Em março, Marina Silva deu uma entrevista à revista Marie Claire. No último fim de semana, o mesmo depoimento veio a tona pelo fato de ela ter contado que usou espingarda na infância para se defender contra possíveis ataques sexuais virou munição contra Marina Silva nas redes sociais.
Quando eram crianças, Marina levava uma espingarda, ela e as irmãs, quando iam cortar seringa no Acre. Segundo ela, a mãe achou por bem lhes dar algum tipo de proteção devido ao grande número de homens na atividade. Apesar disso, a presidenciável da Rede é uma crítica feroz da flexibilização do desarmamento, que seria um “retrocesso”, como não se cansa de repetir.
Defesa
Uma coisa não anula a outra, muito pelo contrário, disse a ex-senadora à reportagem após ser atacada por movimentos conservadores, muitos deles pró-Jair Bolsonaro (PSL).
Sua mãe tinha uma desculpa para acreditar “na ilusão” de que as filhas estariam mais seguras se levassem consigo “uma espingarda, na maioria das vezes sem cartucho”, diz.
Já Bolsonaro não tem desculpa para, “em pleno século 21”, achar que menores de idade deveriam aprender a atirar desde pequenos, afirma Marina.
A polêmica começou após uma entrevista que a candidata deu à revista Marie Claire em março ser resgatada por grupos como o MBL (Movimento Brasil Livre) e reproduzida pelo deputado Eduardo Bolsonaro, filho de Jair.
Marina respondia se já havia sofrido algum tipo de violência sexual.
Ela: “Nunca. Quando éramos crianças, tínhamos uma espingarda. Eu e minhas irmãs a levávamos para cortar a seringa. Só uma delas sabia atirar e a gente se dividia na estrada para fazer o serviço mais rápido. Ou seja... Não adiantava muita coisa. Mas havia esse medo porque éramos ali talvez as únicas mulheres que cortavam seringa. Minha mãe tinha medo por ser um espaço dos homens”.
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Na sexta (24), Marina escreveu no Twitter e no Facebook (veja abaixo) que“criança porta livro, não arma”, num ataque direcionado à oratória armamentista de Bolsonaro. Seus detratores a acusaram de hipocrisia.
Um dia antes, Bolsonaro afirmou que todos os seus filhos atiraram com munição de verdade a partir dos cinco anos de idade -prática proibida por lei. O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) estabelece como crime “vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente, arma, munição ou explosivo”.
Para o capitão da reforma, pura ladainha. “Nós não podemos criar uma geração de covardes.” Depois afirmou que, se dependesse dele, o ECA poderia ser “rasgado e jogado na latrina”.
Das sete filhas que sua mãe teve, conta Marina à reportagem, “quatro tiveram que cortar seringa desde a mais tenra idade para ajudar o pai a pagar uma conta que era impagável no regime de semiescravidão”.
É “até compreensível” que ela “tivesse a ilusão de que uma espingarda, na maioria das vezes sem cartucho, porque ela tinha medo de botar o cartucho, porque tinha medo de cair, disparar, dar um tiro em alguém”, fosse dar conta do recado.
Inaceitável, diz Marina, é esse papo partir “de um candidato à Presidência da República, em pleno século 21, [depois de tudo o que] já foi feito de proteção à infância e à adolescência”. Isso numa época “em que as crianças, em vez de trabalhar, deveriam estar na escola, em vez de ter que se proteger de agressão, deveriam estar sendo protegidas por suas famílias ou governos”, continua.
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Apoiadores de Bolsonaro “vêm querer lançar isso no rosto de alguém que na época tinha de 10 para 11 anos, que não sabia nem direito porque minha mãe tinha tanto medo que nós encontrássemos algum homem, porque não conhecíamos as questões da sexualidade, isso aí é inadmissível”, diz Marina.
Para a presidenciável, é preciso lutar para que “nenhuma criança tenha que ter, dentro de suas casas, uma arma para se proteger, o Estado é que tem que fazer isso. Fui uma criança ameaçada pelas dificuldades da vida. Por isso, hoje luto para que todas as crianças, em vez de estar trabalhando, estejam na escola”.
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