A campanha do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) estuda mexer na estratégia que havia definido para a última semana da eleição. Após a denúncia de que empresas teriam beneficiado Bolsonaro ao disseminar fake news em massa pelas redes sociais contra Fernando Haddad (PT), aliados mais próximos do deputado reavaliam se ele deve manter o recolhimento confortável ou reforçar os ataques ao PT na internet e por meio de breves discursos.
Já o candidato petista prevê viagens ao Nordeste e atos com setores da sociedade civil considerados petistas pela campanha, mas que estariam votando em Bolsonaro ou em branco/nulo nestas eleições. O objetivo é tentar encurtar a distância para o adversário. No primeiro turno, o ex-prefeito de São Paulo só se saiu melhor nos estados do Nordeste, com exceção Ceará, onde Ciro teve melhor desempenho, e no estado do Pará. Nos demais estados, Bolsonaro liderou com folga.
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Bolsonaro saiu da defensiva no sábado
No sábado (20), Bolsonaro saiu da defensiva e fez declarações mais enfáticas sobre o suposto caso de disseminação de mensagens contra ao PT. Em entrevista no Rio, ele se declarou a favor da imprensa livre e afirmou que “não tem nada a ver” com a denúncia envolvendo fake news. Até então, a cúpula da campanha programava que Bolsonaro passaria a maior parte do tempo descansando e se recuperando das consequências da facada que sofreu no dia 6 setembro em Juiz de Fora (MG).
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Ainda na entrevista, Bolsonaro afirmou que pretende fazer uma “excelente reforma política” e voltou a sugerir o fim do instrumento da reeleição e a redução do número de congressistas. “Um presidente não tem autoridade para fazer reforma política. Cada parlamentar vota de acordo com seu interesse. O que eu pretendo fazer, tenho conversado com o Parlamento também, é você fazer uma excelente reforma política para acabar com o instituto da reeleição, que no caso começa comigo, se eu for eleito, e diminuir um pouco, 15%, 20% a quantidade de parlamentares.”
O presidenciável declarou, ainda, no contexto de uma eventual reforma, que o ideal seria “criar um sistema eletrônico de votação confiável, que possa ser auditável”. Sobre política econômica, afirmou que o Banco Central terá autonomia se ele vencer a eleição, mas não quis citar quem estaria à frente da instituição. “Não sei se o atual presidente (Ilan Goldfajn ) vai ser mantido. Não sei se ele é um bom nome, quem vai ver isso é o Paulo Guedes”, disse ele, em referência ao economista responsável pelas propostas do PSL na área e futuro ministro da Economia, caso Bolsonaro seja eleito.
Haddad aposta todas as fichas no Nordeste
Já Fernando Haddad segue apostando todas as fichas no Nordeste. O petista fez no sábado campanha no Ceará dos irmãos Cid e Ciro Gomes, respectivamente, senador eleito e presidenciável derrotado do PDT. Em comício em Fortaleza, Haddad fez críticas a Bolsonaro e o acusou de montar uma organização para aplicar “dinheiro sujo” nas redes sociais contra o PT.
Segundo o deputado estadual eleito Emídio de Souza, integrante da coordenação da campanha, o episódio envolvendo Cid e militantes do PT já foi superado e a ideia é tentar transferir os votos de Ciro para o petista. Durante ato pró-Haddad em Fortaleza, na segunda-feira passada (15), o irmão de Ciro Gomes disse que o PT vai “perder feio a eleição” se não fizer uma “mea culpa”.
O episódio Ciro foi o mais evidente da tentativa fracassada do PT de criar uma “frente democrática” com a participação de adversários– como o próprio pedetista e Fernando Henrique Cardoso, presidente de honra do PSDB – no segundo turno. Agora, Haddad decidiu investir no apoio de setores organizados da sociedade contrários a Bolsonaro ou considerados tradicionalmente petistas, mas que não estariam votando 13 na urna. Entre eles, os evangélicos, que formalmente declararam apoio a Bolsonaro.
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Neste domingo (20), Haddad tem viagem marcada para São Luís (MA), ao lado do governador reeleito Flávio Dino (PCdoB). O encerramento da campanha também deve ser no Nordeste. As opções são a Bahia e Pernambuco.
Nesta reta final, o PT também vai explorar politicamente as denúncias sobre a existência de suposto esquema de impulsionamento ilegal de mensagens pelo WhatsApp. A a ordem é tentar vincular Bolsonaro às fake news.
Investigações sobre fake news
A Procuradoria Geral da República (PGR) pediu que a Polícia Federal (PF) investigue suspeitas de que empresas disseminam mensagens falsas em redes sociais relacionadas tanto a Bolsonaro como a Haddad. O inquérito foi instaurado no sábado pela PF.
Em outra frente, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) abriu ação para apurar as denúncias de suposto abuso de poder econômico por parte de Bolsonaro na disseminação das fake news. A denúncia foi feita pela coligação de Fernando Haddad, com base na matéria da Folha de S. Paulo que trouxe o caso à tona. A reportagem diz que empresários estariam comprando pacotes de disparos de mensagens em massa pelo WhatsApp contra o PT e para beneficiar Bolsonaro. O jornal, porém, não exibiu documentos que comprovem a denúncia nem mencionou relatos de testemunhas.
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A campanha de Bolsonaro nega qualquer envolvimento com o suposto disparo de mensagens. O presidente do PSL, Gustavo Bebianno, falou no sábado sobre as denúncias. Disse que entrará com um pedido na PGR para que seja esclarecido o caso o quanto antes. “Vamos pedir que essa denúncia, que não tem pé nem cabeça, seja apurada até o fim.”
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