| Foto: Ricardo Stuckert/PT

Partiu do grupo “antilula”, criado no WhatsApp e que chegou a ter quase 800 pessoas em três relações de 256 integrantes ativos na semana passada, a ordem para que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fosse impedido de entrar em Francisco Beltrão (PR) na segunda-feira passada, 26/03. Todos eram coordenados pela consultora de marketing Edna Faust, moradora da cidade no sudoeste do Paraná, a 471 quilômetros de Curitiba.

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Em clima de tensão, a ideia era evitar que o petista fizesse comício na praça principal da cidade, diante da Igreja Nossa Senhora da Glória. “Nós tínhamos gente nossa acompanhando eles por todo lado”, conta Edna, militante há três anos do movimento Vem pra Rua, lembrando dos momentos de mobilização contra Lula. Os grupos arrecadaram dinheiro para financiar os protestos.

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Pelo WhatsApp, os militantes se coordenaram para formar três grupos, com 30 pessoas cada, logo cedo, na segunda-feira. Um deles foi para a praça do bairro Industrial, com caminhão de som; outro, para o aeroporto da cidade, para bloquear uma eventual chegada do petista por lá; e um terceiro se deslocou para a rodovia, em Marmeleiro, a 7 km de Beltrão, onde foram queimados pneus para interromper a rodovia PR-180, que liga a cidade a Pato Branco.

Eram 10 horas quando o juiz Márcio de Lima, de Marmeleiros, foi chamado ao fórum, a 300 metros do local, para, com policiais, desobstruir a passagem dos ônibus e carros da caravana do PT. Replicando práticas da militância petista e do MST, que escoltava Lula na caravana, os “antilula” colocaram fogo em pneus e travaram a rodovia. Bombeiros foram chamados. Burlando isso, porém, parte da caravana já tinha usado um caminho alternativo, pelo Rio Quibebe, com estrada de terra, para entrar em Beltrão.

Preparação

“A pressão, na verdade, começou a crescer já na sexta”, lembra a coordenadora do Vem pra Rua, que mandou colar três outdoors, protestando contra Lula, e um deles foi rasgado. As manifestações contrárias a ele em Bagé (RS) e São Miguel (SC) animaram os paranaenses.

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Enquanto petistas, já sabendo da resistência local, testavam caminhos alternativos para Lula entrar em Beltrão, no sábado, os contrários a ele organizavam nota de repúdio no jornal local assinada também pelo recém-criado núcleo do MBL e por empresários ligados à maçonaria. “Tivemos o apoio de cinco lojas da maçonaria e de outros empresários”, contou Edna Faust.

No domingo, véspera do comício petista, a ideia do grupo “antilula” era levantar na praça principal da cidade um pixuleco de 17 metros, alugado por R$ 1,2 mil para os protestos. Mas petistas que também foram à praça avisaram que não aceitariam o boneco no local. “O pixuleco dói no coração deles”, disse Edna.

Doações

No meio da confusão de domingo, o responsável pelo boneco de Lula com roupas de presidiários não apareceu. “Ele teve problemas e só conseguimos falar com ele na terça-feira”, explica a coordenadora. “Passei a noite de domingo para segunda-feira sem dormir, fazendo cartazes com caixas de sapato e desenhando o pixuleco.” Pelas contas dos opositores de Lula, as manifestações contra ele custaram R$ 9,3 mil, pagos “por doações”. “Tivemos doações de até R$ 10”, diz a consultora de marketing.

Durante a tarde e início da noite, porém, houve enfrentamentos entre os militantes, com intervenção da polícia, que teve de pedir reforços em Cascavel para manter os ânimos. Os petistas, com autorização da prefeitura para ocupar a praça na manhã de segunda, já se manifestavam no lugar, alegando que é público. Na saída da missa de Ramos, início da noite, o clima piorou.

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“A gente tinha combinado com eles que não ia haver encontro de militância. Mas eles trouxeram o MST para a praça”, diz Bruno Savarro, do MBL. Houve correria e brigas. A polícia teve trabalho. Foi a primeira vez que houve confronto de militantes das orientações diferentes na cidade. Ambos os grupos vinham convivendo politicamente em paz. E, assim, a tensão de Beltrão e a rejeição à caravana se espalharam pela região.

Reação

Em Guarapuava (PR), que concentra produtores de maior calibre na plantação de grãos, havia até carreata preparada contra Lula. Mas ele não foi. Se tivesse ido, teria visto um protesto ainda maior do que o que a caravana experimentou em Francisco Beltrão.

“Nós reunimos cerca de 5 mil pessoas, centenas de máquinas e caminhões para protestar contra a presença de um político condenado”, afirmou o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Guarapuava, Rodolfo Botelho. Segundo ele, a rejeição a Lula na região foi deflagrada primeiro pela situação de condenado na Justiça, depois, por declarações do ex-presidente. “O estopim dessa rejeição foi a declaração dele de que os produtores têm dois prazeres, quando faz empréstimo no banco e quando dá calote. O produtor não aceita ser chamado de caloteiro.”