Diante de uma plateia de cerca de mil apoiadores, majoritariamente da área da cultura, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu na noite desta terça-feira (16/1), no Rio de Janeiro, que a Justiça Federal em Porto Alegre fez “leitura dinâmica” da sentença do juiz Sérgio Moro, que o condenou no processo do tríplex do Guarujá (SP). Lula também fez uma série de críticas sobre o papel da imprensa na cobertura política atual e o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ).
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“Depois que eles extirparam os ‘tumores’ que eram eu e Dilma eles não pensaram que ia surgir uma coisa como o Bolsonaro”, disse. E aproveitou para comentar reportagens que levantam suspeitas sobre a evolução patrimonial do parlamentar e o uso de sua verba de gabinete na Câmara. “O Bolsonaro vai agora comer o pão que o diabo amassou. A mídia vai fazer com ele o que tentou fazer comigo durante anos sem encontrar nada”, disse.
‘Querem transformar o Brasil no Caldeirão do Huck’
O petista afirmou ainda que seus opositores “querem transformar o Brasil no Caldeirão do Huck”, numa referência ao apresentador da TV Globo Luciano Huck, aventado como possível candidato à Presidência, embora já tenha negado a possibilidade.
‘Juízes com o comportamento do Moro deveriam ser exonerados’
“Não posso falar dos juízes de Porto Alegre, não conheço. Mas acho estranho que tenham dito que a sentença do Moro é irretocável, sem ler. Leram não sei quantas mil páginas em poucos dias. Mas tem a leitura dinâmica”, ironizou Lula, no evento “Em Defesa da Democracia e de Lula”, realizado no Teatro Oi Casa Grande, no Leblon, zona sul do Rio. Antes, na porta do teatro, foi realizado um pequeno mas ruidoso protesto que pedia “Lula na cadeia já”.
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O ex-presidente voltou a fazer críticas ao juiz Sérgio Moro, que o condenou em primeira instância a nove anos e seis meses de prisão no caso do tríplex. “Juízes com o comportamento dele deveriam ser exonerados.”
Lula já foi sentenciado pelo juiz federal Sérgio Moro por corrupção passiva e lavagem de dinheiro a 9 anos e 6 meses de prisão no processo sobre o tríplex. Caso seja condenado também na segunda instância, a princípio não poderá se candidatar a presidente nas eleições de outubro, por conta da Lei da Ficha Limpa.
Sobre a queda de Dilma e seu processo na Justiça, Lula afirmou: “Nós caímos rápido demais, do que estamos nos levantando. Fomos destruídos em pouco tempo. Criaram uma animosidade na sociedade, ódio, rivalidade. Fizeram tudo isso e apareceu (o deputado Jair) Bolsonaro (PSC-RJ). Agora vão saber o que é bom”, ironizou.
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Réu da Lava Jato, Lula será julgado pelo Tribunal Regional Federal (TRF-4) no dia 24, em Porto Alegre, no caso do tríplex do Guarujá (SP). Segundo a Justiça, o apartamento teve a reforma paga pela empreiteira OAS, que recebeu em troca vantagens indevidas. O ex-presidente nega que o imóvel seja dele. “Eu ia roubar R$ 500 mil quando poderia ter um apartamento cheio de mala de dinheiro?”, disse, recebendo muitos aplausos da plateia.
Tumor a ser extirpado?
Lula afirmou ainda que é encarado por seus opositores como um “um tumor” a ser extirpado.
“Estamos vivendo um momento irrealista. Eles anestesiaram o País, inventaram uma doença chamada PT e Dilma para fazer uma cirurgia para consertar o Brasil. Quando viram que não tinham extirpado a doença toda, inventaram outra, o Lula, que é o tumor dessa doença”, afirmou, no evento no Rio.
Evento é acompanhado por artistas da Globo
Acompanharam Lula no palco do Casa Grande a cantora Beth Carvalho, o humorista Gregorio Duvivier, o produtor de cinema Luiz Carlos Barreto, os diretores de teatro Aderbal Freire-Filho e Amir Haddad e os atores Dira Paes, Chico Diaz, Herson Capri, Cristina Pereira, Bete Mendes, Antonio Pitanga e Osmar Prado, entre outros. Também estava presente o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, aventado como possível opositor de Lula na corrida presidencial, numa chapa do PSOL. O compositor Chico Buarque ajudou na mobilização do evento, mas não compareceu.
Cristina Pereira foi hostilizada pelos manifestantes anti-Lula na chegada ao Casa Grande. Eram dez pessoas, que provocavam os apoiadores do ex-presidente na calçada oposta à do teatro, gritando insultos. O grupo pedia intervenção militar no País e trazia bandeiras nacionais.
Osmar Prado, que chegou pouco antes, os ignorou. “Quem tem medo de Luiz Inácio Lula da Silva? Os candidatos que não têm condições de derrotá-lo na urna. Em todas as pesquisas ele está na frente. Lula teve dois mandatos e diminuiu a distância entre a casa grande e a senzala. Isso fica gravado na memória do povo.”
Gregório Duvivier faz piada de protesto contra Lula
Gregorio Duvivier fez piada do protesto na porta do teatro. “Ficou muito claro que a indignação deles é classista, eles não saem de casa há um ano”, disse, sobre organizações como o Vem Pra Rua e o Movimento Brasil Livre. “Fico muito feliz de ver tanta gente de vermelha no Leblon”, continuou, referindo-se ao fato de o ato ser no bairro mais sofisticado do Rio. Também no palco, o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, que vem acompanhando Lula em atos públicos, foi saudado com gritos de “eô eô, Amorim governador”. O ex-chanceler é cotado para disputar o governo do Rio pelo PT.
Em dezembro, um grupo de artistas, intelectuais e representantes de movimentos sociais, integrado por Chico Buarque, pelos escritores Raduan Nassar e Milton Hatoum e pelo teólogo Leonardo Boff, entre outros, publicou um manifesto contra “a perseguição a Lula”, divulgado no Brasil e no exterior (foi traduzido para sete idiomas) e intitulado “Eleição sem Lula é fraude”. O texto pede garantias à sua candidatura.
Neste mês, diante da iminência do julgamento de Lula o TRF-4, dois possíveis candidatos à Presidência, Boulos e a deputada estadual gaúcha Manuela D’Ávila (PCdoB) saíram em defesa do direito do petista de concorrer.
No encontro desta terça-feira, Boulos disse que compareceu por “estar do lado da democracia” e que irá a Porto Alegre para apoiar Lula no julgamento no TRF-4. “Contra (o presidente Michel) Temer tem prova de sobra, contra Lula o que tem é perseguição deslavada. Ninguém no Brasil pode admitir isso de forma natural. Para defender Lula não é precisa estar 100% sintonizado com seu partido, basta defender a Constituição Brasileira”.
Para a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, “o TRF-4 tem a oportunidade de mostrar que há justiça isenta no País”. “Não dá para aceitar outra sentença que não seja a absolvição”, declarou.
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