Não é de hoje que a fama de hábil articulador político acompanha Valdemar Costa Neto, o manda-chuva do Partido da República (PR). Ele foi o principal fiador do acordo costurado nos bastidores pelo Centrão para apoiar a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência da República.
Mas como alguém sem mandato em Brasília, que atua nas sombras, consegue se manter tão influente no meio político? A expertise remonta ao início dos anos 2000, quando ele era deputado federal e presidente do Partido Liberal (PL). Valdemar foi decisivo no destino do país pela primeira vez ao negociar a presença do empresário José Alencar, do PL, como vice-presidente na chapa vencedora de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.
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Mas, de santo, Valdemar não tem nada. Por duas vezes, nos últimos anos, ele se viu obrigado a renunciar a mandatos de deputado federal, ambos por causa do escândalo do mensalão no primeiro governo Lula. Primeiro, em 2005, para preservar seus direitos políticos. Depois, em 2013, para não impor mais um “constrangimento institucional” ao Parlamento por ter sido condenado à cadeia. Sentenciado a 7 anos e 10 meses de prisão, cumpriu dois aos e meio e, em maio de de 2016, o Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu o perdão da pena. Solto, hoje ele é um dos protagonistas da sucessão presidencial.
Talvez qualquer outra pessoa teria abandonado a política diante dos muitos constrangimentos que passou. Num depoimento no Conselho de Ética da Câmara, em agosto de 2005, deu detalhes do esquema de repasse no mensalão e se viu obrigado a responder questões de dar vergonha a um cidadão comum. “Qual a procedência dos reais e dólares guardados no cofre de sua residência?” e “quando viajava no avião do empresário, o senhor levava dinheiro em malas?”
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As respostas também eram de enrubescer qualquer um. “Não guardava todo o dinheiro no cofre. Alguma coisa eu guardava no bar da minha casa. Porque eu tinha uma instalação na minha casa, separada da parte social da casa, para eu fazer política”, disse Valdemar. “Nunca transportei dinheiro em malas em avião”.
Quem o acusou de andar com dinheiro em pastas e malas foi sua própria ex-mulher, Maria Cristina Mendes Caldeira, em depoimento público também à época. Valdemar diz que o acordo com o PT era que seu partido recebesse R$ 10 milhões pela adesão a Lula. Seria, disse, para pagar gastos futuros de campanha.
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“Tentavam me convencer a fazer o acordo sem um centavo. Nada. Zero. Não queriam acordo financeiro”, contou também Valdemar ao conselho, com o argumento de que esses recursos iriam para campanha de deputados do então PL.
O poderoso homem do hoje PR revelou à época ter um defeito a vida: não era um delator. Não consta que tenha feito mesmo qualquer acordo nesse sentido. E disse ainda ser um “bom parlamentar, mas não um bom legislador”. A questão é o conceito de ‘bom parlamentar’ com que trabalha.
O resto se sabe: prefere o anonimato e as reuniões às escondidas. E sem publicidade alguma. Quase todos os presidenciáveis, ou seus representantes, se sentaram com ele e pediram seu apoio. Que parece valer ouro.
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