O ex-ministro Ciro Gomes (PDT), pré-candidato a presidente da República, disse nesta segunda-feira (9), em Porto Alegre, que “a maioria da sociedade brasileira está muito desconfiada desse desequilíbrio” entre o tratamento que a Justiça dá ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a caciques do PSDB.
O gesto em defesa do petista foi feito após a ausência de Ciro, ou de um representante seu, no ato de sábado (8) em São Bernardo que antecedeu a prisão de Lula. Ao mesmo tempo, o presidenciável disse discordar da tese petista de que o ex-presidente é um preso político.
No mesmo evento, o pedetista afirmou que “o Brasil não cabe na polarização entre coxinhas e mortadelas”, e propôs uma trégua entre diferentes vertentes do pensamento político e econômico no Brasil para superar o conturbado momento político.
Ciro foi questionado sobre a fala do delegado Milton Fornazari Junior, da Polícia Federal, segundo quem, após Lula, era hora de outros líderes serem investigados e presos, citando Geraldo Alckmin (PSDB), Aécio Neves (PSDB) e Michel Temer (MDB).
“Não gosto de delegado falando, mas a sociedade brasileira por ampla maioria, e nela eu me incluo, está muito incomodada com o fato de que parece que a mão severa da lei só funciona contra o PT e contra o Lula. Nenhum dos altíssimos dignitários do PSDB enrolados em corrupção de altíssimo volume, com somas volumosas de dinheiro demonstrado na Suíça, passou por qualquer tipo de constrangimento”, afirmou.
Ciro participou do Fórum da Liberdade, evento do Instituto de Estudos Empresariais, que prega o liberalismo. Outros cinco presidenciáveis participaram: Henrique Meirelles (MDB), Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede), Flávio Rocha (PRB) e João Amoêdo (Novo). Jair Bolsonaro, pré-candidato pelo PSL, também foi convidado, mas recusou.
Ele indiretamente criticou a ministra Rosa Weber, do Supremo, que diz ser contra a execução de pena em segunda instância, mas negou o habeas corpus que Lula pedia.
“É muito exótico, para falar uma palavra moderada, que havendo uma tese sub judice, ou seja, pendente de deliberação, que vale para todos, haja se optado pela apreciação de um caso concreto, na frente desse caso em tese”, disse.
Ciro disse que a prisão após condenação em segunda instância – caso de Lula – é inconstitucional, embora tenha considerado que a Constituição é esdrúxula em razão dessa mesma previsão. “Nenhum país do mundo moderno garante quatro graus de jurisdição para crime comum. Só nós. Isso é uma aberração nossa. Em vez de resolver isso, você faz um puxadinho e bota uma solução exótica que viola frontalmente a Constituição.”
O pedetista, que afirmou esperar que Lula consiga sair da cadeia, discorda da versão petista de que ele seja um preso político. “Quando a gente atribui palavras a situações distintas, a gente cria confusão que não ajuda especialmente o jovem, que não sabe o que foi o preso político, como foi, por exemplo, o Lula, o [Luiz Carlos] Prestes, enfim, muitos brasileiros. Recolhidos apenas porque emitiram opiniões políticas. Você pode considerar injusta a formação da culpa do Lula, mas daí extrapolar que é um preso político me parece estranho.”
Aliança com o PT
Ciro disse que continua achando improvável uma aliança com o PT no primeiro turno. Mas não descartou uma união em eventual segundo turno.
“Provavelmente estaremos juntos como estivemos nos últimos 16 anos sem faltar nenhum dia. Isso é que é a história. Não dá para fazer de conta que faz 16 anos que eu apoio o Lula sem faltar nenhum dia.”
‘O Brasil não cabe na polarização entre coxinhas e mortadelas’, diz Ciro
Ciro Gomes propôs uma trégua entre diferentes vertentes do pensamento político e econômico no Brasil como o caminho para se superar o conturbado momento pelo qual passa o país. “Ou o Brasil se reúne com olhares distintos num amplo e generoso debate, ou temo muito pelo horizonte da nossa nação nos próximos tempos e não vamos achar o caminho”, apontou.
Para o ex-ministro, o país tem perdido muito tempo e energia com a polarização que surgiu a partir do impeachment de Dilma Rousseff (PT). “O Brasil, complexo como é, não cabe na polarização entre coxinhas e mortadelas. Tenho convicção de que, se o Brasil celebrar um grande diálogo, vira esse jogo”, declarou o presidenciável.
A iniciativa privada terá um papel importante durante seu governo, explicou Ciro, mas o candidato salientou que é necessário um “projeto de nação” para que o Brasil tenha um salto de produtividade. “A iniciativa privada já provou sua extraordinária virtude para promoção do progresso humano. Ainda assim, sozinha, ela não é capaz de resolver os problemas”, explicou.
“Precisamos refletir um pouco: o Brasil não cresce, pois está ancorado em níveis ridículos de Formação Bruta de Capital Fixo [FBCF, que mede o investimento produtivo] próprio. No melhor momento, chegamos a 17% do PIB, isso não sustenta crescimento”, disse, sinalizando que o Estado deverá atuar, durante seu eventual governo, para incentivar o investimento em maquinário produtivo e reforçar o processo de industrialização.
Reformas macroeconômicas não serão deixadas de lado em seu governo, explicou Ciro. “Nosso partido, o PDT, não tem medo de reforma. Temos compromisso com reformas”, afirmou, lembrando da importância de se reformar a Previdência Social. “Não é essa reforma do presidente, Michel Temer, a reforma proposta por Temer é puxadinho”, declarou. Ciro ainda afirmou que, diante do atual quadro de gastos previdenciários elevados, o primeiro ano de governo do próximo presidente irá “implodir” com dificuldades fiscais.
Ciro ainda propôs que seja definido um projeto nacional de desenvolvimento, com metas e objetivos estratégicos claros e bem definidos. “É a lei do menor esforço, quem tem melhor condição de encabeçar e executar um projeto deve ser o escolhido. Parece que temos dificuldades em entender essa dinâmica tão simples no Brasil”, disse.
Neste projeto de nação, explicou, também é preciso ter atenção na condução da economia como um todo, o que pode afetar a taxa de câmbio e, por consequência, o poder de compra dos brasileiros. “Se o dólar valoriza e o poder de consumo cai, pode ser o governo que for, vai ter ‘fora, Amoêdo’ ou ‘fora, Meirelles’“, pontuou.
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