O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva endureceu o tom de seus discursos após a condenação judicial em segunda instância, no Tribunal da Lava Jato, em Porto Alegre. Em evento de lançamento de sua pré-candidatura a presidente nesta quinta-feira (25), o petista disparou ataques contra todo mundo, do Judiciário à imprensa, passando pelo Ministério Público. Sobrou até para o senador Alvaro Dias (Podemos/PR), que não tem nada a ver com a história.
Dizendo que não foram criados obstáculos para investigações criminais durante seus mandatos, Lula fez referência a denúncias sofridas por Erenice Guerra, que foi braço direito de Dilma Rousseff quando a também ex-presidente era ministra da Casa Civil. “O grande denunciante contra nós era um tal de senador Alvaro Dias, que é informante da [revista] Veja. Tudo que saía contra ela era da mão dele. A PF [Polícia Federal] queria entrar na Casa Civil e entrou, pra mexer no computador dela. Existe governo mais republicano que o nosso?”
Veja o vídeo:
Procurado pela reportagem, Alvaro Dias ainda não sabia das declarações do ex-presidente. Em resposta, afirmou que “não é um baú onde se escondem os segredos da corrupção oficial”. “Eu não passava informações para esse ou aquele lado da imprensa. Eu denunciava a corrupção na tribuna do Senado, e a todo jornalista que me procurava emitia a minha opinião sobre os atos do governo. Esse é, inclusive, um dever do parlamentar”, rebateu. Depois da entrevista, o senador gravou um vídeo, que foi publicado em suas redes sociais, para se defender das acusações.
Confira:
Respondendo ao ex-presidente Lula #AlvaroDias pic.twitter.com/WulPmB6AiW
— Alvaro Dias (@alvarodias_) 25 de janeiro de 2018
A tese defendida por Lula, que vem sendo repetida em todos os discursos do petista e de seus aliados, é de que sua condenação é fruto de um conluio entre o Poder Judiciário e a imprensa para que ele não volte ao poder. “Não posso aceitar que um canalha qualquer me chame de ladrão. Eles fizeram uma mistura entre Judiciário, MP [Ministério Público], PF e mídia”, disse.
A postura de confronto não fica restrita ao ex-presidente: no mesmo evento, Dilma Rousseff fez críticas a Fernando Henrique Cardoso por conta de declarações do tucano a respeito do apresentador de TV Luciano Huck.
Relembre o caso
Em 2008, a Polícia Federal (PF) apreendeu seis computadores que eram utilizados por funcionários da Casa Civil. A suspeita era de que as máquinas haviam sido utilizadas para a elaboração de um dossiê contra o ex-presidente FHC, a ex-primeira-dama Ruth Cardoso e ministros do governo tucano. O documento teria sido elaborado a pedido de Erenice Guerra, então braço direito de Dilma, que chefiava a Casa Civil. Os dados foram vazados à imprensa, no que seria uma tentativa de mitigar a crise vivida pelo governo Lula à época, por conta dos gastos com cartões corporativos realizados por ministros do petista.
Dois anos depois, Erenice já ocupava o cargo de ministra da Casa Civil quando começou a ser alvo de denúncias na imprensa. Reportagem da revista Veja apontou Israel Guerra, filho de Erenice, como articulador de um esquema de tráfico de influência no ministério. Utilizando o cargo da mãe, Israel teria cobrado propina da empresa MTA Linhas Aéreas para que houvesse a renovação da concessão junto à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e para o fechamento de contratos com os Correios.
Na sequência, novas denúncias apareceram nos jornais O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo, detalhando o esquema que envolveria, inclusive, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Por conta das denúncias, Erenice foi demitida do cargo meses depois, em novembro de 2010.
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