A dez dias da eleição em primeiro turno, a campanha de Jair Bolsonaro à Presidência da República se vê obrigada a conter outro “foco de incêndio” dentro da própria coligação – algo que virou rotina nas últimas semanas. Declarações de colaboradores próximos vêm causando danos ao projeto político do deputado do PSL de assumir a cadeira ocupada por Michel Temer a partir de 2019.
O incendiário da vez é, de novo, o candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro, o general da reserva Hamilton Mourão. Em palestra no Rio Grande do Sul na quarta-feira (26), Mourão criticou a existência do 13º salário e do adicional de férias, chamando os benefícios de “jabuticabas” e dando munição aos adversários de Bolsonaro.
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Para se ter uma ideia do impacto negativo da declaração, oito centrais sindicais divulgaram uma nota conjunta nesta quinta-feira (27) em que classificam como “descabida, ofensiva e lamentável” a fala do general.
Numa atitude inédita, o presidenciável publicou em sua conta no Twitter uma reprimenda pública a Mourão. “Criticá-lo [o 13º salário], além de uma ofensa a quem trabalha, confessa desconhecer a Constituição”. A atitude do general – que nesta quinta-feira (27) disse ter sido mal interpretado – gerou uma nova crise interna na coligação de Bolsonaro, que é alvo do “fogo amigo” involuntários de aliados quase toda semana.
Recorde outras episódios que causaram saia justa à campanha do capitão do Exército:
A volta da CPMF
O economista Paulo Guedes, apontado como ministro da Fazenda em um eventual governo Bolsonaro, caiu em desgraça no dia 18 de setembro ao propor a volta da CPMF em um encontro reservado com investidores, em São Paulo. O imposto sobre movimentações financeiras, que ficou conhecido pelos brasileiros como “imposto do cheque”, foi extinto em 2007 pelo Congresso Nacional.
A ideia de Guedes é criar um tributo único para capitalizar a Previdência Social. Ele jurou de pés juntos que essa “CPMF” substituiria outros tributos, não sendo portanto um novo imposto. Mas a fala foi suficiente para causar furor na opinião pública. Bolsonaro passou a ser atacado pelos rivais na corrida eleitoral, especialmente Geraldo Alckmin (PSDB). O capitão se viu obrigado a desmentir o seu guru por meio de mensagem na internet: “nossa equipe econômica trabalha para redução de carga tributária, desburocratização e desregulamentações. Chega de impostos é o nosso lema!”
“Fábrica de desajustados”
No dia 17 de setembro, o general Mourão já havia passado do ponto ao afirmar em palestra que famílias sem pai e avô em áreas pobres são “fábrica de elementos desajustados”. “A partir do momento em que a família é dissociada, surgem os problemas sociais. Atacam eminentemente nas áreas carentes, onde não há pai e avô, mas sim mãe e avó, por isso é fábrica de elementos desajustados que tendem a ingressar nessas narcoquadrilhas”, disse.
A declaração causou reações favoráveis e contrárias nas redes sociais, com manifestações que deixaram Mourão em evidência por alguns dias.
Na mesma palestra, o candidato a vice de Bolsonaro criticou os governos Lula e Dilma Rousseff pela aproximação diplomática do Brasil com países africanos e latino-americanos, chamados por ele de “mulambada”.
“Indolência dos indígenas”
O vice de Jair Bolsonaro protagonizou outra polêmica desnecessária no dia 6 de agosto ao dizer que o Brasil herdou a “indolência” dos indígenas e a “malandragem” dos africanos. A declaração foi feita durante evento da Câmara de Indústria e Comércio de Caxias do Sul (RS), mas ele já havia feito a mesma afirmação, em junho, durante palestra para comerciantes em Curitiba.
“Temos uma herança cultural, uma herança que tem muita gente que gosta do privilégio (...) Essa herança do privilégio é uma herança ibérica. Temos uma certa herança da indolência, que vem da cultura indígena. Eu sou indígena. Meu pai é amazonense. E a malandragem (...) é oriunda do africano”, afirmou. “Então, esse é o nosso cadinho cultural. Infelizmente gostamos de mártires, líderes populistas e dos macunaímas.”
Marina Silva (Rede) foi um dos presidenciáveis que aproveitou a deixa para criticar a campanha de Bolsonaro. “Extremismo e racismo são uma combinação perigosa. Não podemos tolerar racismo numa corrida presidencial”, escreveu.
Deixa comigo!
Cinco dias após Jair Bolsonaro sofrer um ataque a faca durante um ato de campanha em Juiz de Fora (MG), o seu candidato a vice-presidente encaminhou uma consulta ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para saber se poderia participar dos debates na TV, em substituição a Bolsonaro. Detalhe: sem consultar ninguém da campanha.
Perguntado se queria assumir o posto do capitão nos evento de rua, Mourão refugou. “Esse negócio de eventos de rua, ser carregado pelos ombros, não pertence a mim. Eu não sou o cara de rua. O cara de rua é ele. Ele é o líder de massa”, disse o candidato a vice.
A consulta ao TSE enfureceu alguns aliados de Bolsonaro, que consideraram, precipitado e importuno o pedido do general.
Ausência nos debates
Até o braço direito de Bolsonaro precisou ser repreendido pelo presidenciável após “colocar a carroça na frente dos bois”. No dia 22 de agosto, em entrevista à Folha de S. Paulo, o presidente do PSL, Gustavo Bebianno, disse que o militar não iria mais a debates na TV, depois de participar dos encontros na Band e na Rede TV. “Ganha quem mente mais”, disse, na ocasião, um dos homens mais próximos do candidato.
“Ele está de saco cheio desses debates inócuos, que não levam a nada. Não sabemos se ele vai aos outros”, afirmou. Bebianno criticou o formato dos confrontos, que nivelariam os postulantes “por baixo”
No dia seguinte, Bolsonaro veio a público desmentir o aliado, afirmando que compareceria sim aos próximos debates. No final das contas, o presidenciável acabou mesmo de fora por causa do ataque a faca que sofreu em Juiz de Fora (MG), no dia 6 de agosto, quando participava de um ato de campanha.
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