Uma petição online criada há dois dias começou a ganhar corpo nesta quarta-feira (3) para fazer frente a um cenário de segundo turno cada vez mais consolidado entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). O movimento apela à composição de uma chapa que está sendo chamada de “Alcirina”, ou seja, a união das candidaturas a presidente de Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede) antes da votação de primeiro turno.
Em um intervalo de duas horas na tarde desta quarta, as assinaturas quase dobraram, pulando de 5 mil para quase 9 mil. “No momento de crise em que vivemos, não podemos arriscar ter o Brasil refém de governos que irão ampliar ainda mais a divisão e polarização do país. Presenciaremos no domingo (7) um dos eventos mais decisivos da nossa jovem democracia e precisamos, mais do que nunca, viabilizar uma terceira via”, diz a petição.
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No texto do abaixo-assinado, há fortes críticas tanto ao PT quanto a Bolsonaro. Os idealizadores classificam Bolsonaro como resposta aos escândalos de corrupção das administrações do PT. “Porém, o estelionato eleitoral do candidato do PSL é ainda mais perigoso: Bolsonaro defende medidas e faz declarações que ameaçam diretamente a já fragilizada democracia brasileira”, escrevem.
Juntos, Alckmin, Ciro e Marina somam 24% das intenções de voto, segundo o último Datafolha, enquanto Bolsonano tem 32% e Haddad, 21%.
Chapa Alcirina
A proposta de unir as candidaturas de centro não é nova e já foi tentada há cerca de algumas semanas. Nomes como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o jurista Miguel Reale Júnior (um dos autores do impeachment de Dilma Rousseff) “deram a letra”: sem a união de forças entre alguns candidatos, o segundo turno deve ser mesmo entre Bolsonaro e Haddad.
FHC chegou a divulgar uma carta aberta conclamando os candidatos a se unirem. A diferença para o abaixo-assinado é que, para o ex-presidente tucano, quem vestiria o figurino de “candidato da salvação” era Alckmin. “Sem que os candidatos que não apostam em soluções extremas se reúnam e decidam apoiar quem melhores condições de êxito eleitoral tiver, a crise tenderá certamente a se agravar”, escreveu FHC na carta.
Escrevi uma Carta aos eleitores e eleitoras, não aos candidatos ou aos partidos. Há meses repito ser necessário um âcentro popular e progressistaâ. Parece que na conjuntura água mole não racha pedra dura. O que não muda minhas convicções.
— Fernando Henrique Cardoso (@FHC) 22 de setembro de 2018
Agora, a petição propõe que Alckmin e Marina cedam em favor de Ciro Gomes “pela conjuntura atual”. Segundo o manifesto, “mais importante do que o candidato, é a união dos senhores e da senhora na reta final das eleições”.
“O candidato dentre vocês que está mais bem colocado na pesquisa, conta com menor rejeição e ganha tanto de Bolsonaro quanto Haddad com folga. Em troca, pedimos que Ciro incorpore pontos das propostas de Marina Silva (Rede) e Geraldo Alckmin (PSDB), garantindo também que ambos partidos tenham uma posição de destaque em seu governo”, escreveram os idealizadores da carta.
Aqui vale um registro: pelas últimas pesquisas do Datafolha* e do Ibope**, Ciro e Alckmin estão em empate técnico. Ciro tem 11% nos dois levantamentos. Alckmin tem 9% e 8%, respectivamente. Ambas as pesquisas têm margem de erro de 2 pontos percentuais.
O ‘sim de Ciro’
Nesta quarta, o candidato do PDT à Presidência afirmou que aceitaria o apoio de rivais para tentar chegar ao segundo turno. O pedetista admitiu, inclusive, incorporar pautas das campanhas de Marina e Alckmin. Ciro ressaltou, no entanto, que o movimento não pode ser iniciativa dele próprio.
“Não gosto de oportunismo. Estou na política porque gosto da inteligência do povo e não posso cometer a indelicadeza de pedir a meus adversários que abram mão de suas candidaturas. Se eu for procurado, aceito o apoio deles”, afirmou em ato de campanha em São Paulo.
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O movimento em prol de Ciro tem base nos resultados do último Datafolha. Apesar do empate técnico, o levantamento destaca que 48% dos eleitores de Alckmin e 62% dos eleitores de Marina pensam em mudar seu voto. Entre os eleitores do pedetista, o índice é cinco pontos menor que o do tucano: 43% poderiam mudar de voto.
Os eleitores mais convictos são os que declararam voto em Jair Bolsonaro (84%) e Fernando Haddad (82%).
O ‘porém de Marina’
Em queda livre nas pesquisas (caiu de 6% para 4% no Ibope), parte dos apoiadores da presidenciável da Rede tentam articular uma aproximação com Ciro. A equipe do pedetista foi sondada de maneira informal. Contudo, a coordenação-geral de campanha de Marina não gostou da ideia, antes mesmo de ela chegar à candidata da Rede.
Na lista dos prós e contras estão alguns fatores. Em favor está a coerência com o discurso contra a polarização e a desnecessidade de se posicionar em um eventual segundo turno entre Bolsonaro e Haddad. Nas eleições de 2014, ela apoiou Aécio Neves (PSDB), investigado na Lava Jato, e até hoje é criticada por isso.
Do lado contrário, o empecilho tem nome: a vice de Ciro, Katia Abreu (PDT), senadora pelo Tocantins e ex-ministra da Agricultura, fortemente vinculada à bancada do agronegócio. Como Marina é conhecida pelo apoio às causas ambientais, um apoio formal dependeria de adaptações no programa de governo de Ciro, com concessões que minimizem o papel de Kátia Abreu.
Centrão, o ponto fraco de Alckmin
Se no começo da campanha, Ciro e Alckmin disputavam o apoio do Centrão, que acabou se juntando ao tucano, durante a campanha veio a debandada. Candidatos de partidos aliados fizeram campanha para o PT no Nordeste. Majoritariamente formada por partidos de Centro, a bancada ruralista declarou apoio a Bolsonaro.
O presidenciável tucano, cada vez mais, se vê isolado – e dificilmente deve declarar apoio a Ciro até quinta-feira (4), último dia do horário eleitoral. Mas o crescimento nas pesquisas sustenta uma ponta de esperança dos tucanos, como o presidente de honra do partido:
As fake news não param. Agora inventaran que eu disse que quero aliança com o PT. Mentira. Voto no Alckmin e espero estar com ele no segundo turno. O resto é imaginação perversa. Sou contra a marcha da insensatez: a radicalzão.
— Fernando Henrique Cardoso (@FHC) 2 de outubro de 2018
Como restam poucos dias para as eleições, resta saber se os candidatos do ‘novo centro’ vão se unir ou correr o risco de assistirem de camarote o segundo turno.
Metodologias
* Pesquisa realizada pelo Datafolha em 2/out com 3.240 entrevistados (Brasil). Contratada por: EMPRESA FOLHA DA MANHA . Registro no TSE: BR-03147/2018. Margem de erro: 2 pontos percentuais. Confiança: 95%. *Não sabe / Não respondeu
** Pesquisa realizada pelo Ibope nos dias 29 e 30 de setembro com 3.010 entrevistados (Brasil). Contratada por: REDE GLOBO E O ESTADO DE S.PAULO . Registro no TSE: BR-08650/2018. Margem de erro: 2 pontos percentuais. Confiança: 95%.
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