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Kim Kataguiri, líder do MBL: com milhas doadas por executivos, ele trocou o ônibus pelo avião nos deslocamentos entre São Paulo e Brasília. | Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Kim Kataguiri, líder do MBL: com milhas doadas por executivos, ele trocou o ônibus pelo avião nos deslocamentos entre São Paulo e Brasília.| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Sempre carente de opções viáveis que defendam sem reservas tudo o que ele quer, o mercado financeiro – ou parte dele – parece ter encontrado quem o represente na política: a molecada do Movimento Brasil Livre (MBL).

Reportagem da revista “piauí” revelou que pelo menos 158 funcionários de médio e alto escalão de instituições como Merrill Lynch, Banco Safra e XP Investimentos fazem parte de um grupo de WhatsApp chamado “MBL – Mercado”. Ali os executivos debatem com a cúpula do MBL as pautas das reuniões que Kim Kataguiri e companhia terão com lideranças políticas. Mas não só.

O grupo também serve para angariar doações ao movimento. Segundo a ”piauí”, tem gente se comprometendo a ajudar com R$ 15 mil por mês. E executivos começaram a doar milhas aéreas ao MBL, o que permitiu a Kataguiri trocar o ônibus pelo avião em seus deslocamentos entre São Paulo e Brasília.

O MBL parece atender aos anseios do setor financeiro porque os partidos que de alguma forma são identificados com o livre mercado, como PSDB, PP e DEM, não são defensores intransigentes do modelo. Que, aliás, nunca encontrou terreno fértil no Brasil.

A versão de capitalismo que vingou por aqui é aquela em que os empresários se aproximam do poder para conseguir crédito subsidiado e proteção contra importados sempre que o liberalismo econômico não garante a prosperidade de suas empresas. Boa parte dos nossos políticos se sente à vontade nesse sistema, aí incluídos os de verniz liberal. E nele se esbaldou o PT, que muito antigamente se opunha ao “grande capital”.

Essa falta de interlocutores levou, então, uma parte do mercado a se aliar ao MBL. Nessa aproximação, os financistas-financiadores podem escolher entre diferentes planos de doação que o movimento batizou com nomes como “Agentes da CIA”, “Mão Invisível”, “Exterminador de Pelegos” e “Privatiza Tudo”.

O que a turma das finanças espera colher? Talvez confie que, com a ajuda do movimento, reformas de cunho liberal passem com mais facilidade pelo Congresso. Não custa lembrar que não basta a disposição do governo para tocá-las adiante nem a evidente necessidade de correção nas contas públicas; é preciso convencer os deputados e senadores, que, bem ou mal, representam a sociedade.

ESPECIAL:O que muda com a reforma da Previdência

Mas, quando quer, o mercado sabe ser crédulo. Até pouco tempo atrás, era comovente o desprendimento com que os investidores empurravam o Ibovespa montanha acima e rolavam o dólar ladeira abaixo com base no argumento de que a reforma da Previdência seria aprovada apesar de gravações e delações contra Temer, simplesmente porque o assunto era de “importância nacional”.

Depois, quando se cansou de defender essa tese, o mercado passou a afirmar que não havia grande problema em deixar a reforma para depois, ou ainda aprovar uma reforma “light”, porque tudo isso já estava “precificado”. E “bora” comprar mais ações e vender dólar porque, afinal, é o que quase todo mundo anda fazendo.

No que vai dar a parceria entre mercado e MBL? Frases pinçadas das conversas de WhatsApp dão ideia do que teríamos num governo apoiado por Kataguiri e seus financiadores. Depois de “anunciar” a candidatura à presidência do prefeito paulistano João Doria (PSDB), queridinho do movimento, um dos integrantes defendeu que a aliança que pode elegê-lo será uma combinação de PMDB, DEM, evangélicos e “agro”, além do próprio MBL.

“Nosso trabalho será o de unir essa turma num projeto comum”, escreveu. Pouco depois, classificou esse arranjo de “aliança entre setores modernos da economia + agro + evangélicos”.

E o que esperar do ponto de vista ético? Em algumas conversas citadas pela “piauí”, membros do grupo demonstram ojeriza ao senador Aécio Neves (PSDB-MG), flagrado em grampo pedindo R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, sócio da JBS. “Que termine o mandato e seja encarcerado em seguida”, disse um participante. Mas quem vê no MBL uma alternativa à podridão reinante da política tradicional pode acabar se decepcionando com o pragmatismo que o movimento demonstra em nome de suas causas.

Por afinidade com as reformas, o MBL evita confrontar abertamente o governo Temer – que tem o presidente e ministros denunciados à Justiça – e até se dispõe apoiá-lo na comunicação. “Vamos tentar botar pra frente essa previdência. Ainda dá tempo. O zumbizão tá lá pra isso”, resumiu um membro do grupo, concluindo com o clássico “kkk”.

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