| Foto: NELSON ALMEIDA/AFP

Mesmo derrotado na disputa pela presidência, Fernando Haddad manteve a tradição petista de manter bons números de votos no Nordeste, um reduto do partido desde a primeira vitória de Lula como presidente, em 2002.

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O que mais chama a atenção é a autoridade da vitória do ex-prefeito de São Paulo em muitas cidades nordestinas. Em mais de 100 cidades o candidato figurou com mais de 90% de aprovação da população. Apenas na cidade piauiense de Guaribas, garantiu 97,99% dos votos válidos, o que significa que nesse município o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) fez apenas 59 votos, dos 2.938 registrados na cidade.

A cidade ficou conhecida nacionalmente em 2003, quando foi a escolhida para ser a cidade piloto do programa de governo Bolsa Família, criado pelo governo Lula. A localidade, que atualmente tem pouco mais de 4.500 habitantes, segundo o IBGE, foi escolhida por, na época, deter o pior Índice de Desenvolvimento Humano do país. Depois deste evento, a cidade recebeu também novos recursos para infraestrutura e moradias populares.

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Atualmente, continua com IDH considerado como “baixo”, porém, abandonou a última posição e subiu quase duzentas posições no ranking nacional, segundo o PNDU - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

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A renda média do guaribano é de dois salários mínimos, e mais de 90% da população depende do programa governamental para complementar a renda. A economia local é basicamente agrícola, e mesmo quem tem outra ocupação, busca na agricultura familiar uma forma de vencer as dificuldades.

Em todo o Piauí, 35 das 224 cidades do estado apresentaram percentuais de mais de 90% de preferência por Haddad. O alto número de famílias beneficiárias de programas do governo claramente fazem com que a população veja com bons olhos a administração petista.

Ainda hoje, no Estado, mais de 450 mil famílias são atendidas pelo programa Bolsa Família, sendo que a população total é de pouco mais de 3,1 milhões de habitantes. Essa aprovação também rendeu frutos ao governador reeleito Welington Dias (PT), que vai para o quarto mandato no Estado.

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Desempenho em todo nordeste

Os bons números foram seguidos pelos demais estados nordestinos. No Ceará, Haddad obteve mais de 90% dos votos em sete cidades, sendo a votação mais expressiva em Aiuaba, onde recebeu 7 mil votos, contra 654 de Bolsonaro. No estado, o presidente eleito também não venceu em nenhuma cidade:o petista ficou com 71,11% dos votos válidos. O pior desempenho petista foi na capital Fortaleza, com 55,61% dos votos válidos.

Outro Estado com boa votação em Fenando Haddad foi a Bahia, com 72,69% de votos a favor do petista. Em 18 cidades ele alcançou mais de 90% da preferência. A maior proporção de votos foi no município de Jussara, com 93,11% dos votos válidos. Contudo, em quatro cidades, Bolsonaro conseguiu quebrar a preferência petista: nos municípios de Luís Eduardo Magalhães, Itapetinga, Buerarema e Teixeira de Freitas, as três últimas na região sul do estado.

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Em Pernambuco, Haddad ficou com 66,5% dos votos e fez mais de 90% em 14 municípios. Na capital, Recife, não teve um desempenho tão expressivo como no interior, porém, mesmo assim venceu com 52,5% dos votos. A cidade que mais votou no professor foi Carnaubeira da Penha, onde ele recebeu 95,23% dos votos validos. Em números de votos, ele recebeu 7.402 votos, dos 7.773 votos registrados no município. As únicas cidades pernambucanas que não escolheram Haddad foram Santa Cruz do Capibaribe e Fernando de Noronha, locais em que Bolsonaro fez 53,83% e 51,14%, respectivamente.

No Maranhão, o petista só não teve votação melhor que a do Piauí. Com 73,26% dos votos válidos e com preferência de mais de 90% em 12 cidades, Haddad só perdeu em 3 municípios e por diferenças mínimas. A cidade maranhense que mais acreditou em um governo federal do PT foi Belágua, onde 93,66% da população escolheu o professor.

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Embora em Sergipe não tenha alcançado os 90% dos votos em nenhuma cidade, Haddad venceu em todos os 75 municípios, com destaque para o município de Gararu, local em que fez 87,03% dos votos válidos. Em todo o Estado, recebeu 67,54% da preferência dos sergipanos.

Dificuldade nas capitais

Em três Estados do Nordeste, embora Fernando Haddad tenha vencido Jair Bolsonaro, acabou enfrentando resistência nas capitais. O presidente eleito levou a melhor em João Pessoa, na Paraíba, Natal, no Rio Grande do Norte e Maceió, em Alagoas.

Na Paraíba, Haddad teve mais de 90% dos votos em 12 cidades e, no Estado, terminou com 64,98% dos votos válidos. Mesmo assim, não conseguiu ter o mesmo bom em outras duas cidades, além da capital. Em João Pessoa, o petista alcançou apenas 45,2% dos votos.

Vista de Natal, no Rio Grande do Norte. 

O cenário foi parecido no Rio Grande do Norte, onde o derrotado nas eleições presidenciais perdeu em Natal, em Parnamirim e em Carnaúba dos Dantas. Na capital, ficou com 47,02% dos votos válidos. Porém, mesmo sem agradar no maior centro urbano, recebeu mais de 90% dos votos em outras quatro cidades do interior.

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Em Alagoas foi onde o candidato do PT teve a menor votação. Mesmo conseguindo mais de 90% da preferência dos eleitores de 5 municípios, não teve a mesma confiança dos outros estados da região. Venceu Bolsonaro com 59,92% dos votos válidos no Estado, mas acabou derrotado na capital, Maceió, onde Bolsonaro conseguiu sua maior proporção de votos, 61,63% dos votos válidos, e também em outras sete cidades.

Região Norte

A única cidade que apresentou votação acima de 90% para o candidato derrotado Fernando Haddad e que não estava na região nordeste, reduto petista, foi Barreirinha, no estado do Amazonas. Lá o candidato do PT abocanhou 91,81% dos votos válidos, ou seja, dos 12.647 votos registrados no município, 11.611 foram para ele.

A cidade fica na região leste do Estado e faz divisa com o Pará. Com pouco mais de 31 mil moradores segundo o IBGE, assim como Guariba, no Piauí, tem IDH considerado baixo pelo PNUD. Contudo, tem a melhor taxa de escolarização do Estado, com cerca de 97,5% dos cidadãos de 6 a 14 anos na escola.

Na economia, tem como principal atividade o setor de serviços, principalmente na rede hoteleira, que recebe muito turistas para acompanhar suas festividades populares e para banhar-se nas águas claras e calmas do rio Andirá.