A Operação Skala, deflagrada pela Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira (29), chegou muito perto do presidente Michel Temer (PMDB). Foram presos pelo menos dois amigos pessoais do peemedebista – o coronel João Batista Lima Filho e o advogado José Yunes –, além de um aliado político de longa data de Temer, o ex-ministro Wagner Rossi.
Além da proximidade com Temer, os três partilham de outro elo comum: supostas relações com empresas que mantêm negócios suspeitos no Porto de Santos – tido como uma antiga área de influência política de Temer.
Saiba quem são os três “amigões” de Temer e suas relações perigosas com o maior terminal portuário do país:
Coronel Lima, o suposto “despachante” de Temer no porto
Amigo pessoal de Temer há mais de 30 anos, o coronel reformado da PM-SP João Batista Lima Filho é suspeito de ser o operador financeiro do presidente no Porto de Santos.
A relação entre o coronel Lima e o porto veio à tona durante as investigações da PF na empresa de celulose Eldorado (pertencente ao grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista). A Eldorado tem um terminal portuário em Santos. A área foi comprada da empresa Rodrimar – outra investigada na Operação Skala e que é suspeita de ter sido beneficiada pelo Decreto dos Portos, editado por Temer.
Agendas do ex-presidente da Eldorado José Carlos Grubisich, apreendidas pela PF, fazem referência ao coronel. A suspeita é de que o amigo de Temer, em nome do peemedebista, tenha negociado com a Eldorado a liberação da obra de construção do terminal portuário da empresa. Isso porque a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) – responsável pelo Porto de Santos – embargou as obras em 2015.
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Além disso, o ex-executivo da J&F Ricardo Saud contou em sua delação premiada que o coronel teria sido a pessoa indicada pelo então vice-presidente para receber uma propina de R$ 1 milhão, em dinheiro vivo.
Lima Filha também é dono de uma fazenda em Duartina, interior de São Paulo, invadida quatro vezes por grupos de sem-terra que dizem que a propriedade é, na verdade, do próprio Temer.
O coronel ainda é proprietário da construtora Argeplan – citada na delação do empreiteiro José Antunes Sobrinho, sócio da Engevix, como intermediária na captação de propina em contratos da Eletronuclear.
José Yunes: o amigo “mula”
Advogado e ex-deputado constituinte, José Yunes não é apenas um aliado de Temer. É um dos amigos mais próximos do presidente. Chamava a si próprio de “psicoterapeuta político” de Temer, a quem conhece há mais de 40 anos.
Yunes foi citado na delação de Joesley Batista, dono do grupo J&F – que mantém um terminal no Porto de Santos por meio da empresa Eldorado. Segundo Joesley, Temer indicou Yunes para atuar na defesa de uma empresa do grupo J&F, cujo nome não foi revelado. O valor do contrato, que acabou não se concretizando, seria de R$ 50 milhões para o advogado.
José Yunes também foi assessor especial de Temer na Presidência até ter sido citado na “delação do fim do mundo” da Odebrecht. Até 2017, a Odebrecht era sócia da Empresa Brasileira de Terminais Portuários (Embraport), maior terminal portuário multimodal privado do Brasil, que opera justamente no Porto de Santos.
O delator Cláudio Melo Filho, ex-vice-presidente de relações institucionais da Odebrecht, afirmou que Yunes recebeu R$ 10 milhões em espécie, em seu escritório de advocacia. A verba seria destinada ao caixa 2 da campanha da chapa Dilma/Temer em 2014.
Após a revelação do caso, Yunes admitiu ter recebido um envelope. E disse que havia sido “mula involuntário” do hoje ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha (PMDB). “O Padilha, em 2014, pediu se poderia uma pessoa entregar um documento no meu escritório que uma outra pessoa iria pegar. Falei: ‘sem problema nenhum’. Foi o que ocorreu. Agora, quem levou o documento, que eu não conhecia a pessoa, é o tal de Lúcio Funaro [doleiro preso pela Lava Jato]”, disse Yunes. O advogado ainda afirmou que era impossível haver R$ 10 milhões no envelope que recebeu – e que, segundo ele, não abriu.
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Wagner Rossi: o amigo do porto... e do avião
Ex-deputado federal pelo PMDB, ex-ministro da Agricultura e ex-presidente da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), Wagner Rossi foi quem apresentou o empresário Joesley Batista ao presidente Michel Temer. Isso ocorreu em 2010, segundo depoimento da delação premiada de Joesley.
Quando o escândalo da J&F estourou, no ano passado, descobriu-se que Temer havia usado em 2011 um jato de Joesley para viajar à Bahia. Constrangido pela revelação, o presidente disse que “achava” que o empréstimo do avião havia sido intermediado por Rossi.
Mas, segundo o dono do grupo J&F, suas relações com Wagner Rossi como intermediário de Temer eram muito mais profundas. Joesley relatou que o ex-ministro falava em nome do presidente para negociar propinas.
Os investigadores suspeitam ainda que Rossi era um nome útil porque tinha contados no Porto de Santos desde o tempo em que havia presidido a Codesp, estatal que controla o terminal portuário – onde a J&F tinha interesses por meio da Eldorado Celulose.
Wagner Rossi é pai do deputado federal Baleia Rossi (PMDB-SP), líder do partido na Câmara. Baleia gosta de dizer que mantém com Temer uma relação de décadas de amizade. E se orgulha de ter sido um dos articuladores do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que levou Temer ao Planalto.
Outro lado
Pessoalmente ou por meio de seus advogados, coronel Lima, José Yunes e Wagner Rossi, em todas as ocasiões que se pronunciaram sobre as suspeitas, negaram ter cometido qualquer irregularidade.
Sobre a Operação Skala, o advogado de Yunes, José Luis Oliveira Lima, afirmou ser “inaceitável a prisão de um advogado com mais de 50 anos de advocacia, que sempre que intimado ou mesmo espontaneamente compareceu à todos os atos para colaborar”. “Essa prisão ilegal é uma violência contra José Yunes e contra a cidadania.”
Os advogados de Rossi emitiram uma nota: “Wagner Rossi aposentou-se há sete anos. Desde então, nunca mais atuou profissionalmente na vida pública ou privada. Também nunca mais participou de campanhas eleitorais ou teve relacionamentos políticos. Mora em Ribeirão Preto onde pode ser facilmente encontrado para qualquer tipo de esclarecimento. Nunca foi chamado a depor no caso mencionado. Portanto, são abusivas as medidas tomadas. Apesar disso, Wagner Rossi está seguro de que provará sua inocência”.
A defesa do coronel Lima não emitiu nenhum comunicado sobre as investigações. O ministro Carlos Marun, da Secretaria de Governo, saiu em defesa de Michel Temer e disse que o presidente Temer não tem nada a ver com o assunto da operação. A Rodrimar nega que tenha sido beneficiada pelo Decreto dos Portos.