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| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Enquanto as principais forças políticas do país já se movimentam objetivamente para a disputa presidencial de 2018, a Rede Sustentabilidade, partido da ex-ministra Marina Silva, terceira colocada na eleição de 2014, enfrenta dificuldades financeiras, uma crise ideológica e se vê diante da ameaça de debandada de filiados.

Integrantes da Rede também reclamam do isolamento de Marina, que se distanciou de parlamentares da sigla e ficou em silêncio em meio às votações das denúncias contra o presidente Michel Temer (PMDB) e do afastamento do senador Aécio Neves (PSDB-MG). O empresário Guilherme Leal, que foi seu parceiro de chapa na eleição presidencial de 2010, cuida hoje de um grupo de formação política que privilegia outros partidos.

O quadro de crise no Rede é apresentado por militantes, assessores e dirigentes do partido, que falaram à reportagem em caráter reservado. Após ter o registro aprovado pelo Tribunal Superior Eleitoral em setembro de 2015, a Rede ainda tem estrutura de partido “nanico”, o que ficou evidenciado também no fraco desempenho de seus candidatos nas eleições municipais do ano passado.

Com somente quatro deputados federais (todos eleitos por outros partidos em 2014), a legenda recebe por mês cerca de R$ 280 mil do Fundo Partidário. É pouco dinheiro para custear uma estrutura nacional. Para efeito comparativo, o PT, por exemplo, com 58 deputados, recebe R$ 8,2 milhões mensais.

O partido está hoje sem estrutura de comunicação, uma vez que rompeu os contratos com seus prestadores de serviço. Entre auxiliares há relatos de atrasos salariais.

A dificuldade em dialogar com outras legendas é outro ponto de divergência interna na Rede. O grupo de Marina reluta em formar alianças com outras siglas para ampliar o tempo de exposição na TV em 2018.

Sozinha, a Rede terá direito no ano que vem a cerca de 15 segundos em cada bloco do horário eleitoral gratuito para presidente, se forem consideradas as regras previstas na legislação eleitoral. Setores do partido defendem a união com as legendas com as quais a candidatura de Marina esteve unida em 2014: PPS, PHS, PSL e PRP. Naquela eleição, sem conseguir o registro da Rede, a ex-ministra concorreu na chapa do PSB, primeiro como vice de Eduardo Campos e, após a morte do ex-governador de Pernambuco, como presidenciável.

Outra ala, porém, advoga a tese que o partido deve buscar aliança com legendas maiores, como o DEM. Um terceiro grupo prega que a Rede enfrente sozinha as urnas.

Isolamento

Um dos principais motivos de queixa de integrantes da Rede em relação à Marina é o isolamento da ex-ministra. De acordo com militantes ouvidos pelo Estado, o círculo próximo de Marina é composto pelos coordenadores executivos do partido, Bazileu Margarido e Carlos Painel, o coordenador de organização, Pedro Ivo, e a ex-senadora Heloisa Helena.

Segundo integrantes da Rede ouvidos pela reportagem, Marina concentra sua interlocução com este chamado “núcleo duro” e se distanciou dos parlamentares da sigla, que formaram um outro polo de poder na legenda.

Enquanto o deputado federal Alessandro Molon (Rede-RJ) e o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) ganharam protagonismo nas votações das denúncias contra o presidente Michel Temer e sobre o afastamento do senador Aécio Neves (PSDB-MG), Marina se calou.

Mais recentemente integrantes do núcleo duro da legenda passaram a apostar nas chamadas “candidaturas cívicas” para 2018. A Rede, ao lado do PSOL, é o partido que mais tem dialogado com movimentos organizados que buscam legendas para lançar candidatos no ano que vem.

Por outro lado, grupos que têm questionado a liderança de Marina admitem reservadamente que poderão deixar a Rede e concorrer por outra legenda em 2018. Não será a primeira vez. Por causa do apoio de Marina a Aécio Neves no segundo turno da eleição de 2014, houve uma debandada de dirigentes e militantes antes mesmo de o partido obter o registro na Justiça Eleitoral. No ano passado, após o fraco desempenho em sua primeira disputa eleitoral - elegeu apenas seis prefeitos -, a Rede sofreu novo revés e um grupo de intelectuais e fundadores deixou o partido com críticas a Marina.

Atualmente, segundo integrantes da Rede, Molon é um dos que tem manifestado desconforto com a postura de Marina e de seu grupo mais próximo. O deputado passou a ser apontado como um dos nomes da possível debandada. Por meio de sua assessoria, ele negou que esteja de saída do partido. Conforme militantes, o hermetismo da Rede também dificulta o crescimento orgânico do partido, que hoje conta com 18.686 filiados.

Procurada, Marina informou que não iria dar entrevista.

Projeto político de ex-vice privilegia outros partidos

A ex-ministra Marina Silva não vai contar em 2018 com o apoio do empresário Guilherme Leal, que foi seu parceiro de chapa na eleição presidencial de 2010.

Fundada em 2012, a Rede de Ação Política Pela Sustentabilidade (RAPS), grupo criado pelo sócio da fabricante de cosméticos Natura, promove formação política e apoia parlamentares para influenciar no Congresso.

Hoje conta com 12 deputados federais, sendo apenas um da Rede. A legenda mais presente é o PSDB, com 4 parlamentares, e o PV, com 3. Entre os deputados que integram o grupo estão nomes com perfis diametralmente opostos, como o tucano Marcus Pestana e Jean Wyllys (PSOL).

“O campo da sustentabilidade é mais amplo que a Rede e que a eventual candidatura da Marina. Não está claro quem serão os candidatos, mas estamos conversando com PSDB, PSB e PPS”, disse à reportagem o diretor executivo da RAPS, Marcos Vinícius de Campos. Outros membros do grupo dizem reservadamente que Marina deixou de “vocalizar” o discurso ambiental e reclamam do “recolhimento” da ex-ministra.

Em 2018, o objetivo da RAPS é apoiar nomes novos, como o líder do Vem Pra Rua, Rogério Chequer. A ideia é reforçar uma estrutura “transversal” aos partidos na Câmara. A RAPS trabalha com a formação de quadros políticos.

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