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| Foto: Mauro Pimentel/AFP

Com 46% dos votos válidos, Jair Bolsonaro (PSL) quase se elegeu presidente no primeiro turno. O desempenho acima do que previam as pesquisas o colocou como franco favorito para vencer a eleição. Fernando Haddad (PT), que teve 29%, ficou numa situação desfavorável. Mais do que conquistar os votos dos demais presidenciáveis de esquerda e centro-esquerda, terá de tirar eleitores que escolheram o candidato do PSL. Apesar disso, o petista ainda não é carta fora do baralho num segundo turno que tende a ter pouca discussão de propostas e muito discurso do medo: de um lado, de que o país vai virar uma ditadura militar, do outro, de que irá se tornar uma nova Venezuela.

Essas foram as conclusões do Podcast Eleições, programa semanal da Gazeta do Povo que analisa a sucessão presidencial e que discutiu nesta quarta-feira (10) o que esperar deste segundo turno. O podcast teve a participação do analista político e escritor Mario Vitor Rodrigues (colunista da Gazeta) e dos jornalistas Lúcio Vaz (blogueiro do jornal), Renan Barbosa e Fernando Martins (mediador do debate).

Os participantes do Podcast Eleições concordaram que o primeiro turno foi marcado por uma inédita onda conservadora que não se resumiu ao bom desempenho de Bolsonaro, mas que varreu o país inteiro, sendo demonstrada pela votação de candidatos de direita para todos os cargos. Os debatedores afirmaram que essa onda, que se caracteriza por um forte antipetismo, tende a se manter no segundo turno – o que torna Bolsonaro favorito.

Lúcio Vaz disse acreditar que, se Bolsonaro não cometer erros muito graves no segundo turno, ele tende a se eleger. Como ele precisa conquistar uma parcela relativamente pequena de votos (4%, a votação de Geraldo Alckmin), Bolsonaro pode se dar ao luxo de não precisar moderar seu discurso – algo que será inevitável na campanha de Haddad.

As maiores ameaças para Bolsonaro estariam no entorno do candidato, com aliados que venham a comprometer o presidenciável com declarações polêmicas. Mas Lúcio Vaz ponderou que isso já ocorreu no primeiro turno, com o vice Hamilton Mourão e o economista Paulo Guedes. E que, mesmo assim, não houve efeito negativo para Bolsonaro.

Leia também: Primeiro Datafolha do 2.º turno mostra favoritismo de Bolsonaro. Pesquisa do Instituto Ideia Big Data confirma essa tendência

Lula, principal força de Haddad no 1.º fase da campanha, é sua principal fraqueza no 2.º turno

Lúcio Vaz destacou, por outro lado, que o PT tem uma campanha mais profissional do que o candidato do PSL. Ainda assim, para o blogueiro da Gazeta, a tarefa de Haddad é muito difícil porque sua principal força no primeiro turno é sua maior fraqueza no segundo: o ex-presidente Lula. O presidenciável só se tornou competitivo porque a campanha do PT disse que “Haddad é Lula”. Mas, neste segundo turno, o candidato petista terá de dissociar sua imagem da de Lula, um presidiário, se quiser ampliar seu eleitorado.

Essa “transformação” de Haddad, aliás, já começou. O PT anunciou que o presidenciável está “liberado” de visitar Lula na cadeia todas as segundas-feiras, como fez durante todo o primeiro turno. O jornalista Renan Barbosa disse ainda que o partido ainda ensaia apresentar Haddad com uma nova “roupagem”: a de um pai de família, casado há 30 anos e religioso. Na propaganda eleitoral, ele também vai abandonar o tradicional vermelho do PT para usar outras cores.

O discurso do presidenciável petista também tende a ser mais moderado neste segundo turno para conquistar eleitores de centro. Mario Vitor Rodrigues lembrou que o PT está tentando fechar uma aliança com partidos mais ao centro, como o PSDB, para “salvar” o país do risco Bolsonaro.

Saiba mais: Bolsonaro e Haddad negam que vão propor nova Constituição

O anúncio de Haddad, na segunda-feira (8), de que desistiu de propor a elaboração de uma nova Constituição também foi interpretado pelos participantes do podcast como um aceno para o eleitor de centro – já que a proposta vinha sendo vista como uma tentativa de transformar o Brasil numa nova Venezuela.

Lúcio Vaz disse acreditar que esse risco não é real, pois o partido governou o país por 13 anos e não transformou o Brasil numa Venezuela. Mario Vitor Rodrigues e Renan Barbosa discordaram. Eles destacaram que o partido, ao longo dos anos, demonstrou por várias vezes um viés autoritário – inclusive quando, por meio da corrupção, buscou financiar sua permanência no poder. 

Rodrigues ainda disse acreditar que todos esses acenos do PT para o centro não são suficientes para Haddad reverter o cenário que hoje é favorável a Bolsonaro. Para ele, o partido deveria fazer uma autocrítica pública para reconhecer seus erros – o que ele acredita que a legenda não fará. Renan Barbosa também afirmou que, ainda que se considere que as intenções do PT sejam verdadeiras, em apenas três semanas de segundo turno o novo discurso tende a não “colar” no eleitorado.

2.º turno tende a se transformar em troca de acusações: tanques nas ruas ou bolivarianismo

Os participantes do Podcast Eleições também analisaram como viram as declarações de Bolsonaro, na segunda-feira (8), de que ele também não vai propor uma nova Constituição – ideia sugerida pelo seu vice, general Hamilton Mourão. Essa proposta foi alvo de críticas pelo risco de instalação de um regime autoritário no país, já que Mourão defendeu uma Constituição elaborada por uma equipe de “notáveis” e não por representantes eleitos do povo. 

Mario Vitor Rodrigues e Lúcio Vaz lembraram que Bolsonaro tem um histórico de declarações autoritárias que justificam a desconfiança sobre suas intenções. Renan Barbosa afirmou que, ainda que haja um risco na eleição de Bolsonaro, o país deveria considerar a possibilidade de dar um crédito a ele do mesmo modo que deu em 2002 a Lula, com a Carta ao Povo Brasileiro.

Outras discussões do podcast: Bolsonaro ou o PT – qual é a maior ameça à democracia?

Barbosa também disse acreditar que as campanhas de Bolsonaro e de Haddad não podem ser colocadas no mesmo patamar quando recebem críticas por apresentarem a proposta de uma nova Constituição. Segundo ele, o PT incluiu essa ideia em seu plano de governo, o que é mais grave. Bolsonaro, não (quem a defendeu foi apenas seu vice, falando numa entrevista sobre uma situação hipotética). 

Lúcio Vaz discordou. Para ele, a posição de um vice tem de ser considerada num país que teve quatro presidentes eleitos desde a redemocratização (em 1985) e no qual dois vices (Itamar Franco e Michel Temer) assumiram o Planalto porque os titulares (Fernando Collor e Dilma Rousseff) sofreram impeachment.

Os participantes do Podcast Eleições concordaram, contudo, que a troca de acusações sobre o autoritarismo de Bolsonaro e do PT tendem a tomar conta da campanha do segundo turno, relegando a um segundo plano a discussão dos problemas do país. Mario Vitor Rodrigues lembrou que Bolsonaro já anunciou que não vai participar dos primeiros debates na televisão. Embora seja por orientação médica, o colunista da Gazeta do Povo vê nisso um indicativo de que a discussão de propostas realmente não vai ocorrer. 

Rodrigues resumiu o que espera do segundo turno: uma “pancadaria” e a discussão se o Brasil vai ter um bolivarianismo ou tanques nas ruas.

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