, mas continua sendo investigado. A PF afirmou que ele teria incitado a violência. Os quatro advogados que defendem o agressor de Bolsonaro insistem que ele agiu sozinho, mas a linha de investigação da PF ainda trabalha com a possibilidade de outros envolvidos.

Existe ainda a possibilidade de a PF abrir um novo inquérito para investigar a possibilidade de que um terceiro tenha incentivado o agressor a cometer o crime. A ideia de instaurar uma nova investigação, para avaliar a possível interferência de terceiros, visa evitar eventual atraso na apuração principal, que tem como foco o ato praticado por Oliveira.

Diante dos boatos que circulam na internet, a PF estuda, inclusive, a publicação de um comunicado desmentindo informações que não se confirmaram.

Lei de Segurança

Em relação à parte Jurídica, o detido foi autuado por praticar atentado pessoal por inconformismo político, crime previsto no artigo 20 da Lei 7.170/1983, também conhecida como Lei de Segurança Nacional. O artigo prevê pena de reclusão de três a dez anos, sendo passível de dobrar a pena no caso de lesão corporal grave e o triplo se resultar em morte.

Em entrevista publicada nesta segunda (10) na Gazeta do Povo, o principal articulador da campanha do presidenciável, o deputado paranaense Delegado Francischini (PSL), disse que Bolsonaro não estava com colete à prova de balas. “Mas colete não segura facada. A faca passa pelo colete que nem gelatina”, afirmou.

Depoimentos

Após a prisão em flagrante, em depoimento à Polícia Federal, Adelio Bispo disse que tinha motivos políticos e religiosos para praticar o atentado. O acusado afirmou aos agentes que “recebeu uma ordem de Deus” para tirar a vida de Bolsonaro. Ele também disse, segundo o registro de depoimento, que agiu porque se considera de esquerda.

“Informa que o interrogado defende a ideologia de esquerda, enquanto o Candidato Jair Bolsonaro defende ideologia diametralmente oposta, ou seja, de extrema direita; Que se considera um autor da esquerda moderada; Que BOLSONARO defende o extermínio de homossexuais, negros, pobres e índios, situação que discorda radicalmente”, destaca o registro da Justiça Federal de Juiz de Fora.

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“Esse discurso de ódio do candidato foi o que desencadeou a atitude extrema do nosso cliente”, disse Zanone Manoel de Oliveira Júnior, um dos advogados de Adelio Bispo, no dia 7 de setembro.

Também à PF, o detido disse que imaginou que seria morto pela polícia após o atentado. A defesa informou no dia 7 que pediria laudos de sanidade mental do cliente.

Advogados

Pouco após o incidente, os advogados foram contratados para assumirem o caso. Além de Zanone de Oliveira, atuam na defesa os criminalistas Fernando Magalhães, Pedro Filipe Possa, Marcelo Manuel da Costa.

Segundo Zanone Oliveira, eles estão sendo pagos por um homem de Montes Claros, que conhecia Adelio Bispo da igreja: “Essa pessoa conhece a família e o Adelio”. Magalhães e Oliveira foram advogados durante o caso do Goleiro Bruno, condenado por homicídio da namorada. Zanone Oliveira também atuou em outro caso conhecido, o da missionária norte-americana Doroty Sang, assassinada em 2005.

Adelio Bispo de Oliveira: autor da facada em Jair BolsonaroDivulgação/Polícia Federal

Em entrevista ao Fantástico, da Rede Globo, o advogado disse que “[Adelio] sempre deixa claro que agiu sozinho”. Fernando Magalhães completou: “certamente, ele premeditou o crime”.

Delegado Francischini acha a atuação suspeita: “O que mais chama atenção é o seguinte: ele tem quatro advogados particulares, é pobre e preto, preso por tentativa de homicídio. Se achar no Brasil algum outro caso parecido eu desisto de militar na área criminal. Inclusive dois advogados chegaram de avião particular. Tem alguma estrutura financeira preocupada com o que ele vai falar”. Para ele, o acusado não atuou sozinho.

O que foi descoberto?

Natural de Montes Clarinhos (MG), sabe-se que Adelio Bispo viveu em, pelo menos, outras seis cidades: Montes Claros e Uberaba, em Minas Gerais, e Florianópolis, Joinville e Itajaí, em Santa Catarina. Há pouco mais de duas semanas, ele morava na cidade mineira de Juiz de Fora.

Constam processos abertos pelo preso na Justiça Trabalhista. À Gazeta do Povo, um ex-advogado do acusado disse que ele trabalhou no ramo de construção. Ele também já foi garçom.

Na cidade de São José, na Região Metropolitana de Florianópolis, Adelio visitou em julho a mesma escola de tiro frequentada por dois filhos do candidato, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ). Sabe também que ele não teria comprado uma arma por não ter dinheiro, mas afirmou que se sentia perseguido.

Uma das informações que os investigadores já levantaram sobre o histórico de Adélio Oliveira é a de que, nos últimos 15 anos, ele passou por 39 empresas distintas, com salários baixos.

Uma das dúvidas da Polícia Federal é como ele se mantinha em Juiz de Fora, já que ele pagou R$ 400 por um quarto na pensão onde morava. No local, foram descobertos quatro celulares e um notebook.

Transferência e quebra de sigilo

Por questões de segurança, a juíza Patrícia Alencar Teixeira de Carvalho, da 2ª Vara Federal de Juiz de Fora autorizou a transferência de Adelio Bispo de Oliveira para o presídio federal de Campo Grande (MS). A transferência foi imediatamente aceita pelos advogados.

Para averiguar se o acusado teve contato com outras pessoas antes do atentado contra Bolsonaro, a mesma juíza autorizou a quebra do sigilo de dados dos aparelhos encontrados no quarto da pensão, que agora estão sendo avaliados em perícia. Também deve ser feita uma auditoria da movimentação financeira do acusado a partir da quebra de sigilo bancário.

Fabio Motta/Estadão

“Por meio do inquérito, a PF visa identificar todas as possíveis conexões e motivações do crime, além de esclarecer, em toda a sua extensão, as demais circunstâncias vinculadas ao fato criminoso. Para tal, são realizadas diversas diligências policiais como a coleta de depoimentos, a análise de dados financeiros e de outros dados existentes em imagens, mídias, computadores, telefones e documentos apreendidos”, divulgou em nota a Polícia Federal.

Filiação partidária

Adelio Bispo de Oliveira foi filiado ao PSOL em Uberaba (MG) de 2007 a 2014, conforme relação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Ele deixou o partido após ser recusado como candidato a deputado federal. Na lista do PDT de Minas Gerais há ainda o registro de um nome Jose Adelio Bispo de Oliveira, filiado desde 1992.

“Era parte de um partido de esquerda e estava sendo doutrinado a odiar o Bolsonaro. Alguém que podem alegar problema de insanidade. Mas era massa de manobra. Na nossa visão foi escolhido, foi filiado ao PSol, esteve no Congresso Nacional com megafone. Era pessoa escolhida, ninguém imaginava que faria o que fez e permanecesse vivo. Seria um suicídio. Até o advogado dele me disse que imaginava que ele sairia morto”, comentou Francischini.

O caso está sendo conduzido pela Superintendência da PF em Minas, que colhe depoimentos e se debruça sobre o material apreendido. A PF em Brasília fará perícia na faca, analisando as digitais e o DNA do sangue presentes no objeto.

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