A última pesquisa Datafolha, divulgada no sábado (2), mostrou que o ex-presidente Lula (PT) se consolidou na liderança da disputa pela Presidência em 2018. A íntegra do levantamento, porém, só foi disponibilizada na segunda-feira (4). E traz um lado B que pouca gente viu e que pode mudar os rumos da eleição presidencial de outubro do ano que vem.
A Gazeta do Povo mergulhou nos dados do Datafolha e traz alguns números e conclusões que passaram despercebidos. Há ligeiramente mais eleitores que dizem que não votariam no petista de jeito nenhum do que os que querem votar nele. A rejeição a Jair Bolsonaro (PEN/Patriota) é equivalente à de concorrentes menos “polêmicos”. O eleitor só tem dois candidatos de verdade na cabeça (por enquanto); e ambos perdem para o voto nulo e branco. E, finalmente, tem concorrente que parece fora do jogo, mas que não está.
A rejeição a Lula é maior do que o apoio a ele
Dentre os candidatos colocados na pesquisa pelo Datafolha, Lula só não é mais rejeitado que o presidente Michel Temer (PMDB): 71% dos eleitores não votariam de jeito nenhum no peemedebista; a rejeição ao petista é de 39%.
Como Lula tem entre 34% e 37% de intenções de voto, dependendo do cenário, o Datafolha mostra que o petista tem um eleitorado “do contra” pouco acima do número de eleitores “a favor”. Ainda que se considere que a margem de erro do levantamento é de dois pontos porcentuais para cima ou para baixo, não há “empate técnico” em pelo menos um dos cinco cenários avaliados com Lula como candidato.
Apesar da alta rejeição, há uma tendência de queda no porcentual de eleitores que dizem que não votariam no petista de jeito nenhum. Na pesquisa Datafolha anterior à atual, divulgada em outubro, Lula era rejeitado por 42% dos eleitores.
O atual patamar de rejeição a Lula não é impeditivo para ele se eleger. Isso ocorre quando o candidato, mesmo tendo altos índices de intenção de voto, apresenta rejeição superior a 50% do eleitorado.
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A rejeição de Bolsonaro é parecida com a de políticos menos “polêmicos”
O Datafolha mostra que ter posições extremadas, ao menos para a imagem do candidato, neste momento não tem sido tão ruim como muitos imaginam. A rejeição ao deputado Jair Bolsonaro (PEN/Patriota) é parecida com a de outros concorrentes com posições menos polêmicas.
Não votariam de jeito nenhum em Bolsonaro 28% dos eleitores. Nesse aspecto, ele está tecnicamente empatado com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB, que tem 27% de rejeição) e a ex-senadora Marina Silva (Rede, 24%).
Na sequência dos mais rejeitados aparecem João Doria (PSDB, 22%), Fernando Haddad (PT, 22%), Ciro Gomes (PDT, 22%), Henrique Meirelles (PSD, 22%), Manuela D´Ávila (PCdoB, 18%), Alvaro Dias (Podemos, 17%), Paulo Rabello de Castro (PSC, 17%), João Amoêdo (Novo, 16%), Guilherme Boulos (sem partido, 16%) e Joaquim Barbosa (sem partido, 15%).
Na cabeça do brasileiro só existem dois candidatos. E ambos perdem para o voto nulo e branco; e para o “não sei”
A divulgação das sondagens de intenção de voto costuma dar destaque à pesquisa estimulada – quando o entrevistador apresenta ao entrevistado uma lista de candidatos previamente definida. Como o próprio nome diz, o entrevistador dá um estímulo para que a pessoa responda.
Quem estuda levantamentos eleitorais, porém, costuma afirmar que, no atual momento, vários meses antes da campanha, é preciso dar atenção à pesquisa espontânea – quando o entrevistador não interfere e o entrevistado fala o que vem à sua cabeça.
A espontânea do último Datafolha mostra que, hoje, praticamente só há dois candidatos relevantes na cabeça do eleitor: Lula e Bolsonaro. E, nesse critério, a diferença entre os dois é bem menor do que na estimulada. O petista é citado de cabeça por 17% dos eleitores como o candidato em quem votariam para presidente; e Bolsonaro por 11%. Os demais nomes alcançam no máximo 1%.
O mais curioso é que 19% dos entrevistados (mais do que os eleitores de Lula e Bolsonaro) dizem que pretendem votar e branco ou nulo. E uma gigantesca parcela dos brasileiros não soube apontar de cabeça nenhum nome em quem gostaria de votar.
Os números podem ser explicados pelo fato de a eleição ainda estar distante e suscitar pouca atenção para a maioria das pessoas. Mas há quem veja nesses dados a janela de oportunidade para o surgimento de um nome “novo”, que vença a rejeição que parte expressiva dos brasileiros tem em relação aos políticos tradicionais.
SAIBA MAIS: A íntegra da pesquisa do Datafolha
Pesquisas realizadas a tanto tempo da eleição dão a impressão de que alguns candidatos estão fora do jogo. Mas eles não estão
Os números de pesquisas realizadas meses antes do começo da campanha eleitoral dão a impressão de que alguns candidatos não têm chance alguma por causa de seus baixos índices de intenção de voto.
O que poucos notam, contudo, é que nessa fase de pré-campanha existe muita variação de conhecimento dos eleitores em relação aos concorrentes. Candidatos que hoje são desconhecidos dos brasileiros, nesse sentido, têm potencial de crescer quando a propaganda no rádio e na televisão começar.
O último Datafolha, por exemplo, tem candidato conhecido por 99% dos eleitores (no caso, Lula). Na outra ponta, há concorrente (João Amoêdo) que apenas 16% dos brasileiros sabem quem é.
A lista dos demais candidatos e seus respectivos índices de conhecimento é a seguinte: Michel Temer (95%); Marina Silva (90%); Geraldo Alckmin (85%); Ciro Gomes (79%); Jair Bolsonaro (70%); João Doria (58%); Joaquim Barbosa (54%); Fernando Haddad (54%); Henrique Meirelles (48%); Alvaro Dias (44%); Paulo Rabello de Castro (25%); Manuela D’Ávila (24%); e Guilherme Boulos (17%).
Um detalhe importante dessa lista é que o segundo colocado na pesquisa, Bolsonaro, ainda é desconhecido por 30% dos eleitores. Ou seja, quando a campanha começar, ele pode crescer ainda mais.
Metodologia da pesquisa
A pesquisa Datafolha divulgada no sábado (2) ouviu 2.765 eleitores, em 192 cidades de todas as regiões do país, nos dias 29 e 30 de novembro. A margem de erro é de dois pontos porcentuais, para cima ou para baixo. O grau de confiança é de 95% – o que significa que, se a pesquisa for realizada 100 vezes, em 95 os resultados estarão dentro da margem de erro.
No levantamento de março de 2016, realizado nos dias 17 e 18 daquele mês, o Datafolha ouviu 2.794 eleitores em 171 municípios das cinco regiões brasileiras. A margem de erro é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos. E o grau de confiança é de 95%.
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