A pesquisa Ibope para a eleição presidencial divulgada na noite de segunda-feira (20) não mostrou grandes novidades para quem vem acompanhando os levantamentos eleitorais: o ex-presidente Lula (PT) na liderança, seguido de Jair Bolsonaro (PSL) e com os demais candidatos relevantes embolados na luta pela terceira colocação (ou segunda, no cenário em que o ex-presidente é trocado por Fernando Haddad). Mas o Ibope também trouxe outros dados, menos divulgados, que indicam tendências e potencialidades que podem mudar os rumos e o futuro da eleição presidencial.
Confira sete informações pouco evidentes do Ibope que podem ditar o rumo da eleição presidencial:
1. Os números mostram que Bolsonaro é o anti-Lula. E isso pode ser ruim para o candidato do PSL
Os dados do Ibope mostram que Jair Bolsonaro (PSL) é o candidato mais tipicamente identificado como o “anti-Lula”. O segmento do eleitorado em que Bolsonaro tem desempenho melhor é justamente aqueles nos quais o petista apresenta seus piores números. E vice-versa.
Isso pode ser um problema para Bolsonaro se Lula não disputar a eleição: sem a “ameaça” de que o ex-presidente se eleja, parte do eleitorado do candidato do PSL pode não ver mais necessidade em votar no “anti-Lula” para evitar o que entende ser um risco para o país. A situação, contudo, muda se Fernando Haddad (PT) crescer nas pesquisas e tiver chance de ir ao segundo turno com as bênçãos de Lula. Bolsonaro tenderia a ser rapidamente identificado como anti-Haddad.
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Os números do Ibope mostram que Bolsonaro vai bem entre os eleitores brancos (22% das intenções de voto, contra 16% de pretos e pardos); entre os homens (25% das intenções de voto de homens no cenário com Lula, contra apenas 12% das mulheres); nas regiões Centro-Oeste e Norte (29%); entre os mais escolarizados (23% dos eleitores com ensino superior); e entre os brasileiros com renda maior (30% entre os eleitores que ganham mais de 5 salários mínimos).
Lula tem desempenho ligeiramente melhor entre as mulheres do que com homens (39% contra 35%). É mais popular entre os negros e pardos do que entre os brancos (44% contra 26%). Tem seu pior resultado no Centro-Oeste/Norte (33% – situação de empate técnico com Bolsonaro). Tem apenas 23% entre os eleitores com ensino superior (outro empate com Bolsonaro). E só 17% entre os que ganham mais de 5 salários mínimos, pouco mais da metade do candidato do PSL.
Em compensação, Lula reina absoluto no Nordeste: 60% das intenções de voto contra apenas 9% de Bolsonaro. Tem 51% das intenções de voto dos eleitores cursaram no máximo até a 4.ª série do ensino fundamental (o candidato do PSL tem 8% nesse eleitorado). E o petista tem 53% entre os brasileiros que ganham até 1 salário mínimo. Bolsonaro conquista os votos de só 10% desses eleitores.
2. Só há verdadeiramente dois candidatos na cabeça do eleitor neste momento: Lula e Bolsonaro. E isso pode ser bom para os outros
Os números de intenções de voto que costumam ser mais amplamente divulgados são os da pesquisa estimulada, quando o entrevistador apresenta os nomes dos candidatos ao eleitor – o que o incentiva a fazer uma escolha. Mas a pesquisa espontânea, em que o pesquisador apenas pergunta em quem o eleitor vai votar, mostra quais são os candidatos que verdadeiramente estão na cabeça das pessoas. Trata-se também de um voto mais convicto.
Nesse cenário, há apenas dois concorrentes relevantes na atual eleição: Lula (com 28% das intenções de voto na pesquisa espontânea) e Bolsonaro (15%). Nenhum outro candidato ultrapassa os 2%. Isso sugere que há um grande desconhecimento do eleitor em relação aos demais candidatos. Isso pode ser bom para eles. À medida que a campanha avança e eles ficam mais conhecidos, têm chance de crescer.
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3. Santo de casa pode fazer milagre, sim: candidatos têm melhor desempenho em suas próprias regiões
Tirando os dois principais candidatos da eleição presidencial até agora (Lula e Bolsonaro), que já firmaram seus nomes nacionalmente, os demais concorrentes mais bem colocados nas pesquisas têm seus melhores desempenhos nas suas próprias regiões. Isso indica que podem crescer à medida que fiquem mais conhecidos no restante do país.
O melhor resultado de Marina Silva (Rede), que é do Acre, é nas regiões Norte/Centro-Oeste: 15%. O cearense Ciro Gomes (PDT) chega a 14% no Nordeste, também na simulação sem o ex-presidente. O paulista Geraldo Alckmin (PSDB) faz 11% no Sudeste. E o paranaense Alvaro Dias (Podemos) chega a 12% no Sul. Todos esses resultados se referem às intenções de voto dos candidatos no cenário sem Lula.
4. Lula e Bolsonaro estão à frente na pesquisa, mas são os que têm menos chances de crescer
A rejeição, que indica os candidatos em que o eleitor não votaria de jeito nenhum, é um bom termômetro para avaliar o potencial de crescimento. Quanto mais rejeitado, menor é a parcela do eleitorado que pode vir a ser conquistado pelo candidato. O contrário também é verdadeiro: com uma rejeição baixa, o concorrente tem mais espaço para aumentar suas intenções de voto.
Nesse sentido, embora Lula e Bolsonaro estejam à frente na pesquisa Ibope, são os dois que menos chances têm de crescer. A rejeição de Bolsonaro é de 37% dos eleitores. A de Lula, 30%. Na sequência, dentre os principais candidatos, vêm Geraldo Alckmin (25%), Marina Silva (23%), Ciro Gomes (21%), Fernando Haddad (16%), Henrique Meirelles (MDB, 13%) e Alvaro Dias (Podemos, 11%). Alvaro, Meirelles e Haddad são, potencialmente, os que mais podem crescer.
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5. Lula pode vencer já no 1.º turno. Se sua candidatura não for barrada
O ex-presidente Lula, caso consiga viabilizar sua candidatura na Justiça Eleitoral, tem chances de vencer a eleição já no primeiro turno. Ele aparece com 37% das intenções de voto. A soma dos demais candidatos é 41%. Se o petista crescer mais cinco pontos porcentuais, teria mais da metade dos votos válidos – condição para encerrar a disputa sem a necessidade de um segundo turno.
6. “Órfãos” de Lula são 16% dos eleitores
A saída de Lula da eleição aumenta consideravelmente o número de brasileiros que pretendem anular o voto ou votar em branco. Com o ex-presidente na disputa, 16% dos eleitores dizem que vão tomar essa atitude. Sem ele, os brancos e nulos amentam para 29%. Ou seja, há 13% de eleitores que não veem nenhum outro concorrente como opção viável. A saída de Lula também aumenta o porcentual de indecisos em 3 pontos porcentuais, de 6% para 9% do eleitorado.
Ou seja, a ausência do ex-presidente provoca desalento e indecisão em 16% de seu eleitorado – porcentual que hoje seria suficiente para levar um candidato ao segundo turno no cenário sem o ex-presidente na disputa pelo Planalto. São os “órfãos” de Lula, à espera de um candidato que os “adote”.
7. Sem Lula, Marina e Ciro são os que mais ganham eleitores. Mas ela é quem avança mais no eleitor típico do petista
No cenário com Lula, Marina Silva e Ciro Gomes têm 6% e 5% das intenções de voto, respectivamente. Sem o petista, ela dobra para 12% e ele tem quase o mesmo desempenho, saltando para 9%. Mas Marina, que já foi do PT, é quem conquista o eleitor mais tipicamente lulista: com menos renda, menos escolarização, preto ou pardo e do Nordeste. Isso indica que Marina pode tentar capitalizar essa identificação que parte do eleitorado ainda faz entre ela e o PT para conquistar os “órfãos” de Lula.
Na segmentação por escolaridade, o eleitorado em que Lula se sai melhor é no dos eleitores com educação até a quarta série (51% das intenções de voto); seguido dos que têm da 5.ª à 8.ª série (44%). Na faixa até a quarta série, Marina e Ciro praticamente dobram de desempenho da simulação com Lula para o cenário sem o petista. Ela sai de 5% e chega a 10%. Ele sobe de 6% para 11%. Mas a candidata da Rede vai bem melhor entre os que passaram à 5.ª série mas não foram além da 8.ª. Com Lula, ela tem 9% nesse segmento. Sem ele, cresce para 16%. Nesse último cenário, Ciro tem apenas 9% (3% na simulação com Lula).
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Lula também é soberano entre os eleitores mais pobres. Tem 53% de intenções de voto entre aqueles com renda de até 1 salário mínimo e 42% dos eleitores que ganham entre 1 e 2 salários. Marina, na simulação com Lula, tem 6% dos votos nesses dois segmentos. A saída de Lula faz ela aumentar sua participação nesses dois segmentos para 16% e 13%, respectivamente. Sem Lula, Ciro passa de 3% para 9% entre os eleitores que ganham até 1 salário mínimo e de 6% para 9% entre os de renda de 1 a 2 salários.
Lula também é mais popular entre os pretos/pardos do que entre os brancos (44% contra 26%). E Marina, se o petista não for candidato, salta de 6% para 14% entre os eleitores pretos e pardos. Ciro aumenta seu eleitorado nesse segmento social de 5% para 9%.
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O Nordeste também é a região em que Lula se sai melhor, com 60% das intenções de voto. E sem ele na disputa, Marina é quem mais aumenta as intenções de voto dos nordestinos: ela sai de 4% e chega a 17%. Ciro também se beneficia com a saída do ex-presidente da disputa, mas numa proporção menor. Com Lula, ele tem 6% no Nordeste. Sem o ex-presidente, chega a 14%.
Confira os principais dados da pesquisa Ibope
Metodologia da pesquisa
O Ibope ouviu 2.002 eleitores entre os duas 14 e 20 de agosto em todas as regiões do país. A pesquisa, encomendada pela TV Globo e o jornal O Estado de S. Paulo, tem margem de erro de 2 pontos porcentuais para mais e para menos. O nível de confiança do levantamento é de 95%, o que significa que, se a pesquisa for feita 100 vezes com a mesma metodologia, em 95 das vezes os resultados estarão dentro da margem de erro. A pesquisa foi registrada no TSE sob o número BR-01665/2018.
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