A senadora Marta Suplicy anunciou nesta sexta-feira (3) que deixará o MDB, no qual estava filiada desde setembro de 2015, e que não concorrerá à releição ao Senado Federal. Em nota, o partido disse que a decisão teve cunho pessoal. “O partido lamenta mas respeita a decisão da senadora”.
Marta era um dos nomes cogitados para compor chapa com o ex-ministro Henrique Meirelles, que teve sua candidatura à Presidência da República chancelada pelo MDB na quinta-feira (2). Com a decisão tomada por ela, fica praticamente descartada essa hipótese.
Em entrevista à colunista Eliane Cantanhêde, do jornal O Estado de S. Paulo, Marta disse que, apesar de estar encerrando a longa e bem-sucedida carreira política, ela disse que essa não é sua pretensão: “Estou deixando a vida parlamentar e partidária, mas tenho muitos planos e estudo novas trincheiras de participação política na sociedade. Vou continuar sempre participando ativamente da política brasileira”.
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Psicóloga e psicanalista, Marta esteve filiada ao PT por décadas e se tornou um expoente da legenda – foi prefeita de São Paulo entre 2001 e 2005, e ex-ministra dos governos Lula e Dilma. A senadora decidiu sair do PT no ápice da crise do segundo governo de Dilma Rousseff – inclusive votou pelo impeachment da ex-presidente. Muito disputada à época, optou pelo MDB, mas nem sempre esteve satisfeita com os rumos do partido.
Carta aos Paulistas
A decisão de Marta foi tornada pública por meio de texto intitulado “Carta aos Paulistas”, em que agradece os 8,5 milhões de votos que teve para o Senado em 2010 e critica os rumos da política brasileira. Diz que os partidos “encontram-se fragilizados, acuados e sem norte político” e demonstra frustração com o Parlamento, ao dizer que o Congresso Nacional “tornou-se refém de uma agenda atrasada dos costumes da sociedade”. Ainda assim, diz que continuará “participando politicamente da vida pública brasileira”.
“Muitas vezes, vi-me em tempos de travessia. Em alguns deles, acreditei ter luzes no outro lado do rio. Agora, com toda a energia necessária para continuar remando, tomei a decisão sobre o futuro da minha vida política, encarando a realidade de frente, para poder seguir com coerência, ousadia e coragem.
Anuncio que não concorrerei à reeleição a senadora da República pelo Estado de São Paulo e comunico a minha desfiliação do Movimento Democrático Brasileiro (MDB).
Não é novidade que os partidos políticos brasileiros, de forma geral, encontram-se fragilizados, acuados e sem norte político. Não mais conseguem dar respostas à crise de credibilidade que se abateu sobre eles e nem tampouco estão empenhados na mudança de posturas que os levaram à mais grave crise de suas histórias. Orientam suas movimentações políticas pela lógica exclusiva de fazerem crescer suas bancadas parlamentares com o objetivo perverso e mesquinho de fortalecerem-se na divisão e loteamento de cargos e espaços de poder.
A relação de grande parte dos partidos e de parlamentares com o Executivo na base de nomeações e vantagens levou ao insuportável “toma lá dá cá”, afrontando todos os padrões de dignidade e honradez da sociedade. Esse sistema faliu e precisa ser, urgentemente, reformado.
O Congresso Nacional, hoje, na sua maioria, não tem se colocado a favor das causas progressistas, fundamentais para o avanço da sociedade. Ao contrário, tornou-se refém de uma agenda atrasada dos costumes da sociedade, negando-se a reconhecer e a regulamentar as relações entre as pessoas de forma a contemplar as diversidades das sociedades modernas e a respeitar os direitos individuais do ser humano.
Quero agradecer aos 8,3 milhões de paulistas que me deram a oportunidade de, nos últimos 8 anos, trabalhar como senadora defendendo as bandeiras que me levaram à vida pública: o combate às desigualdades e às injustiças sociais, a militância pelos direitos de cidadania das mulheres e da população LGBTI e pela igualdade de oportunidades para todos.
Neste momento, creio que poderei contribuir mais para mudanças atuando na sociedade civil do que continuando no parlamento. Permanecerei participando politicamente da vida pública brasileira. A partir de 2019, não mais como parlamentar, mas em todas as trincheiras que me levem ao lado da defesa dos interesses dos mais pobres, dos injustiçados e na luta pelo empoderamento das meninas e das mulheres.
Estou convencida de que o Brasil precisa de um projeto nacional de desenvolvimento estruturado que abranja setores fundamentais para o crescimento do país. Temos de aumentar, significativamente, a produção e a riqueza. Isso possibilitará todo brasileiro e toda brasileira terem educação de qualidade, saúde, segurança e um emprego para trabalhar e viver com dignidade.”
São Paulo, 03 de agosto de 2018.
Senadora Marta Suplicy
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