Luciano Huck cumpriu nesta segunda-feira (27) o que vinha anunciando para amigos e familiares: desistiu oficialmente de se tornar candidato a presidente da República. O artigo publicado pela Folha de S.Paulo sela um período de oito meses em que Huck sentiu o gostinho do poder. E concluiu que não valeria a pena diante dos riscos.
Nas últimas semanas, Huck tinha se encontrado com lideranças de pelo menos quatro partidos diferentes – Novo, PPS, DEM e Rede. Visitou o economista Arminio Fraga e o jurista Joaquim Barbosa. O presidente do PPS, o deputado Roberto Freire, propôs filiação, ofereceu até mesmo mudar o nome do partido para abrigar o apresentador.
O governador paulista, Geraldo Alckmin, elogiou uma possível candidatura do global. O senador Aécio Neves, amigo de longa data de Huck, criticou a iniciativa. Luiz Inácio Lula da Silva também comentou o assunto, disse que adoraria debater com um candidato com o logotipo da emissora na testa. A repercussão entre um ex-presidente e dois eternos candidatos dá uma ideia do alcance político dos movimentos do apresentador.
INFOGRÁFICO: Veja pesquisas de aprovação e intenção de voto que davam impulso à candidatura de Huck
Ninho tucano
Nascido há 46 anos na capital paulista, formado em Direito e Jornalismo, Luciano Grostein Huck é filho de um jurista, Hermes Marcelo Huck, e uma urbanista, Marta Dora Grostein. Sua mãe é casada com o economista Andrea Calabi, ex-presidente do Ipea e do BNDES e membro dos Conselhos da Caixa Econômica Federal, Embraer e Sabesp.
“O presidente [Fernando Henrique Cardoso] gosta de mim, é meu amigo. Minha mãe é urbanista e casada há décadas com o economista Andrea Calabi, que participou ativamente dos principais governos tucanos no âmbito federal e estadual. Natural que a política tenha pautado vários almoços e jantares familiares desde que me entendo por gente”, Luciano afirmou, em março, para a Folha de S.Paulo.
Leia também: Huck diz que seria insanidade abandonar carreira e lançar candidatura
Com 20 anos, Huck estagiou na agência de publicidade W/Brasil. Com 22 anos, começou a cuidar de uma coluna social no Jornal da Tarde, pertencente ao grupo Estadão. No ano seguinte, sua coluna Circulando foi transformada também em um quadro dentro do programa Perfil, de Otávio Mesquita. Sua carreira como apresentador disparou para valer com o programa H, da TV Bandeirantes, que foi ao ar em 1996. Em 1999, começava uma trajetória de 18 anos com o programa Caldeirão do Huck, que ocupa a faixa dos sábados à tarde, tradicionalmente ocupada, no passado, por Chacrinha.
Em termos sociais, o apresentador fundou, em 2004, o Instituto Criar de TV, Cinema e Novas Mídias. Mas nunca teve atuação política de expressão. Até março deste ano.
Tapete vermelho
De repente, Huck começou a fazer afirmações como esta, retirada da mesma entrevista à Folha: “É hora de a minha geração ocupar espaços de poder”. Semanas depois, o presidente Michel Temer sofreria com as acusações vindas da delação premiada do empresário Joesley Batista. Depois, Lula seria condenado e sua participação nas eleições de 2018 se tornou uma incógnita. Nesse contexto, o nome de Huck como opção à presidência só fez crescer. E o apresentador começou a gostar bastante da ideia.
Leia também: Como a desistência de Luciano Huck beneficia os candidatos da velha política
Encontrou-se com diferentes lideranças políticas. Jantou com o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, que teria sido convidado para compor uma chapa – Hartung sendo o candidato a vice. Joaquim Barbosa teria recebido convite parecido. Mas foi com Roberto Freire que as conversas mais avançaram. O deputado e presidente do PPS também colocou o apresentador para conversar com o ministro da Defesa, Raul Jungmann. E chegou a declarar que o apresentador teria tapete vermelho em seu partido. Também explicou a indefinição do novo amigo: “É uma mudança de vida muito grande. O Huck está vivendo essa pressão”.
Em outubro, Huck declarou que não seria candidato. Ninguém acreditou. Mas foi o suficiente para que a rede Globo avisasse internamente: todos os funcionários da empresa precisam comunicar até o fim do ano se vão concorrer a algum cargo eletivo. Bastou esse comunicado para surgirem especulações sobre a saída de Huck, e também de sua esposa, Angélica. Até o nome do substituto foi ventilado: seria Márcio Garcia.
Novo Huck
Mesmo sem se tornar candidato, o Luciano Huck de 2017 é muito diferente do apresentador de 1996, da época em que ele transformava modelos em celebridades, como Tiazinha e Feiticeira. Ele faz parte do movimento Agora!, que, em seu site oficial, se define como “um movimento cívico que pretende impactar a agenda pública e a ação política a partir da sociedade”.
Leia no blog Conexão Brasília: Por que Luciano Huck não quer ser presidente
Entre os fundadores do Agora! estão o empresário Carlos Jereissati Filho, o professor Caio Farah Rodriguez, o diretor da rede Somos Educação, Eduardo Mufarej, e a diretora executiva do grupo Igarapé, Ilona Szabó, o cientista político Leandro Machado e a sócia da consultoria McKinsey & Company Patrícia Ellen.
Huck também participa de um grupo que pretende fornecer bolsas-campanha a candidatos alinhados com o pensamento dos integrantes, e que nunca tenham disputado cargos eletivos. Eles receberão de R$ 5 mil a R$ 8 mil por mês para preparar campanhas à Câmara dos Deputados. Liderado por um dos membros do Agora!, Eduardo Mufarej, a iniciativa conta com o apoio de Armínio Fraga e tem o nome de Fundo Cívico para a Renovação Política.
E é assim, entre grupos civis de renovação e conversar com partidos tradicionais, que Huck tenta se transformar numa personalidade de relevância política.
Câmara aprova regulamentação de reforma tributária e rejeita parte das mudanças do Senado
Mesmo pagando emendas, governo deve aprovar só parte do pacote fiscal – e desidratado
Como o governo Lula conta com ajuda de Arthur Lira na reta final do ano
PF busca mais indícios contra Braga Netto para implicar Bolsonaro em suposto golpe