As incertezas no PT sobre quem, de fato, vai disputar a Presidência da República pelo partido – se Lula, que está preso e deve ser considerado inelegível, ou um substituto a definir – devem afastar um aliado histórico neste ano. O PCdoB apoia o Partido dos Trabalhadores em eleições presidenciais há quase 30 anos, desde a campanha de 1989. Mas dirigentes da sigla afirmam que, neste ano, só desistem da candidatura própria caso se consolide uma união da esquerda. "Se todos os partidos se convencerem de que precisamos ir juntos, aí sim podemos repensar nossa candidatura", afirmou a presidente do PCdoB, Luciana Soares.
A legenda deve confirmar nesta quarta-feira (1), em convenção nacional, a candidatura da deputada gaúcha Manuela D'Ávila. Acredita-se que ela pode puxar votos para deputados federais, o que aumenta verbas destinadas ao partido e tempo de televisão em próxima disputa.
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A própria pré-candidata, porém, não se opõe a uma união com outros partidos. "A Manuela entende que o melhor caminho é que estejamos todos juntos já no primeiro turno, o que aumenta as chances de seguirmos para o segundo turno", disse Luciana.
O ideal do PCdoB
A expectativa inicial era a formação de uma aliança de esquerda, que juntasse além de PT e PCdoB, PSOL e PDT. Quando o ex-presidente Lula foi preso, no início de abril, chegou-se a conversar sobre isso. Contudo, Guilherme Boulos (PSOL) e Ciro Gomes (PDT) já formalizaram suas candidaturas.
A manutenção do ex-presidente Lula na disputa tem travado acertos partidários, não só com o PCdoB. No cenário incerto sobre o futuro da candidatura do PT, há mais do que um pé atrás.
Os petistas dizem que vão registrar a candidatura de Lula no dia 15 de agosto. A partir daí, espera-se uma série de pedidos de impugnação, já que o líder do PT foi condenado pela Justiça em segunda instância e está, portanto, inelegível conforme a Lei da Ficha Limpa.
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Fala-se, por isso, num plano B, nome que substituiria Lula nas urnas após uma decisão final da Justiça Eleitoral. O mais cotado para a vaga é Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação nas gestões petistas. É cogitado, mas não é certo.
E de incerteza em incerteza, o PT vai se isolando como nunca antes, afastando aliados históricos, como o próprio PCdoB. Para se ter uma ideia, em 2014, no pleito que elegeu Dilma Rousseff, o PT tinha em torno de si outros oito partidos: PMDB, PDT, PCdoB, PP, PR, PSD, PROS e PRB.
Em 2010, na primeira vitória da petista, fizeram parte da coligação PT, PMDB, PCdoB, PDT, PRB, PR, PSB, PSC, PTC e PTN. Além do PP, que a apoiou extraoficialmente.
A formação de alianças é relevante para dois fatores de grande influência nas eleições: o tempo de televisão e o fundo partidário. Sozinho, o PT tem 1 minuto e 49 segundos de tempo de propaganda eleitoral. Caso o PCdoB decida apoiá-lo somam-se mais 20 segundos.
Embora pareça pouco, todo segundo faz a diferença. O tucano Geraldo Alckmin (PSDB), por exemplo, tem uma coligação com 10 partidos, que lhe garante 5 minutos e 20 segundos na TV e no rádio, por bloco (o horário eleitoral passa duas vezes ao dia).
O que ainda pode acontecer
Conforme as regras da Justiça Eleitoral, os partidos devem oficializar suas coligações até 5 de agosto. Contudo, o Código Eleitoral deixa brechas que permitem aos diretórios partidários reverem a deliberação das convenções, anulá-las e seguir outro rumo.
Essa é uma das possibilidades colocada pela presidente do PCdoB. Segundo Luciana, caso haja um avanço nas conversas com outros partidos de esquerda, não está descartada a hipótese de desistir da candidatura de Manuela. Outros integrantes da direção do partido, porém, insistem que só aceitariam esse rumo caso Manuela D'Ávila fosse colocada como vice em alguma chapa.
Também em busca de apoios, Ciro Gomes tem flertado com o partido e já mandou um recado. "A Manuela seria uma boa presidenta, quanto mais uma boa vice". No PCdoB, porém, seguir com Ciro não é um caminho muito provável. "Ele às vezes sinaliza, às vezes reflui", afirmou um deputado da legenda.
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