Um dos idealizadores do Plano Real, o economista e ex-presidente do Banco Central (BC) Gustavo Franco abandonou recentemente o ninho tucano depois de 28 anos como membro do PSDB. Insatisfeito com os rumos do partido e os “erros” de seus líderes, voou para os braços da nova direita brasileira – que não tem vergonha de dizer que é liberal e de defender, entre outras propostas, as privatizações e a redução do tamanho do Estado.
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Gustavo Franco filiou-se ao Partido Novo em setembro. E virou, ao lado do técnico de vôlei Bernardinho, garoto-propaganda do candidato a presidente pela sigla, João Amoêdo.
O ex-presidente do BC, contudo, não vai ter apenas a função de ser um nome mais conhecido que vai pedir votos para Amoêdo. O economista será o responsável pela elaboração do plano de governo que o candidato do Novo vai apresentar na eleição de 2018.
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Liberalismo na veia: sem medo de privatizar
Desde já, não há muita dúvida de quais serão as linhas gerais do programa de gestão do Novo: liberal. Essa é a posição ideológica do partido. E também de Gustavo Franco. “Nos últimos anos, os horizontes se ampliaram extraordinariamente para as ideias pró-mercado e para novas abordagens sobre o desenvolvimento tendo como base o indivíduo, o progresso pessoal e a liberdade para empreender”, disse o ex-presidente do Banco Central quando saiu do PSDB e anunciou a filiação no Novo.
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Gustavo Franco tem se manifestado com frequência sobre os rumos da economia do país e o que acha que precisa ser mudado. Diante do rombo bilionário das contas federais, ele defende a venda de estatais para usar o dinheiro para abater a dívida pública.
“Olhando a lista de empresas estatais, não me convenço que ali necessariamente tenha de ter todas aquelas empresas. Também não é o caso de vender todas no dia seguinte. Muitas têm de fechar, pois o contribuinte brasileiro não tem que sustentar essas iniciativas”, afirmou ele no último dia 18 de novembro.
Franco tem dito que a atuação de empresas como a Petrobras, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica precisa ser “repensada”. No caso da venda da estatal de petróleo, ele afirma que esse assunto não é uma espécie de tabu religioso, que não pode ser discutido.
Ele diz também que o BB está pronto para ser vendido – mas defende a ideia de que os maiores bancos do país não possam comprá-lo, o que evitaria a concentração do mercado.
Franco defende ainda que a Caixa abra seu capital para melhorar sua governança, pois a gestão do banco passaria a ser compartilhada com sócios privados. E que também deixe de tocar projetos do governo, como os de habitação – área cujos recursos deveriam estar contemplados no orçamento da União.
Ele propõe que o FGTS deixede ser administrado pela Caixa, seja fundido ao FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e seja transformado em um fundo de pensão que complementaria a aposentadoria do INSS.
E mais política liberal: cortes no funcionalismo e reformas mais “contundentes”
O ex-presidente do BC afirma ainda que, para cobrir o bilionário rombo das contas públicas, o país precisa que o tamanho do Estado encolha. E, para isso, é necessário “diminuir o quadro e remuneração” do funcionalismo – o que só poderia ser feito de duas maneiras: cortando salários ou demitindo servidores e terceirizados. “Tão simples como isso e tão complicado como isso”, disse ele recentemente.
Franco também tem afirmado que, mesmo que a reforma da Previdência proposta pelo governo Temer seja aprovada, em breve outra terá de ser feita. E que também será preciso fazer o mesmo com as leis trabalhistas. Segundo ele, os projetos do governo foram menos “contundentes” do que deveriam ter sido.
O economista ainda defende uma maior abertura comercial do Brasil ao mundo.
O maior fracasso de Gustavo Franco: quando ele não foi liberal
Gustavo Franco tem 61 anos. Formou-se em Economia na PUC-RJ e tem doutorado pela prestigiada Universidade de Harvard (EUA).
Teve cargos de destaque na equipe econômica entre 1993 e 1999, nos governos de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Foi um dos idealizadores do Plano Real, que em 1994 conseguiu acabar com a hiperinflação de 47% ao mês.
O economista ocupou ainda, por duas vezes a presidência do Banco Central: uma de forma interina (de dezembro de 1994 a janeiro de 1995) e como titular da cadeira (1997-1999). Deixou o BC em meio a uma grave crise cambial pela qual o país passou.
Franco, aliás, é tido como um dos responsáveis pela política de combate à inflação, no início do Real, por meio do controle cambial pelo BC – algo que não faz parte da cartilha liberal que hoje ele defende, por implicar o controle estatal da economia (hoje o país adota a política de câmbio definido pelo mercado).
Para manter o dólar baixo e não aumentar os preços dos produtos importados ou que tinham valor fixado por cotação internacional, era preciso que a taxa de juros fosse alta para atrair a entrada de dinheiro externo no país. Isso, por sua vez, amarrava o crescimento do Brasil.
A estrutura montada por Gustavo Franco, porém, veio abaixo após as crises asiática (1997) e russa (1998), quando o Brasil passou a ter dificuldade de captar dólares no exterior e passou a conviver com a fuga de moeda estrangeira. Gustavo Franco demitiu-se do BC em meio a essa crise – o período mais difícil de sua trajetória profissional e, para muitos, o seu maior erro.
Apesar desse insucesso, desde então ele tem sido um requisitado economista privado. É um dos sócios da Rio Bravo Investimentos.
Durante todo esse período, Gustavo Franco esteve filiado ao PSDB. Saiu neste ano quando o partido decidiu manter o apoio ao governo de Michel Temer, mesmo após as denúncias de corrupção contra o presidente.
De economista renomado a protagonista de filme
Gustavo Franco também é o protagonista do filme nacional Real: o plano por trás da história – que estreou em maio deste ano e que conta como foi o processo de controle da hiperinflação no país. No filme, o ex-presidente do BC é vivido pelo ator Emílio Orciollo Neto.
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