Parece que falta muito tempo para as eleições de 2018, mas o prazo da corrida eleitoral está ficando apertado para quem ainda quer ser candidato. Restam quatro meses para aparecer um “salvador da pátria”, aquele candidato outsider que traz o apelo de renovação e poderia conquistar o eleitorado brasileiro. O prazo dado pela lei para filiação e troca de partidos e desincompatibilização de cargos – no caso de juízes, procuradores e presidentes de partidos, por exemplo – acaba em sete de abril do ano que vem. Mas será que esse candidato novo vai surgir?
Ainda há tempo, na opinião de analistas, cientistas políticos e presidentes de partidos ouvidos pela Gazeta do Povo. Murilo Hidalgo, diretor do Instituto Paraná Pesquisas, comenta que hoje, quando os entrevistadores apresentam o disco com os nomes dos presidenciáveis em pesquisas e sondagens de intenções de votos, não há ninguém com esse perfil de “novo”. “Quem é o novo, com densidade eleitoral? Não tem esse novo. A dificuldade é achar o nome, e muitos partidos não buscam porque não têm interesse”, avalia.
O mau posicionamento das principais lideranças tradicionais de partidos causado principalmente pela série de escândalos de 2017 é lembrado por Doacir Quadros, professor de Ciência Política da Uninter. Para ele, a tendência é de que, em 2018, haja um quadro político-eleitoral mais claro entre os possíveis aspirantes. “Parece que, no cenário federal, essa possibilidade de um candidato fora do campo da política é bem mais plausível”, analisa.
Quem quer ser presidente...
A questão é quem quer ser esse salvador da pátria. Entre os outsiders mais comentados, Luciano Huck, o mais “popular”, anunciou que está fora da disputa presidencial após meses sendo citado como candidato. Na avaliação de Hidalgo, a disputa por 2018 está tripolarizada: candidato do PT (provavelmente o ex-presidente Lula), o deputado Jair Bolsonaro e um candidato do Centrão, que poderia ser Huck, caso alguém consiga demovê-lo da desistência.
“O Luciano Huck hoje com certeza teria apelo: é o novo, um empresário bem-sucedido, apresentador de televisão. Ele terá a capacidade de se preparar em tão pouco tempo para se preparar para uma eleição presidencial? Essa é uma pergunta que fica. Se o Luciano Huck quiser ser [candidato], ele precisa estar se preparando”, afirma.
Outro nome que volta e meia surge como uma aposta é o do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa. Para Hidalgo, o momento de ele ser o candidato novo já passou. Quem poderia ser esse político? “Hoje, nas democracias, esse fenômeno passa a ser uma característica normal. Há muita popularidade e visibilidade desses candidatos. E um aspirante a cargo executivo federal precisa ter uma visibilidade positiva na mídia”, pontua Quadros.
... precisa ter um partido
A busca pela renovação também depende dos partidos. “Aparecer um candidato novo, sem ter uma estrutura partidária, fica difícil. Quem poderia lançar o novo? O [presidente Michel] Temer, o PSDB. Esses teriam estrutura política de pegar um novo nome para ser candidato pelo Brasil”, avalia Hidalgo.
Mas, além da aparente falta de interesse dos partidos tradicionais em buscar esse novo candidato, há de se levar em conta o desgaste por que passaram. Essa é a posição de Roberto Freire, deputado federal e presidente nacional do PPS – um dos partidos que conversou com Huck antes de o apresentador desistir oficialmente da corrida presidencial.
“Eu vejo que há um sentimento de mudança, que é algo mundial e vai ter aqui no Brasil também. As instituições, partidos políticos e sindicatos estão sofrendo um processo de esgotamento com tudo que ocorre no mundo do trabalho e da representação política”, pontua. No Brasil, o agravante é o processo de intensa corrupção.
O novo com cara de velho
“Se existe algo que a política tem e é ocupado, é o vácuo. Não vai deixar de ter um candidato novo. Quem é, eu não sei”, afirma Freire. Para ele, um exemplo desse processo é o próprio Luciano Huck, que veio e ocupou um espaço, mas não é candidato.
Mas, por mais irônico que pareça, Freire ressalta que tem muito político tradicional que pode representar esse novo. “Arrisco dizer o [Geraldo] Alckmin. Como governador, tem postura próxima ao de um gestor e é uma figura muito ponderada e isso pode ser importante num Brasil tão movimentado”, pondera.
Ele não é o único a pensar assim. O senador Ciro Nogueira, presidente nacional do PP, também aposta em uma cara velha para a “eleição mais imprevisível da nossa história”. Ele aposta no deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, como um nome que pode unificar esses partidos de centro e virar consenso, especialmente se a economia tiver o crescimento esperado. “Ele se torna o candidato que defendeu as reformas”, pontua.
Nogueira defende a aposta em um político de carreira, mas inexperiente em eleições para o Executivo, numa percepção do comportamento do brasileiro. “Se fosse senador ou deputado, as pessoas arriscariam mais [em um candidato novo]. Mas, para presidente, não”, defende.
Processo de renovação remete a 2013
O desejo de renovação na política remete aos movimentos que começaram em junho de 2013. Dos protestos pela redução de R$ 0,20 na passagem de ônibus, surgiu uma centelha de mobilização popular que levou milhares de brasileiros às ruas para pedir o impeachment de Dilma Rousseff (PT), mas que perdeu força com os escândalos do governo Temer, como a delação da JBS.
Para Freire, as próximas eleições mostrarão mudanças. “Ninguém mais vai ter eleição com polarização como tivemos em 2010 e 2014. Isso, 2016 já ensinou, com a grande derrota do PT. Infelizmente, no Brasil, você tem partidos políticos – grandes e tradicionais – garantindo a sua sobrevivência porque têm tempo de televisão e fundo eleitoral. Se não tivessem isso, esses grandes partidos seriam dizimados, mas ainda assim podem sofrer o que o PT sofreu em 2016: uma grande derrota.”
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