Em momento de turbulência e incertezas no PSDB quanto a 2018, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) atrai a simpatia de aliados dos tucanos.
O Movimento Brasil Livre (MBL), entusiasta de eventual candidatura presidencial do prefeito paulistano, João Doria (PSDB), até duas semanas atrás, agora ensaia uma aproximação com o deputado, que concentra esforços em se mostrar um liberal.
Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB, que declara apoio ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), na eleição presidencial, flerta com Bolsonaro nas redes sociais.
“A disputa interna torna o PSDB mais vulnerável à medida que, para ganhar a indicação, você eventualmente queima pontes políticas e fica com dificuldade de criar uma agenda positiva”, afirmou o cientista político Rafael Cortez, analista na consultoria Tendências.
Ele soma à indefinição do candidato a crise na cúpula do PSDB e o desgaste gerado pelo apoio ao governo Michel Temer, que dificulta a associação de sua imagem à renovação política. “Esses fatores têm um custo reputacional grande para a legenda, que, me parece, vai sustentar em parte o voto para Bolsonaro ao longo da campanha.”
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“Golaço!”
Nas últimas duas semanas, o MBL, importante impulsionador de Doria nas redes sociais, tem dedicado espaço a Bolsonaro em tom elogioso.
Há poucos dias, publicou foto do deputado com a palavra “Golaço!” em letras garrafais. Enumerou bandeiras do pré-candidato como “solução para a questão indígena que não afete o agronegócio”.
Segundo o vereador paulistano Fernando Holiday (DEM), um dos líderes do grupo, “é um reconhecimento e mesmo uma tentativa de incentivar os candidatos à Presidência a exporem mais suas ideias liberais”.
Para o vereador, “Bolsonaro tem dado declarações que convergem com o que defendemos”, ao mesmo tempo que Doria “tem se afastado”.
Holiday mencionou falas do tucano que ele considerou “decepcionantes” como quando disse que Che Guevara “foi ícone de uma geração”. “É uma liderança que repudiamos, um grande assassino”, rebateu Holiday.
O líder do MBL disse que o prefeito parece tentar se deslocar ao centro como forma de se viabilizar para 2018.
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“É uma estratégia errada, se for isso, porque o Brasil tem demonstrado que quer dar uma guinada à direita.”
Associado ao MBL há dois meses, Paulo Mathias, prefeito regional na gestão municipal e aliado de Doria, negou que o tucano tente mudar seu posicionamento e repetiu frase do próprio ao relativizar eventuais perdas de apoio.
“A corrida presidencial não é de 100 metros, é uma maratona. Tem de aguardar.”
Sobre posicionamentos do MBL favoráveis a Bolsonaro, Mathias disse que “há pessoas que pensam dessa forma e outras que não”. “Eu vejo o MBL querendo que João seja candidato”, encerrou.
“Guerreiro”
Da mesma forma, Alckmin, que disputa com Doria o posto de presidenciável tucano, tem aliado flertando com Bolsonaro. O presidente do PTB, Roberto Jefferson, diz na internet estar “impressionado” com a popularidade do deputado, a quem chamou de “guerreiro”.
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No mesmo voo que o deputado para Belém, há dez dias, ele relatou em rede social que “há muito tempo” não via um político ser recebido “com tanta alegria genuína”.
O PTB, entretanto, é aliado importante de Alckmin em São Paulo e seu presidente estadual, Campos Machado, um dos defensores mais ativos do governador. Machado negou a possibilidade de o partido apoiar Bolsonaro. Procurado, Jefferson não quis se pronunciar.
O deputado Silvio Torres (PSDB-SP), ligado ao governador, disse que Jefferson “se posiciona como candidato para ter visibilidade”.
Afirmou que “Alckmin buscará o eleitorado de centro e centro-esquerda, porque ele tem marcas de governo identificadas com o social”.
E concluiu que o governador não disputa voto com Bolsonaro, dado que o deputado está “mais identificado com partidos que rejeitam o ‘status quo’, especialmente os que estão à direita”.
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