Feito político pelas mãos de Lula, Fernando Haddad   chega à disputa nas urnas atrasado pelo próprio padrinho político.| Foto: Ricardo Stuckert

Fernando Haddad assumiu, enfim, o papel que já lhe era promessa desde meados de maio, pouco depois da prisão do padrinho político. Com a candidatura barrada pela Justiça Eleitoral com base na Lei da Ficha Limpa, Lula se viu obrigado a ceder a vaga de presidenciável do PT ao ex-prefeito de São Paulo. 

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Feito político pelas mãos de Lula, Haddad chega à disputa nas urnas atrasado pelo próprio padrinho. Tem menos de um mês para se fazer conhecido pelo país junto com sua vice, a deputada federal pelo Rio Grande do Sul, Manuela D’Ávila (PCdoB). 

Os ressentimentos mútuos ficam nos bastidores e são ditos apenas a aliados. Lula não teve escolha. Não queria deixar de concorrer por questões pessoais. Temia “sumir” do noticiário e, assim, perder “poder político”. Haddad, por outro lado, é grato ao ex-presidente pelo apoio que lhe deu no caminho até aqui, mas se chateou nos últimos meses com a insistência de se manter candidato até o limite e arriscar a eleição petista. 

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Na cabeça de Lula, esticar a corda não só lhe daria sobrevida pública, como ajudaria na transferência de votos para a chapa real. Sabe-se que ele é o maior líder do partido, o rosto mais conhecido e reconhecido, o maior puxador de votos. Apostando nisso, a ideia foi deixar para fazer a substituição o mais próximo possível do primeiro turno. Mas Haddad passou a discordar no caminho. 

Os dois pensam diferente. Em algumas coisas. Trabalharam juntos por muitos anos. Haddad foi ministro da Educação do ex-presidente por quase toda a gestão do petista, desde julho de 2005 – Lula governou de 2003 a 2011 – e ainda permaneceu no cargo em parte do governo de Dilma Rousseff, até janeiro de 2012. 

Deixou o cargo estimulado justamente por Lula, por um projeto traçado por ele: concorrer à Prefeitura de São Paulo. Após eleger Dilma e manter com o PT a Presidência da República, o líder partidário queria retomar o poder na cidade mais rica do país. Além disso, precisava construir novas lideranças petistas após o abalo provocado pelo mensalão. 

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Nesse período, Lula e Haddad construíram uma relação de confiança e admiração mútuas. O então presidente ficou muito satisfeito com o trabalho à frente do MEC que o então ministro desenvolvia. Apesar de deslizes, como os episódios com o vazamentos de provas do Enem, várias frentes tornaram-se vitrines do governo petista. O ex-presidente o considerava “o menino de ouro”. O afilhado, por sua vez, se admirava com a habilidade política do padrinho. 

Em março de 2011, Lula mandou emissários a um encontro com Haddad para saber se ele topava entrar na disputa à Prefeitura – ao que ele respondeu na hora que estava à disposição. 

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Enfrentou muitas resistências no PT, ao qual é filiado desde 1983. E foi Lula quem o viabilizou, apaziguando os ânimos por sua “timidez”. Lula esteve ao lado de Haddad em muitos dos eventos do PT em campanhas e, por algumas vezes, o socorreu em discursos. O ex-presidente é político nato; Haddad, professor da Universidade de São Paulo, intelectual. 

Haddad nunca foi dado à vida partidária, mas mudou seu estilo este ano, justamente para se aproximar de Lula e deixar de ser intermediado pela presidente do partido, Gleisi Hoffmann, ou pelos defensores do ex-presidente. 

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Advogado de formação, renovou sua carteirinha da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para poder visitar o padrinho político na cela da Polícia Federal quando quisesse, usando como álibi, ainda, o fato de ser coordenador do programa de governo do partido. 

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Embora não sejam amigos, como dizem publicamente, conversam sobre tudo, especialmente economia, o assunto preferido dos dois. E claro, sobre estratégias políticas. Mas não trocam conselhos e confissões pessoais. 

Agora, às vésperas do primeiro turno da eleição mais disputada e incerta desde a redemocratização, padrinho e afilhado voltam a se encontrar. Haddad retoma o papel de “poste” de Lula, já desempenhado na Prefeitura de São Paulo. A dúvida que fica é se, preso, o ex-presidente conseguirá eleger seu candidato.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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