Protesto contra Lula e o PT e a favor da Lava Jato em Curitiba.| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Depois de levar no ano passado sua caravana ao Nordeste, onde é mais popular, o ex-presidente Lula começa nesta segunda-feira (19) sua turnê pelo Sul – região brasileira que historicamente mais se opõe ao PT. Mas por que, afinal, há mais sulistas contrários ao PT do que no resto do país?

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Especialistas apontam quatro razões essenciais para o Sul ter se tornado um reduto anti-Lula: os casos de corrupção nos governos do PT, a crise econômica, a maior escolaridade e renda dos sulistas e o processo de formação do PT na região.

Por que, afinal, Lula escolheu viajar pelo Sul se essa é a região em que ele é menos popular?

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Desde 2002, PT venceu uma eleição presidencial no Sul e perdeu três

A última pesquisa Datafolha sobre a eleição presidencial, realizada no fim de janeiro, mostrou que o Sul é a região em que Lula tem menos intenções de voto – entre 21% e 23%, dependendo do cenário (em todo o país, o porcentual dele varia de 34% a 37%). E, apesar de o petista ainda liderar na região, na maioria dos cenários o deputado Jair Bolsonaro (PSL) está tecnicamente empatado com Lula.

O histórico de eleições também mostra que o PT costuma encontrar muita dificuldade em vencer no Sul. Nas últimas quatro disputas presidenciais de segundo turno, o partido conseguiu vencer na região apenas uma uma vez, justamente em 2002, quando Lula chegou ao poder.

Desde então, os candidatos do partido (Lula em 2006 e Dilma Rousseff em 2010 e 2014) sempre perderam para seus adversários entre os eleitores sulistas. Aliás, nos últimos três segundos turnos presidenciais, a única região em que todos os estados deram vitória ao adversário do PT foi justamente o Sul.

Veja no infográfico o desempenho do PT nas eleições presidenciais no Sul e no país inteiro

A vitória de Lula em 2002, contudo, mostra que a rejeição ao PT no Sul tem uma significativa parcela de justificativas que são circunstanciais. Ou seja, que dependem das condições do momento. E as circunstâncias que explicam a virada de um Sul pró-PT em 2002 para um anti-PT a partir de 2006 são os casos de corrupção nos governos petistas e a crise econômica.

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Renda e escolaridade tornam o eleitor mais crítico

A cientista social e política Elis Radmann, diretora do Instituto Pesquisas de Opinião (IPO), com sede em Porto Alegre (RS), afirma que a maior escolaridade e renda dos sulistas em relação à média brasileira produz um eleitor mais crítico e pragmático. Os casos de corrupção nos governos petistas (mensalão, a partir de 2005; e Lava Jato, a partir de 2014), por exemplo, são sentidos de forma mais crítica por esse eleitor.

Segundo Elis Radmann, o eleitor mais crítico também tende a culpar o PT e Lula pela crise econômica que erodiu o seu poder de compra. Essa mesma circunstância, contudo, é percebida de forma diferente pela população menos escolarizada e mais pobre, que depende mais das políticas sociais do governo.

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A diretora do IPO afirma que a crise também afetou as contas do governo e implicou cortes de gastos nas políticas assistenciais. E o eleitor afetado por essa situação avalia que o problema é mais recente e se recorda dos bons tempos em que Lula era presidente – período em que isso não ocorreu. “O eleitor menos escolarizado e com menor renda tem gratidão com o Lula”, diz Elis. E, de acordo com ela, essa gratidão é pessoal, em relação sobretudo ao ex-presidente e não ao PT.

Menor dependência do governo tende a ser bom para a centro-direita

A maior renda e consequente menor dependência da população do Sul em relação às políticas governamentais também têm impacto numa tendência que não é tão circunstancial como casos de corrupção e crises econômicas. O diretor do Instituto Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, afirma que o sulista tende a ser mais simpático a políticos de centro-direita – que defendem um Estado mais enxuto e menos gastador.

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Hidalgo destaca que sobretudo os paranaenses e os catarinenses não costumam eleger governadores mais à esquerda (no caso do Paraná, as gestões do peemedebista Roberto Requião constituem uma exceção). Já o Rio Grande do Sul é mais polarizado e costuma alternar governadores de direita e de esquerda.

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PT foi formado no Sul sobretudo por intelectuais. E o partido não se popularizou tanto

O cientista político Doacir Quadros, professor do Grupo Uninter, com sede em Curitiba (PR), afirma que o processo de formação do PT no Sul também ajuda a explicar a maior resistência do eleitor da região ao partido.

De acordo com Quadros, em geral o PT foi constituído no Sul por intelectuais, professores e pessoas ligadas ao mundo jurídico. Portanto, o partido nasceu sem uma base social e popular como ocorreu, por exemplo, em São Paulo – onde o PT sempre teve relação com sindicatos e movimentos religiosos ligados à Igreja Católica.

O cientista político afirma que, sem uma base popular, o PT sempre encontrou dificuldades no Sul para se popularizar, ainda que o partido tenha administrado grandes cidades da região e o estado do Rio Grande do Sul.

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Por que Lula veio justamente ao Sul?

Doacir Quadros afirma ainda que a caravana de Lula pelo Sul faz parte de sua estratégia para conseguir viabilizar sua candidatura a presidente. “Ele precisa mobilizar a opinião pública para pressionar sobretudo o Judiciário [a não prendê-lo e permitir que concorra nas eleições], já que quer ser candidato.”

Elis Radmann afirma que, embora o Sul seja mais refratário ao PT, o partido tem uma estrutura bem organizada principalmente no Rio Grande do Sul – estado de várias lideranças nacionais da sigla. Segundo ela, colocar essa estrutura em funcionamento não exige muito orçamento.

Já Murilo Hidalgo acredita que Lula tem outra motivação: no Sul, ele foi condenado na primeira e na segunda instância da Lava Jato (pelo juiz Sergio Moro e pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, respectivamente). “É uma provocação”, diz Hidalgo.

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Metodologia da pesquisa citada na reportagem

A pesquisa Datafolha foi realizada nos dias 29 e 30 de janeiro, após, portanto, o julgamento no TRF-4, que ocorreu no dia 24. O Datafolha ouviu 2.826 eleitores em 174 municípios. A margem de erro é de dois pontos porcentuais para mais ou menos. E tem um nível de confiança de 95%, o que significa que, se for repetida 100 vezes, em 95 os resultados vão estar dentro da margem e erro. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número BR 05351/2018. O levantamento foi encomendado pelo jornal Folha de S.Paulo.

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