Aparentemente imune à Lava Jato e com o recall de um terceiro lugar na disputa presidencial de 2014, a pré-candidata à Presidência pela Rede Sustentabilidade, Marina Silva, ainda não decolou nas pesquisas de intenção de voto para as eleições deste ano e enfrenta dificuldades para se tornar competitiva.
No último levantamento realizado pelo Instituto MDA, encomendado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), a ex-senadora aparece com 7,8% das intenções de voto em um cenário em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disputa o pleito. Sem Lula, as intenções de voto dela variam entre 12,8% e 13,9% sem o petista no páreo.
A pesquisa mostra que Marina pode ir ao segundo turno com o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL). Mas, segundo analistas ouvidos pela Gazeta do Povo, vai precisar de mais fôlego para convencer o eleitor. Um dos desafios de Marina é a costura de acordos que garantam uma coligação mais robusta para a disputa. Atualmente, a Rede tem apenas três representantes no Congresso Nacional – o que implica em poucos recursos e tempo escasso de TV para a campanha.
Criado em 2015, o partido de Marina Silva ainda não decolou. Recentemente, teve duas baixas importantes. Os deputados federais Aliel Machado (PR) e Alessandro Molon (RJ) trocaram a Rede pelo PSB. “A Marina tem o recall, sem dúvida. Mas é só a pessoa física da Marina, porque o partido perdeu forças e está muito difícil fazer alianças”, analisa o cientista político Antônio Flávio Testa. Para ele, a dificuldade de Marina em costurar acordos e negociar com outros políticos pode atrapalhar os planos da pré-candidata.
Para o cientista Marcio Coimbra, Marina Silva pode herdar parte dos votos de Lula, que possivelmente será declarado inelegível e não vai poder disputar a Presidência. Isso porque ela tem uma trajetória parecida com a do petista, no sentido de ter sido uma pessoa pobre que chegou à política.
“O único candidato de esquerda que traz isso é a Marina”, diz Coimbra. Para ele, também pode contribuir para um bom desempenho de Marina nas urnas a aproximação com o empresariado, banqueiros, e a penetração no eleitorado evangélico. “Se você juntar tudo isso numa conjuntura favorável, a Marina faz 20 milhões de votos, 20% do eleitorado”, aposta o cientista político.
Para Coimbra, o tamanho do partido de Marina não deve ter tanta influência nas eleições. “A Marina tem uma força dela mesma capaz de empurrá-la ao segundo turno”, diz. Para ele, a ex-senadora pode acabar sendo um “mal menor” para uma fatia significativa do eleitorado, já que a pré-candidata deve se posicionar na centro-esquerda. Nesse caso, Coimbra prevê que Bolsonaro – hoje líder nas pesquisas sem Lula no cenário – não teria chances em um eventual segundo turno. “O segundo turno pode ser uma luta do bem contra o mal. A Marina está sendo subestimada por todo mundo”, alerta.
“Ela tem muito carisma, mas tudo que ela propõe hoje não interessa para a população ”
Para Testa, falta para Marina um discurso mais alinhado com a agenda eleitoral que deve ser prioridade nessa eleição. “Ela tem muito carisma, mas tudo que ela propõe hoje não interessa para a população ”, explica. Para o cientista político, falta no discurso da ex-senadora abordar temas como segurança pública, economia, geração de empregos. “Todo aquele o discurso do meio ambiente, da preservação, é muito importante ainda, mas não está na agenda”, diz.
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Nesse quesito, Bolsonaro está um passo à frente da candidata da Rede, já que seu discurso é fortemente centrado na questão da segurança pública. Com a intervenção federal no Rio de Janeiro e o caos na área de segurança em diversos estados, o assunto deve ser tema central no debate eleitoral.
Desafios
Para Testa, Marina tem um desafio muito grande para conquistar o eleitor. Ele ressalta que a pré-candidata segue estável nas pesquisas de intenção de voto, sem apresentar crescimento. “A Marina perdeu o timing”, aposta.
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Já Coimbra acredita que, se chegar ao segundo turno contra Bolsonaro, as chances de Marina vencer a disputa não são pequenas. “O maior desafio dela é herdar os votos do Lula. Se ela conseguir vender a narrativa de que ela é herdeira do mito da mobilidade social, da pessoa que veio de baixo e venceu, ela pode conseguir os votos que joguem ela no segundo turno”, opina.
Metodologia da pesquisa eleitoral citada na reportagem
A pesquisa CNT/MDA ouviu 2.002 pessoas, em 137 municípios de 25 Unidades Federativas, das cinco regiões do País. A margem de erro é de 2,2 pontos porcentuais. A pesquisa foi feita entre 28 de fevereiro a 3 de março e foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número BR-06600/2018.
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