O empresário Romeu Zema (NOVO) disputa o segundo turno contra o senador Antônio Anastasia (PSDB) na disputa pelo governo de Minas Gerais depois de uma virada inesperada em cima do atual governador Fernando Pimentel (PT). Com chances reais de se eleger, como mostra a última pesquisa Ibope para o governo do estado, Zema pode se tornar o primeiro governador eleito pelo Novo e se tornar uma importante vitrine para a legenda recém-criada.
A disputa no segundo turno entre Anastasia e Pimentel era dada como certa até o início de outubro. O candidato do Novo, um empresário que até então não tinha expressão política e vem de um partido pequeno recém-criado, virou a política mineira do avesso na reta final do primeiro turno.
Para Leonardo Barbosa e Silva, professor de ciência política na Universidade Federal de Uberlândia, dois fatores explicam a explosão de votos em direção a Zema nos últimos dias antes da votação. “O primeiro é ele ter se vinculado, bem na reta final do primeiro turno, ao candidato Jair Bolsonaro [PSL]. Ele tentou nacionalizar o embate em Minas Gerais”, explica. “No momento em que o Zema se liga à candidatura nacional, sendo que o PSDB não fazia isso, ele tentou trazer para si o anseio da população que se filiou à campanha de Bolsonaro”, completa.
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No último debate do primeiro turno, realizado pela afiliada da Rede Globo em Minas Gerais, Zema utilizou o tempo de considerações finais para pedir que o eleitor votasse em João Amoêdo, candidato do Novo à presidência, ou em Jair Bolsonaro (PSL). Ele chegou a ser repreendido pelo Novo, que considerou a fala “inaceitável” e chegou a emitir uma nota afirmando que Zema cometeu “infidelidade partidária”. Mesmo assim, Zema conseguiu garantir sua passagem para o segundo turno no estado.
Traição de caciques impulsiona candidatura
Outro fator que explica a ascensão de Zema na reta final, segundo Silva, é menos explícito. “Vários caciques locais em Minas Gerias saltaram do barco do PSDB e colocaram suas máquinas para funcionar a favor do Zema”, explica.
Importantes figuras políticas no estado, membros do PP, PSB e até do PSDB e DEM passaram a apoiar a candidatura do empresário em detrimento de Anastasia, aliado histórico das siglas em Minas Gerais.
Esse fenômeno, inclusive, não ficou restrito ao estado. Partidos que estavam coligados com Geraldo Alckmin (PSDB) no plano nacional também “traíram” o tucano e passaram a fazer campanha para Lula (PT) e, posteriormente, para Fernando Haddad (PT), principalmente no Nordeste.
Trajetória das pesquisas
Na primeira pesquisa divulgada depois do registro das candidaturas, em agosto, Anastasia aparecia com 48% das intenções de votos válidos, seguido por Pimentel, que tinha 29%. Zema, nesse levantamento, tinha apenas 7%.
O empresário cresceu significativamente na véspera da eleição, quando alcançou 23% dos votos válidos, segundo o Ibope, empatado tecnicamente com Pimentel, que tinha 25%. Anastasia, nesse levantamento, tinha 42% das intenções de votos válidos.
A pesquisa boca de urna divulgada no fim da tarde do dia 7 de outubro mostrava a tendência de virada de Zema, que se confirmou. O empresário apareceu com 41% das intenções válidas, a frente de Anastasia, que tinha 29% e Pimentel, 22%.
A pesquisa boca de urna do Ibope foi bem parecida com o resultado do primeiro turno no estado: Zema fez 42,7%, Anastasia, 29% e Pimentel, 23%.
No segundo turno, o candidato do Novo está em vantagem. A última pesquisa Ibope mostra Zema com 66% das intenções de votos válidos. Anastasia tem apenas 34%, segundo o levantamento.
Mandato servirá de vitrine para o Novo, mas também um teste para o partido
Zema provavelmente será eleito no segundo turno para comandar Minas Gerais - um estado estratégico do ponto de vista nacional - pelos próximos quatro anos. O empresário é o único candidato do Novo com chances de se eleger para um cargo executivo nesse ano.
“Ele vai ser um balão de ensaio do Novo dentro de gestões no executivo no Brasil. O que ele fizer ou deixar de fazer vai contribuir para o futuro do partido”, ressalta o professor de ciência política.
Uma vez no governo, Zema vai precisar se submeter ao sistema partidário no estado e formar alianças na Assembleia Legislativa para conseguir governar. “Vai ser um momento de teste, inclusive de discurso, do Novo”, alerta Silva.
Desde que o partido foi criado, os dirigentes da sigla insistem que não aceitarão recursos do Fundo Partidário e não concordam com o sistema de governo que classificam como “toma lá, dá cá”, em que o Executivo negocia cargos com o Legislativo em troca de apoio.
Liderança do partido desafiada
Zema usou como estratégia para chegar ao segundo turno o apoio a Bolsonaro e foi repreendido publicamente pelo partido. Agora, pode se tornar um cacique dentro da legenda, por ser o único filiado a conquistar um cargo no Poder Executivo, e em um estado importante do ponto de vista estratégico – Minas é o segundo maior colégio eleitoral do país.
“Ele tem mais de 70% da expectativa de voto. Isso cacifa em um estado que é estratégico para o país. Isso afaz com que ele seja imediatamente alçado a um importante quadro do partido”, destaca Silva.
O candidato que disputou a eleição presidencial pelo partido, João Amoêdo, também é empresário. Ele chegou a ser criticado durante a pré-campanha por tratar a legenda como uma empresa na qual ele seria o proprietário. Agora, deve ter sua liderança desafiada por Zema.
“O Zema não é um homem de partido, ele é um empresário”, ressalta Silva. O perfil ‘não político’, inclusive, ecoa para outros quadros da legenda. “Vamos ver duelos de empresários dentro de uma máquina partidária”, profetiza o professor de ciência política.
Afinal, quem é Romeu Zema?
Zema é natural de Araxá, em Minas Gerais, e é formado em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo. Ele é um dos donos do Grupo Zema, rede de varejo com 430 lojas em seis estados do Brasil que fatura R$ 4,5 bilhões por ano. Ele foi presidente do Conselho de Administração do grupo, que atua em segmentos como moda, postos de combustíveis, móveis e eletrodomésticos. Segundo o empresário, a rede tem 5,5 mil funcionários.
O candidato declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) uma lista de bens majoritariamente composta por investimentos e participações societárias. O patrimônio declarado é de R$ 69,7 milhões.
Segundo dados do TSE, Zema gastou R$ 1,1 milhão na campanha do primeiro turno. Ele declarou ter arrecadado R$ 1,7 milhão. A maior parte, 64% do total, veio através de doações de pessoas físicas. O partido contribuiu com R$ 390 mil e Zema injetou R$ 235 mil em recursos próprios na campanha.
Metodologias
29 de agosto: Pesquisa realizada pelo Ibope de 24/ago a 26/ago/2018 com 1204 entrevistados (Minas Gerais). Contratada por: Rede Globo. Registro no TSE: MG-07647/2018 . Margem de erro: 3 pontos percentuais. Confiança: 95%.
12 de setembro: Pesquisa realizada pelo Ibope com 1.512 entrevistados (Minas Gerais). Contratada por: REDE GLOBO. Registro no TSE: MG-00240/2018. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Confiança: 95%.
17 de setembro: Pesquisa realizada pelo Ibope de 14/set a 16/set/2018 com 1.512 entrevistados (Minas Gerais). Contratada por: REDE GLOBO. Registro no TSE: MG-09508/2018. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Confiança: 95%.
27 de setembro: Pesquisa realizada pelo Ibope de 24/set a 26/set/2018 com 2.002 entrevistados (Minas Gerais). Contratada por: REDE GLOBO. Registro no TSE: MG-05657/2018. Margem de erro: 2 pontos percentuais. Confiança: 95%.
2 de outubro: Pesquisa realizada pelo Ibope de 29/set a 1/out/2018 com 2.002 entrevistados (Minas Gerais). Contratada por: REDE GLOBO. Registro no TSE: MG-00237/2018. Margem de erro: 2 pontos percentuais. Confiança: 95%.
6 de outubro: Pesquisa realizada pelo Ibope de 4/out a 6/out/2018 com 2.002 entrevistados (Minas Gerais). Contratada por: REDE GLOBO. Registro no TSE: MG-01559/2018. Margem de erro: 2 pontos percentuais. Confiança: 95%.
7 de outubro: Pesquisa realizada pelo Ibope/Boca de Urna em 7/out com 3.200 entrevistados (Minas Gerais). Contratada por: IBOPE INTELIGENCIA PESQUISA E CONSULTORIA . Registro no TSE: MG-03349/2018. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Confiança: 99%.
17 de outubro: Pesquisa realizada pelo Ibope de 15/out a 17/out/2018 com 1.512 entrevistados (Minas Gerais). Contratada por: REDE GLOBO. Registro no TSE: MG-00033/2018. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Confiança: 95%.