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Calero já se candidatou a deputado pelo Rio de Janeiro em 2010, obtendo pouco mais de 2 mil votos | Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Calero já se candidatou a deputado pelo Rio de Janeiro em 2010, obtendo pouco mais de 2 mil votos| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Marcelo Calero não desistiu da política. A afirmação, aparentemente trivial, contradiz a hipótese que vem à cabeça de qualquer um que, após um breve esforço de memória, se recorda das desavenças entre ele e o ex-ministro Geddel Vieira Lima. A briga aconteceu em 2016, meses após Calero ser empossado ministro da Cultura do governo Michel Temer. Recusando-se a interferir na liberação de um empreendimento imobiliário no centro histórico de Salvador (BA) – no qual Geddel havia adquirido um apartamento –, ele não se calou.

Após expor a situação ao presidente Temer e não se sentir apoiado, decidiu sair do governo e desfiliar-se do PMDB, partido do qual fazia parte. Diplomata de carreira no Itamaraty, Calero classifica o episódio como a sua segunda desilusão com a política. A primeira havia acontecido anos antes, quando decidiu deixar o PSDB depois de nove anos de filiação. ”Percebi que não me identificava mais com o partido, que meus valores não estavam representados ali”, explica.

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O histórico de decepções, no entanto, está longe de ter arrefecido a vontade do agora ex-ministro de fazer parte da política. Após ser aprovado em um processo seletivo, Calero tem frequentado um curso da organização RenovaBR destinado à preparação de cidadãos comuns para o exercício da política.

Financiada por pessoas como o apresentador de TV – e, quem sabe, presidenciável – Luciano Huck, a organização fornece bolsas de estudo a interessados em se candidatar a cargos eletivos. Mesmo já tendo ocupado cargos públicos – o que, a princípio, vetaria a sua participação – ,Calero foi um dos selecionados pelo RenovaBR para as aulas dos aprendizes da política.

“ Eu acredito na formação contínua. Esse curso tem uma amplitude de temas, discute o Brasil atual e traz informações que são muito úteis, não só para quem quer ser candidato mas também para todos, como cidadãos”, afirma.

Nas redes, um cidadão comum

O entusiasmo com as aulas aparece nas redes sociais do diplomata. No Twitter, Calero documenta aos quase 6 mil seguidores alguns pontos da rotina de aulas (veja abaixo). O carioca, aliás, é figurinha frequente em outras redes, como o Facebook, em que tem 13 mil seguidores, e o Instagram, em que alcança mais de 30 mil pessoas.

No quesito comunicação, contudo, ele ainda resguarda características típicas do cidadão comum, que passam ao largo da profissionalização dos políticos: para conseguir entrevistá-lo, na última segunda-feira (29), a reportagem fez uma verdadeira caçada ao seu contato. Depois de alguns telefonemas e mensagens – além de algumas horas –, o ex-ministro carioca respondeu, simpático, no aplicativo Whatsapp.

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É justamente essa aura de cidadão comum, na avaliação de Calero, é o que falta aos representantes brasileiros. “A política deve ser um lugar para todos os cidadãos. A razão pela qual chegamos nesse ponto de desgaste dos agentes públicos é a sua desconexão com a realidade. Carecemos de pessoas comuns, que vão ao supermercado e pegam metrô, participando das tomadas de decisão no país”,diz.

No diagnóstico do diplomata, a única alternativa para um Estado ineficiente, em que muitos impostos são pagos e poucas contrapartidas entregues, é a substituição da “velha oligarquia que está no poder”.

Após a desilusão, o retorno

A ideia de renovação não fica só no discurso. Longe do PMDB de Temer e Geddel, Calero tem planos para as eleições de 2018. Deve se candidatar a deputado federal, mesmo que não tenha definido, ainda, por qual legenda. “Escolher por qual partido vou concorrer está sendo um grande desafio”, desabafa.

No entanto, alguns partidos – no plural – parecem estar chamando a atenção do ex-ministro. “Apesar da desconexão dos políticos com a sociedade, existem legendas que estão entendendo de maneira mais eficaz e robusta o processo que a sociedade brasileira está exigindo”, afirma. Quais são eles, porém, Calero não diz. Apenas conta que, enquanto não se decide, está conversando com mais de uma agremiação.

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Seja qual for a legenda pelo qual concorrerá, as bandeiras de sua campanha parecem já estar definidas. A cultura é uma delas, mas não a primeira que vem à tona quando Calero começa a elencar seus propósitos. “O combate à corrupção é urgente porque está na raiz de muitos dos nossos problemas. Pretendo que a cultura seja minha principal causa, mas a corrupção acaba sendo uma questão que atravessa qualquer outro tema. Vivi uma situação em que a falta de ética atrapalhou diretamente o meu trabalho, então falo com muita propriedade que esse problema é anterior a tudo e que precisa ser resolvido”, conta, referindo-se ao episódio com Geddel.

De maneira prática, as propostas dele incluem a revisão do pacote anticorrupção, aprovado em dezembro de 2016 na Câmara dos Deputados com polêmicas modificações. Além disso, o ex-ministro afirma que a forma como ocorrem as contratações de serviços, obras e bens pelo Estado brasileiro precisa “ser revista urgentemente”. O discurso vem sempre com pitadas de idealismo e retórica afiada.

“O episódio com o Geddel é um reflexo da política atual, em que os políticos se servem do Estado ao invés de servirem a ele. Apesar disso, saí do cargo com muito orgulho do país, por todo o apoio que recebi nas ruas. Depois de tudo o que foi descoberto, posso dizer que durmo tranquilo e que sempre vale a pena obedecer aos nossos valores”, conclui. Se o discurso bem articulado tocará os eleitores e se converterá em votos, porém, é tema arriscado para previsões.

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