A expressiva votação do decreto presidencial de intervenção federal no Rio de Janeiro – aprovado tanto na Câmara (340 votos) quanto no Senado (55 votos) – demonstra que tal medida, politicamente, não é mau negócio. E essa variante teve grande peso na decisão de cada um dos parlamentares. Ficar contra algo que tem apelo popular, em ano eleitoral, não é aconselhável. E o principal beneficiado pode ser sim o presidente Michel Temer.
Em entrevista à Rádio Bandeirantes nesta sexta-feira (23), Temer classificou a intervenção como uma "jogada de mestre". Palavras pouca adequadas para esse tipo de situação, mas, de fato, ele pode se beneficiar diretamente dessa jogada. Os aliados comemoram, a oposição reclama e analistas acham muito cedo ainda.
Com praticamente traço nas pesquisas eleitorais, Temer já tem um feito: passou de nada a presidenciável no tempo mais recorde da história. Com um único “tiro” – a intervenção no Rio –, ele pode ter se viabilizado e ainda ferido o competitivo Jair Bolsonaro (PSC) ao tomar para si a pauta da segurança. Na mesma tacada, o presidente e seu grupo enterraram de vez a nada popular reforma da Previdência. E também podem ter aniquilado candidaturas que orbitam no Planalto, como a do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM).
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Mas Michel Temer já pode ser considerado um presidenciável? A ação no Rio pode não ser o único trunfo para torná-lo candidato. Analistas econômicos veem indicadores que o viabilizam eleitoralmente. No mundo econômico, uma candidatura Temer é vista com bons olhos.
“Não vejo como delírio. Ele pode ter na época da eleição um trunfo que não está sendo levado em conta de maneira adequada atualmente. As projeções econômicas dão conta de que no terceiro trimestre deste ano a economia vai estar crescendo entre 3,5% e 4%", avalia Simão Silber, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP.
"Ele pode ser um candidato, olhando pelo prisma econômico, pois fez coisas extremamente importantes, apesar da reforma da Previdência não ter saído, como a inflação baixa, os juros baixos, o desemprego diminuindo, a economia se recuperando, o crédito para a pessoa física aumentando e a construção civil em retomada. Esse conjunto de indicadores econômicos pode ser um cabo eleitoral importante para o presidente”, explica Silber, que acredita que o lado frágil de Temer não está na economia, mas na política mesmo.
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“O encontro com Joesley [Batista, dono da JBS] no Palácio da Alvorada foi uma barbeiragem política. Esse é o grande contrapeso: a corrupção, o envolvimento de parte importante da equipe dele com escândalos. Esse seria o pé de barro de Temer”, avalia o economista.
No mercado financeiro, há quem acredite que Temer não quer tentar se viabilizar candidato, mas sim terminar seu mandato. O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, avalia que o governo Temer “morreu” com o fim da possibilidade de reformas, e que ele precisa buscar meios de se manter relevante, o que o levou a lançar a intervenção federal. “Além de uma ótima desculpa para enterrar de vez as reformas que o Congresso não quis aprovar”, avalia.
A turma da política se divide de acordo com o lado. O eterno governista Carlos Marun, ministro da Secretaria de Governo, que dava todas as garantias que o governo teria voto para aprovar a PEC da Previdência, agora diz que a intervenção no Rio vai sim pesar a favor de Temer. "A ação no Rio será sim fator determinante nas próximas eleiçõe", disse.
Um dos vice-líderes do governo, o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS) defende que Temer seja candidato a presidente e aposta que a intervenção no Rio vai ajudar na sua imagem. "É lógico que a intervenção vai melhorar a popularidade dele. Mostrou que teve a firmeza que nenhum outro presidente teve. Por mim, ele será candidato. Mas ele diz que não. Esse tipo de conversa com o Michel não dura 30 segundos", disse.
O PT se assustou com o advento "Temer candidato". Como com essa ninguém contava, a ordem foi bater. "É um governo falido, derrotado, rejeitado por 97% da população. Em vez de anunciar intervenção deveria ter anunciado que iria desistir da reforma da Previdência por não ter votos. É um gesto politiqueiro. Essa é uma intervenção de interesse eleitoral", disse o líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS).
“De jeito nenhum”
O desempenho eleitoral de Michel Temer até antes da intervenção no Rio é pífio. Levantamento da empresa #Pesquisa365, de dez dias atrás, aferiu péssimo desempenho do presidente. Do total de entrevistados, 77,6% responderam não votar nele "de jeito nenhum"; outros 14,9% responderam que "provavelmente não votariam nele". Sua taxa de sucesso é baixíssima: 0,5% responderam votar em Temer "com certeza"; 1,3% "provavelmente votariam" nele; e 3,8% "poderia votar" no atual presidente. Ao todo, 5,6% do eleitoral admitem votar no emedebista.
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Mesmo que não seja candidato, Temer tem conseguido melhorar a dinâmica com o Congresso, o que pode render bons resultados, avalia o analista de investimentos Ricardo Schweitzer.
“A dinâmica no Legislativo que surge a partir da intervenção no Rio pode ajudar Temer a fazer avançar outras medidas pró mercado. A intervenção serviu como cortina de fumaça, trouxe um pretexto formal para a não realização de uma reforma que já se tinha certeza que não ia acontecer, e deu um fôlego para o governo dar maior atenção a outras medidas do ponto de vista econômico que são bem-vindas. Sendo otimista, podemos imaginar que talvez ao final de tudo, dependendo do cálculo político, se por ventura o Temer sair favorecido disso, temos uma chance maior até de uma reforma da Previdência ocorrer lá na frente”, disse.
Na mesma entrevista à Rádio Bandeirantes, Michel Temer foi taxativo ao ser perguntado sobre a candidatura: “Em política, as circunstâncias é que ditam a conduta. E as atuais mostram que não sou candidato. Eu não serei candidato”. Isso, só o tempo dirá.
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