O PT oficializou neste sábado (4), por aclamação, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – preso em Curitiba desde 7 de abril – como candidato à Presidência da República. Mas o partido mantém o impasse sobre quem ocupará o posto de vice na chapa e também sobre a data em que ele será formalizado. Por enquanto a balança pesa em favor de Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, um dos mais aplaudidos na convenção nacional do partido, realizada em São Paulo.
No evento, o PT reforçou o discurso que “não existe plano B nem plano C”, e sim “plano L” – muito embora o petista provavelmente venha a ser declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por estar enquadrado na Lei da Ficha Limpa. Os discursos mantiveram a lógica dos ataques à imprensa e ao Judiciário, com falas recheadas de “Lula livre” e “injustiça”.
Em seu discurso na convenção, pronto desde quinta e revisado por Lula, Haddad não mencionou, em nenhum momento, a possibilidade de inelegibilidade de Lula. “Hoje não tem golpista vitorioso, porque o Lula derrotou todos e o PT vai ganhar em 2018”, disse o ex-prefeito, um dos petistas mais aplaudidos no encontro. “Estamos rumo ao pentacampeonato petista. Vamos ganhar a quinta eleição consecutiva para a Presidência da República”, afirmou, para depois atacar o governo Michel Temer e o adversário tucano, Geraldo Alckmin.
O desejo de Lula e da direção do PT é anunciar o nome do vice apenas em 15 de agosto, último dia de registro de candidaturas. Mas os advogados do partido têm alertado sobre os riscos de que alguns juízes do TSE adotem um entendimento diferente – de que o prazo para a indicação do vice é na segunda-feira (6), 24 horas após o término do prazo para as convenções. Nesse caso, insistir em deixar a vaga aberta até o dia 15 é um risco, que pode culminar até na cassação de toda a chapa petista.
A deputada estadual Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) foi chamada para a vaga e, conforme informações do próprio PCdoB, teria aceitado abrir mão de sua candidatura à Presidência para seguir com o PT. Mas ainda não há definição. A presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), e Haddad se reuniram na manhã deste sábado, antes da convenção, com a cúpula do PCdoB em São Paulo para conversar justamente sobre a escolha de um vice. O encontro, no entanto, não foi definitivo.
Os petistas insistiram na proposta de que Manuela poderia ficar “na reserva” até dia 15 de agosto, quando assumiria oficialmente a vaga de vice na chapa do PT. Integrantes do PCdoB, porém, rechaçaram mais uma vez a possibilidade e já há quem diga que o partido pode fechar aliança com Ciro Gomes (PDT), em vez de se aliar ao PT.
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A indefinição do PT atrasou em quase uma hora e meia o início da convenção. A presidente petista, senadora Gleisi Hoffmann, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e o ex-presidente da Petrobras Sergio Gabrielli conversaram até minutos antes da abertura do evento sobre a divulgação do nome que vai ser vice na chapa. Discutiam se seguem Lula e deixam o anúncio para 15 de agosto ou atendem aos apelos dos advogados e fazem isso até segunda.
Certo é que não há chance de aliança com o pedetista Ciro Gomes. Ele afirmou neste sábado que a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, já sabe que ele não será candidato a vice na chapa encabeçada pelo PT. Disse também que a cúpula do PT tem feito “cada bobagem que só posso acreditar que estão em viagem lisérgica”. Uma das “bobagens” atribuídas ao PT pelo candidato foi o acordo envolvendo Pernambuco e Minas Gerais dentro da aliança fechada com o PSB para disputa pela presidência da República.
Em Minas, com o acordo, o diretório nacional do PSB tenta impedir a candidatura do ex-prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB). No Estado, Fernando Pimentel (PT) tenta a reeleição. Em Pernambuco, o partido não quer candidatura própria, para favorecer a reeleição de Paulo Câmara. A pré-candidata Marília Arraes, que foi escolhida pelo PT pernambucano para concorrer mas deve ser barrada pela executiva nacional do partido, foi ovacionada na convenção deste sábado. “Marília, Marília, nossa governadora petista”, gritavam a todo momento os militantes.
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Do ponto de vista de alianças, a principal novidade para o PT neste sábado foram os anúncios do Pros e do PCO, de que vão se aliar aos petistas na corrida eleitoral. “Não vamos atrelar a nossa defesa da candidatura do Lula a nenhuma condição. Não vamos exigir que ele defenda tal e qual posições, ou escolha tal e qual vice”, disse a porta-voz do PCO Natália Pimenta, durante convenção nacional do PT. Natália afirmou que a aliança foi decidida porque o centro da eleição será a defesa da liberdade do ex-presidente.
Recado de Lula
Dois recados de Lula foram transmitidos na convenção. Primeiro, um vídeo transmitido após discurso de Haddad mostra imagens da trajetória política de Lula com um recado dele à militância petista. “Posso estar fisicamente em uma cela. Eles se recusam a mostrar provas do que foi que eu fiz para estar preso. Quer me derrotar? Faça isso de forma limpa, nas urnas”, desafiou. Em determinado momento do vídeo, apareceu a foto do juiz Sérgio Moro, que condenou Lula por corrupção e lavagem de dinheiro. A plateia vaiou e gritou.
Mais para o fim do encontro, um novo recado do ex-presidente, desta vez lido ao vivo. O petista mandou uma carta, lida pelo ator Sérgio Mamberti ao fim da convenção nacional do partido. Nela, Lula disse que era a primeira vez em 38 anos que não participava de um encontro nacional do PT e que, nesse período, o partido construiu “a mais importante força política que esse país já conheceu”.
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“Chegamos ao governo pelo voto depois de um longo aprendizado para transformar o Brasil e transformamos. Hoje, nosso povo está sofrendo. Trabalhadores desistiram de procurar emprego. Milhões foram excluídos do Bolsa Família. Universidades e hospitais vivem sua maior crise”, escreveu o ex-presidente.
“Nosso país está sendo vendido. Nossa democracia está ameaçada. Há dois anos, deram um golpe parlamentar. Agora querem uma eleição presidencial de cartas marcadas, excluindo o nome que está à frente em todas as pesquisas. Já derrubaram a presidenta e querem inventar uma democracia sem povo”, prosseguiu o texto de Lula.
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