Em evento de apoio à candidatura de Fernando Haddad (PT), o senador eleito Cid Gomes (PDT-CE) fez duras críticas ao PT. Ele engrossou o coro de líderes partidários que criticam a “atitude hegemônica” dos petistas, que hoje dificulta, na visão desses representantes, reaproximações e a formação de uma “frente democrática” em torno do nome do ex-prefeito de São Paulo.
Convidado a discursar, o irmão de Ciro Gomes (PDT), terceiro colocado na disputa presidencial deste ano, cobrou da direção da legenda que faça um “mea culpa” dos erros que cometeu. “Tem de fazer um mea culpa, pedir desculpa, ter humildade e reconhecer que fizeram muita besteira”, disse. “Não admitir os erros que cometeram é para perder a eleição. E é bem feito”, ressaltou.
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As declarações foram feitas na noite de segunda-feira (15), em Fortaleza (CE), durante evento promovido pelo governador petista Camilo Santana.
PT merece perder se não fizer autocrítica, diz Cid Gomes
Sob vaias de militantes petistas, Cid chamou de “babacas” aqueles que protestavam contra seu discurso e disse que o partido “merece perder” caso não faça uma autocrítica.“Vão perder feio porque fizeram muita besteira, aparelharam as repartições públicas e acharam que eram donos de um país. E o Brasil não aceita ter donos.”
Partido criou Bolsonaro, completa
O senador eleito elogiou Haddad, a quem se referiu como “boa pessoa”, mas acusou o partido de ter criado o candidato do PSL, Jair Bolsonaro. “Foram essas figuras que acham que são donas da verdade, que acham que podem fazer tudo”, criticou.
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Como reação, a plateia petista gritou o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que foi também mal recebido pelo pedetista, que lembrou que ele está preso. “Lula o quê? Ele está preso, babaca. Lula vai fazer o quê? Babaca, babaca. Isso é o PT e o PT desse jeito merece perder”, afirmou.
Apoio distante de Ciro não era o que o PT esperava
Ciro não pretende reafirmar apoio à candidatura de Haddad. Em conversas reservadas, ele tem dito que já fez o aceno que deveria ter feito e que continuará se posicionado nas redes sociais apenas contra Bolsonaro, mas sem mencionar o petista. O seu partido, o PDT, manifestou apoio crítico ao PT.
A expectativa é de que Ciro volte no final desta semana ao Brasil, após viagem à Itália. A ideia é de que até o dia 28 ele permaneça no Ceará. Para evitar ofensivas dos petistas, ele foi aconselhado a viajar para uma praia longe de Fortaleza.
Postura “hegemônica” do PT afasta aliados
A postura “hegemônica” do PT, após vencer quatro disputas presidenciais seguidas, é o que afasta os aliados, dizem ex-aliados e adversários do partido. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, no último domingo (14), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) deixou claro que a postura do PT é um entrave para seu apoio a Haddad. “O PT no poder sempre teve uma deterioração da visão do (Antonio) Gramsci da hegemonia. Aqui não é cultural, é hegemonia do comando efetivo. Quando você vê o que foi dito a respeito do meu governo, nada é bom”, disse.
FHC não é o único. Carlos Lupi, presidente do PDT, explicou por que a sigla e Ciro Gomes não entraram de cabeça na campanha petista. “É um acúmulo dessa coisa de hegemonia. Me diga uma unidade da Federação em que eles nos apoiaram. Para o PT, a gente só é bom quando os apoia”. Segundo Lupi, no dia 29, logo depois do segundo turno, o PDT vai lançar a candidatura de Ciro para a eleição presidencial de 2022.
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O PT também procurou a Rede de Marina Silva, por meio de ex-petistas. As tratativas pararam quando a Executiva Nacional do partido decidiu não apoiar o petista ao estabelecer apenas o veto a Bolsonaro. Questionado sobre as razões para não apoiar Haddad, Bazileu Margarido, membro da Executiva Nacional da Rede, criticou o que chamou de “erros” do PT, como as alianças com “o que há de pior na política”.
Durante o debate do primeiro turno no SBT, Marina lembrou que, mesmo depois de o senador Renan Calheiros (MDB-AL) apoiar o impeachment de Dilma Rousseff, Haddad foi pedir “bênção” a ele. A maior parte do Congresso que eles chamam de conservador foi eleito na coligação do PT, disse Bazileu. “O PT, mais do que ninguém, preferiu priorizar sua hegemonia no campo das esquerdas do que construir uma alternativa que pudesse fazer frente a essa alternativa conservadora”, criticou.
Apesar da decisão da Executiva, a candidata derrotada da Rede ainda não definiu seu voto. Filiada ao PT por quase 30 anos, Marina sofreu duros ataques do partido na eleição presidencial de 2014 e costuma dizer que PT e MDB são irmãos siameses.