Lula: popularidade em alta, apesar das denúncias e de uma condenação na Lava Jato.| Foto: Ricardo Stuckert/PT/Fotos Públicas

A mais nova pesquisa eleitoral para a eleição de presidente em 2018, divulgada no sábado (2) pelo Instituto Datafolha, mostra que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) consolidou a primeira posição na disputa pelo Planalto, bem à frente dos demais concorrentes. Ele tem índices de intenção de voto que variam de 34% a 37%, dependendo do cenário. Em março de 2016, Lula tinha apenas 17% no Datafolha. Os números levantam a discussão: por que Lula cresce nas pesquisas apesar das denúncias de corrupção e de uma condenação nos processos da Lava Jato?

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O diretor do Instituto Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, afirma que há duas explicações. E uma das respostas está na própria Lava Jato. “Quando a Lava Jato começou, tinha-se uma impressão (...) de que a corrupção estava no PT (...). Com o decorrer da operação, com todas as outras prisões, com todas as outras denúncias [que envolvem políticos dos principais partidos do país], ficou claro para a população que o problema é o modelo [político]. O PT tem problema? Tem. Mas os outros também têm; a corrupção não é uma coisa exclusiva do PT”, diz Hidalgo. Essa percepção nivelou todos os políticos por baixo.

Segundo ele, o outro fator é o sucesso dos dois governos de Lula. “O povo vivia melhor no governo dele.” A lógica que passa na cabeça do eleitor do petista é de que, se todos são corruptos, ele vota naquele que pelo menos lhe deu uma vida melhor.

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Se nada mudar, tendência é de que Lula se eleja presidente. E o que pode mudar?

Hidalgo afirma ainda que, se o ex-presidente não for impedido de concorrer por uma condenação em segunda instância judicial, a tendência é que ele seja eleito em 2018. “Se a eleição fosse no [próximo] domingo, eu não teria medo de dizer que o presidente [eleito] seria o Lula.”

O diretor do instituto de pesquisa também diz que duas circunstâncias podem mudar o cenário com Lula na disputa. O primeiro e mais importante é a economia. Hidalgo afirma que, se o eleitor tiver mais dinheiro no bolso até a campanha eleitoral, aumentam as chances dos adversários do petista que estejam associados ao governo Temer. Se o desemprego continuar em alta, Lula consolidará seu favoritismo.

A segunda circunstância que pode alterar a eleição é o surgimento de um nome “novo” que não esteja contaminado por denúncias de corrupção. Levantamento do Instituto Paraná Pesquisas divulgado em outubro mostrou que 59,4% dos brasileiros preferem votar em 2018 num candidato de fora da política caso tenham essa opção.

Hidalgo diz que o problema é que, até o momento, todos os nomes de fora da política que estiveram cotados para concorrer ao Planalto acabaram desistindo – o último caso foi o do apresentador de televisão e empresário Luciano Huck. Segundo o diretor do Paraná Pesquisas, ao começarem a conversar com os partidos, os pretendentes a entrar na política percebem que a realidade é mais dura do que imaginam. “Infelizmente, a conversa [dos políticos] não é boa. Não é pelo país; é pela divisão de cargos[num futuro governo].”

E se Lula for condenado e não puder concorrer, o que acontece?

Hidalgo pondera que o cenário eleitoral brasileiro vai ficar embaralhado se Lula for condenado na segunda instância judicial e não puder concorrer em 2018, como prevê a Lei da Ficha Limpa.

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Um fator importante, nessas condições, será o momento da saída de Lula da disputa. Se for antes do momento da escolha oficial dos candidatos pelos partidos (de 20 de julho a 5 de agosto de 2018), Hidalgo diz que pode haver uma pulverização de concorrentes tanto de esquerda como de centro. E a disputa volta a ficar em aberto.

Se Lula sair da disputa em plena campanha (agosto ou setembro), os demais candidatos não poderão ser mudados. Mas o petista poderá escolher quem vai escolher para substituí-lo. E, nesse caso, é ele quem poderá indicar o “novo” que a população anseia.

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“A gente já compara a saída do Lula [da disputa presidencial] à queda do avião do Eduardo Campos. Vai mudar tudo. Vai ser o momento da virada na eleição”, diz Murilo Hidalgo. Em 2014, o então candidato a presidente pelo PSB, Eduardo Campos, morreu num acidente de avião. Sua vice, Marina Silva, assumiu a cabeça da chapa, ultrapassou os concorrentes Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) e chegou a liderar as pesquisas. Apesar disso, terminou na terceira posição.

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A entrevista de Murilo Hidalgo na íntegra

Assista à entrevista de Murilo Hidalgo na íntegra. Além de Lula, ele comenta sobre as possibilidades eleitorais de Jair Bolsonaro (PEN/Patriota), Marina Silva (Rede), Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT).

Metodologia das pesquisas

A pesquisa Datafolha divulgada no sábado (2) ouviu 2.765 eleitores, em 192 cidades de todas as regiões do país, nos dias 29 e 30 de novembro. A margem de erro é de dois pontos porcentuais, para cima ou para baixo. O grau de confiança é de 95% – o que significa que, se a pesquisa for realizada 100 vezes, em 95 os resultados estarão dentro da margem de erro.

No levantamento de março de 2016, realizado nos dias 17 e 18 daquele mês, o Datafolha ouviu 2,794 eleitores em 171 municípios das cinco regiões brasileiras. A margem de erro é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos. E o grau de confiança é de 95%.