Joaquim Barbosa, Luciano Huck, Bernardinho, Valéria Monteiro e Ronaldinho Gaúcho. Personalidades de áreas diversas e estranhas ao mundo político, mas que enchem de cifrões os olhos de dirigentes partidários. Em comum, esses nomes são cobiçados por partidos políticos – nanicos ou não – para disputarem a Presidência da República em outubro deste ano.
O interesse vai além de ter um nome competitivo. O 'negócio' é que a partir de 2018 os partidos terão que respeitar uma cláusula de desempenho, ou seja, a obrigação de ter uma performance eleitoral mínima para ter acesso ao dinheiro dos fundos partidário e eleitoral, e tempo de TV para divulgar sua legenda. E ajuda se tiverem um bom puxador de votos no principal posto majoritário, que é o cargo de presidente.
Pelas novas regras, os partidos terão de obter 1,5% dos votos para deputados federais, distribuídos em nove estados, e com 1% em cada um desses. Ou eleger nove deputados federais em nove estados distintos. O partido que tiver um presidenciável "bom de voto" vai atrair candidatos à Câmara conhecidos e que tenham chances de se eleger. Hoje, mesmo partidos que não elegem nem sequer um deputado têm direito ao Fundo Partidário, que beirou os R$ 750 milhões em 2017, distribuídos para 35 legendas. Mas apenas 25 têm representação na Câmara.
Barbosa namora o PSB. Huck andou de conversa com o PPS. Bernardinho está no Novo. Valéria Monteiro no PMN. Ronaldinho é cobiçado pelo Podemos, que já conta com outro presidenciável, o senador Alvaro Dias (PR). Pode ajudar a compor chapa ou mesmo disputar o Senado. Contribuiria para angariar votos para deputados.
O desespero maior é dos partidos nanicos, que tentaram barrar a cláusula de desempenho na minirreforma eleitoral do ano passado. O Patriota é um típico exemplo de legenda que busca um nome vistoso para concorrer à Presidência. Seu presidente, Adilson Barroso, atira para todos os lados. Chegou a ter o compromisso assinado de Jair Bolsonaro, que se comprometeu em se filiar e disputar o Palácio do Planalto pelo partido. Se desentenderam e o acordo desandou.
Depois, Barroso anunciou que iria atrás de Joaquim Barbosa – mas não foi – e procurou a ex-apresentadora do Fantástico Valéria Monteiro, que declinou e seguiu para o PMN. O dirigente do Patriota pode ter que se contentar com o nome de Dr. Rey, cirurgião plástico de personalidades norte-americanas e filiado à legenda. O PEN, que irá virar Patriota, recebeu R$ 5,8 milhões do Fundo Partidário em 2017.
Candidato da insistência
O presidenciável Levy Fidelix, que comanda há anos o PRTB, trabalhou contra a aprovação da cláusula de barreira. Ele já foi duas vezes candidato a presidente. Em 2010 recebeu 58 mil votos. Em 2014 alcançou 447 mil votos.
"E agora, dada minha escalada, vou chegar fácil aos três milhões e meio de votos. Vou eleger dez deputados federais. Vocês vão ver", assegura Fidelix, que irá para sua terceira tentativa de conquistar o Planalto. O PRTB faturou R$ 4,3 milhões do fundo ano passado.
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O partido que não tiver um nome conhecido disputando a Presidência da República vai se concentrar num número menor de candidatos a deputados e investir nas suas campanhas. E, assim, tentar eleger nove deputados ao menos.
Ambiente exótico
Deputado com maior número de mandatos na Câmara – 11 ao todo –, Miro Teixeira (Rede-RJ) diz que ocorreram muitas alterações na legislação eleitoral nas últimas décadas e que deram um caráter restritivo à vida partidária. Para ele, as novas regras e as táticas dos partidos na busca pelo dinheiro do Fundo Partidário criou o que chamou de 'ambiente exótico' na política.
"Hoje, há um calendário eleitoral rígido, cheio de datas e que provoca uma corrida alucinada. Só pode se filiar até o dia tal. Se quiser mudar de partido só pode até determinado tempo. Domicílio eleitoral, fidelidade partidária e etc. Não é a política e o interesse público a mobilizar as forças. Mas o Fundo Partidário, o fundo eleitoral. Os partidos discutem se vão lançar ou não candidatos a presidente para poderem se concentrar só no número de deputados para atingir a cláusula e ter direito a receber esse dinheiro todo. Por isso criou-se esse ambiente exótico", disse Teixeira.
"Nem no bipartidarismo era assim. O MDB e a Arena tinham seus militantes, que colocavam faixas por suas contas nas suas janelas e varandas, distribuíam os santinhos com as propaganda e ainda passavam para frente. Vinha escrito: 'leia e passe prá frente'. Hoje, não. Não se discute mais problemas nacionais e estaduais. Uma eleição não é o fim em si mesmo. É para alcançar o bem-estar e o desenvolvimento. Mas com esses ingredientes pecuniários virou um fim também. Tem que ganhar para ter direito a esses fundos".
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