Sai Lula, entra Fernando Haddad. A previsível substituição na candidatura do PT à Presidência da República foi confirmada oficialmente na tarde desta terça-feira (11). A chapa passa a ser encabeçada pelo ex-prefeito de São Paulo, com a deputada gaúcha Manuela d’Ávila como vice-presidente – posto até então ocupado por Haddad. O nome dele foi aprovado em reunião da Executiva Nacional do PT, em Curitiba.
A decisão foi tomada no prazo final de 10 dias estipulado no dia 1º pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para que o partido anunciasse outro nome para a disputa eleitoral. Haddad substitui Lula porque o ex-presidente teve a candidatura barrada pela Lei da Ficha Limpa, por causa da condenação por corrupção passiva e lavagem de dinheiro determinada por um colegiado de juízes.
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O lançamento oficial de Haddad ocorre em um ato em frente ao prédio da Superintendência da Polícia Federal, na capital paranaense, onde o ex-presidente está preso desde 7 de abril. A militância do partido acompanha o evento.
Coube ao ex-deputado federal do PT Luiz Eduardo Greenhalgh ler uma carta que o ex-presidente Lula anuncia oficialmente a sua substituição na chapa do PT. “Quero pedir, de coração, a todos os que votariam em mim, que votem no companheiro Fernando Haddad para presidente da República”, escreveu. “De hoje em diante, Haddad será Lula para milhões de brasileiros”, completou.
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Em seguida, Haddad falou por menos de dez minutos. O agora candidato afirmou que sentia a dor “daqueles que não vão poder votar em quem queriam que subisse a rampa do Planalto”. Pediu o apoio da militância para a “tarefa monumental” que se abriu diante dele e disse que, por Lula, o PT vai ganhar a eleição presidencial de outubro.
Estavam presentes ao lado dele a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, a ex-presidente Dilma Rousseff, o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, e o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), entre outros caciques do partido.
De onde vem Haddad?
Prefeito, ministro, professor universitário, doutor em Filosofia, mestre em Economia, presidente de Centro Acadêmico, vendedor de tecidos.
Fernando Haddad nasceu em 25 de janeiro de 1963 na Vila Mariana, São Paulo. O pai, o libanês Khalil Haddad, migrou para o Brasil em 1947 e aqui se casou com Norma Thereza Goussain Haddad, filha de libaneses. Desde cedo precisou ajudar na loja de tecidos da família, na Rua Comendador Abdo Schain, paralela à 25 de Março, conciliando os estudos na Faculdade de Direito da USP com o trabalho.
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Foi no terceiro ano da faculdade que ingressou na militância política, assumindo a presidência do Centro Acadêmico XI de Agosto em 1984. Com os colegas de então, participou dos comícios pelas Diretas Já. Até 1996, manteve vida ativa na universidade. Fez mestrado em Economia e doutorado em Filosofia. Em 97 começou a dar aulas no departamento de Ciência Política da USP, pra onde voltou após a derrota na reeleição como prefeito de São Paulo.
Fã da academia, escreveu cinco livros, todos de cunho socialista, base na qual firmou sua formação: “O Sistema Soviético”, “Em Defesa do Socialismo”, “Desorganizando o consenso”, “Sindicatos, cooperativas e socialismo” e “Trabalho e linguagem.”
Aos 55 anos, cabelos já grisalhos, 1,83 metros e uma personalidade que lhe obriga a andar com uma aparência impecável, Haddad é casado com a dentista Ana Estela Haddad e tem dois filhos: Frederico e Ana Carolina.
A trajetória política de Haddad
Embora a disputa de 2012 pela prefeitura em São Paulo tenha sido sua estreia nas eleições, a vida pública de Haddad começou bem antes. Foi chefe de gabinete da Secretaria de Finanças da capital paulista na gestão de Marta Suplicy de 2001 a 2003, quando passou à assessor especial do Ministério do Planejamento. Começou a se tornar conhecido mesmo como ministro da Educação, cargo que ocupou nos governos Lula e Dilma Rousseff, entre 2005 e janeiro de 2012.
Também nesse período, enfrentou crises, como uma série de falhas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Em outubro de 2009, a prova foi roubada da gráfica. Em dezembro, houve a divulgação errada de um gabarito. No ano seguinte, os cartões de resposta apresentaram erro de impressão no cabeçalho, teve questão duplicada e folha repetida.
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Ele chegou a tentar a reeleição como prefeito em 2016, mas com uma gestão mal avaliada, o petista acabou derrotado ainda no primeiro turno.
Suspeitas que recaem sobre ele
Haddad é investigado pelo Ministério Público Federal por causa de encontros que teve entre 2012 e 2013 com o dono da empreiteira UTC, Ricardo Pessoa, condenado na Lava Jato. O empreiteiro teria repassado R$ 2,6 milhões ao então tesoureiro do PT João Vaccari Neto para bancar dívidas da campanha de Haddad via o doleiro Alberto Yousseff.
Com base nessa investigação, o agora candidato a presidente virou alvo de três ações nas esferas eleitoral, civil e criminal. Na ação eleitoral, Haddad é acusado de caixa dois – denúncia foi aceita pela Justiça. Na ação civil de improbidade, ele, segundo o MP, foi beneficiado com dinheiro do caixa dois. E na ação criminal, Haddad, segundo o MP, solicitou e recebeu dinheiro de propina.