O começo conturbado da caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelo Sul do Brasil reforça a ideia de que a região é um reduto “anti-PT” no país. A visita do petista foi alvo de protestos em todas as cidades por onde passou até agora no Rio Grande do Sul. O PT chegou, inclusive, a fazer um pedido formal aos governos federal e estadual do Rio Grande do Sul para um reforço na segurança de Lula.
Lula foi alvo de protestos em Bagé, Santana do Livramento, Santa Maria, São Vicente do Sul e São Borja. Manifestantes contrários ao ex-presidente programaram atos nos locais por onde a caravana passou. Em nota, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou que o direito de ir e vir e a integridade física de Lula, da ex-presidente Dilma Rousseff e demais petistas está sendo colocado à prova por causa dos protestos, que Gleisi chamou de “fascistas”.
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“Nós não podemos admitir que milícias de direita com práticas fascistas que utilizam armamento, soco inglês, pedras, vão para cima dos manifestantes, e queiram impedir o direito de ir e vir dos presidentes, prevaleçam”, diz a senadora em um trecho da nota.
“O que estamos dizendo é que a divergência política e as divergências de ordem de disputa eleitoral estão na normalidade democrática. O que não está na normalidade democrática é o uso de violência e o uso de grupos armados para impedir alguém de se manifestar. Nossa Constituição assegura o direito de ir e vir e assegura manifestações democráticas. É isso que queremos que o Estado brasileiro garanta”, finalizou.
O ônibus de Lula vem sendo escoltado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em sua passagem pelo Rio Grande do Sul. Oitenta militantes do movimento acompanham em um ônibus a comitiva do petista.
Manifestações
Em Bagé, primeiro ponto de parada da caravana, Lula foi obrigado a fazer alterações em seu roteiro ao ser recepcionado com protestos de ruralistas e simpatizantes do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). Os manifestantes usaram caminhões e tratores para bloquear o acesso da comitiva de Lula à Unipampa, a Universidade Federal dos Pampas.
“Confesso que saio triste daqui. Porque não vi empresário ofendendo a gente. O que vi aqui foi pobres e trabalhadores, que, às vezes, estão até desempregados ganhando alguma coisa para ofender a gente”, discursou Lula, na segunda-feira (19), durante sua passagem pela cidade.
Em Santana do Livramento, segunda parada do ex-presidente, Lula levou um puxão de orelha do ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica. “As mudanças não podem se respaldar em uma figura só”, afirmou o ex-presidente uruguaio. Mujica também disse que figuras da esquerda também cometem erros, em tom que soou como crítica a Lula.
Na terça-feira (20), uma briga entre manifestantes pró e anti-Lula marcou a chegada do ex-presidente à Universidade Federal de Santa Maria. Ao chegarem à universidade em menor número, pessoas que protestavam contra o petista foram expulsos do câmpus por apoiadores de Lula, mas voltaram ao local pelo acesso lateral. A tensão cresceu quando os grupos ficaram frente a frente. Quase não havia policiamento nessa hora e houve agressões, porém sem ferimentos graves. A situação só foi controlada com a chegada da cavalaria da Brigada Militar e com a ação de alguns líderes dos dois movimentos, que tentavam apaziguar os ânimos.
Na manhã desta quarta-feira (21), Lula foi novamente esperado por manifestantes em mais uma parada da caravana. Um grupo de manifestantes ficou postado no Instituto Federal Farroupilha, na cidade de São Vicente do Sul. Além dos ruralistas estacionados diante do portão, alunos da instituição se preparam para protestar dentro do câmpus por onde Lula passou.
No auditório da instituição de ensino, lotado de estudantes e professores, Lula disse que Deus há de iluminar as pessoas que carregam ódio no coração. “Não pensem que fico nervoso com essa gente gritando, não. Preconceito sempre existiu. Mas o que essa gente tem não é preconceito. É ódio”, disse.
À tarde, manifestantes estacionaram tratores nos dois acessos principais da cidade de São Borja, terra natal dos ex-presidentes Getúlio Vargas e João Goulart. A comitiva precisou passar por dois assentamentos, em uma estrada de terra, para pode entrar na cidade. Mesmo assim, uma visita à Casa Memorial João Goulart foi cancelada.
Ao discursar diante do mausoléu de Getúlio, Lula disse que vinha em missão de paz. Ele agradeceu a generosidade dos militantes que não entraram em guerra e o ouviam. “Somente quem poderia proibir a gente de vir aqui não era o governo federal, não era a Polícia Federal. Quem poderia proibir a gente de vir aqui era o povo de São Borja e vocês estão aqui”, discursou.
Reduto anti-PT
A Região Sul, escolhida para a quarta etapa da caravana, é onde o ex-presidente tem menos apoio. Segundo pesquisa Datafolha feita no fim de janeiro, 23% dos eleitores da região manifestaram intenção de votar no petista, contra 41% no Norte e 56% no Nordeste, por exemplo.
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Conscientes do grau de hostilidade ao partido na região, petistas chegaram a questionar a oportunidade da passagem pelo Sul, mas Lula insistiu em ir. O plano inicial é de, durante dez dias, Lula percorrer os três estados da região, totalizando 2,7 mil quilômetros.
Lula ainda vai passar por cidades de Santa Catarina e do Paraná. O ato final da caravana está previsto para às 17 horas da próxima quarta-feira (28), em Curitiba. A capital paranaense é onde atuam membros da força-tarefa da Lava Jato, responsáveis por três dos processos contra Lula espalhados pelo Brasil.
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