O candidato Jair Bolsonaro (PSL) tem sido o alvo preferencial de seus adversários neste primeiro turno da eleição presidencial. Também virou objeto de sucessivas reportagens críticas da imprensa, que revelaram pontos obscuros de seu passado e de sua trajetória política. Mas o bombardeio de críticas e acusações contra ele até agora não surtiu nenhum efeito negativo para o presidenciável nas pesquisas eleitorais.
Desde que a campanha eleitoral no rádio e na TV começou, em 31 de agosto, Bolsonaro subiu nas intenções de voto no primeiro turno e manteve estáveis, dentro das margens de erro, sua rejeição e seus números nas simulações de segundo turno contra seu principal oponente: Fernando Haddad (PT). Os dados são dos levantamentos dos quatro institutos que vêm fazendo pesquisas com mais frequência e que, portanto, têm uma série histórica de dados mais consistente: Ibope, Datafolha, XP/Ipespe e BTG/FSB.
Por que nada “cola” em Bolsonaro para seu eleitor?
O cientista político Doacir Quadros, professor do Grupo Uninter, diz que há duas possíveis explicações para o fato de as críticas e ataques contra Bolsonaro não terem provocado prejuízo em sua campanha.
Segundo ele, o primeiro motivo é que a propaganda política negativa no programa eleitoral não costuma ser bem-recebida pelo eleitor, segundo mostram vários estudos sobre o assunto. Quadros, que é especializado em comunicação política, diz que esse tipo de informação funciona melhor nas redes sociais e nos comerciais de campanha que são inseridos no meio da programação normal das emissoras.
O cientista político afirma, contudo, que a principal razão é que Bolsonaro personificou a rejeição de parte expressiva do eleitorado ao PT e que isso, para essas pessoas, o “protege” contra as críticas. “Parece-me que a rejeição ao PT é maior que a rejeição ao Bolsonaro”, diz ele.
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Marcos José Zablonsky, professor de opinião pública do curso de Relações Públicas da PUCPR, afirma que o eleitor de Bolsonaro tem se mantido fiel a ele porque há muito tempo o candidato vem construindo a imagem de que é o político “anti-PT”. De acordo com Zablonsky, os demais partidos não fizeram isso e, agora, não dá mais tempo para ocupar esse espaço que um dia foi do PSDB. “Esse campo está dominado por Bolsonaro.”
Algumas pesquisas vêm medindo a fidelidade do eleitor de Bolsonaro a ele. O levantamento BTG/FSB divulgado em 17 de setembro mostrou que 82% dos eleitores do candidato do PSL dizem que sua decisão de voto é definitiva. O Ibope de 26 de setembro mostrou que 55% de seus eleitores dizem que a escolha de Bolsonaro não vai mudar. Outros 17% afirmam que é uma decisão firme, mas que pode mudar. No total, são 72% com pouca ou nenhuma chance de mudar de ideia na pesquisa BTG/FSB.
Campanha de Alckmin tende a continuar a atacar Bolsonaro
Marcos José Zablonsky aposta que, apesar de a propaganda negativa contra Bolsonaro não estar funcionando, a campanha sobretudo de Geraldo Alckmin (PSDB) tende a insistir nessa estratégia na última semana antes do primeiro turno para provocar uma “fissura” na campanha do adversário. O professor da PUCPR acredita que o tucano pode até mesmo passar a questionar, como última cartada, se Bolsonaro terá saúde para governar o Brasil após ter sido vítima da facada que quase o matou.
Doacir Quadros, contudo, avalia que o fato de Alckmin estar estacionado nas pesquisas pode ter ocorrido até mesmo por causa de sua tentativa de desconstruir a imagem de Bolsonaro (o que não é bem-visto por parte do eleitorado). Para ele, outro motivo é que o PSDB vem sendo envolvido em casos de corrupção.
As principais denúncias e acusações contra Bolsonaro
Desde que a propaganda eleitoral no rádio e na TV começou, duas denúncias graves atingiram diretamente Bolsonaro: a suposta ameaça de morte do candidato a sua ex-mulher e a acusação de que ele ocultou parte de seu patrimônio.
Aliados de Bolsonaro também o colocaram numa série de saias-justas. O general Hamilton Mourão defendeu um “autogolpe” do presidente numa situação de anarquia social, falou que o país precisa de uma nova Constituição escrita sem a participação de representantes eleitos pelo povo, disse que famílias sem pai e avô são “fábricas de desajustados” e criticou a existência do 13.º salário e do adicional de férias. Já o guru econômico de Bolsonaro, Paulo Guedes, defendeu a volta da CPMF.
Adversários do candidato do PSL, sobretudo Geraldo Alckmin, têm explorado esses assuntos na propaganda eleitoral, bem como outras polêmicas em que Bolsonaro esteve envolvido antes do horário eleitoral gratuito começar: o caso da funcionária fantasma de seu gabinete de deputado federal, o uso do auxílio-moradia da Câmara mesmo tendo imóvel em Brasília e os ataques do presidenciável a mulheres e minorias.
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