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Manuela D’Ávila  é a pré-candidata mais nova ao Planalto: tem 36 anos. | Wikipedia/Creative Commons
Manuela D’Ávila é a pré-candidata mais nova ao Planalto: tem 36 anos.| Foto: Wikipedia/Creative Commons

Comunista que se rende ao “consumismo” e a seus símbolos. Feminista. Defensora de direitos das minorias. Política que abriu mão de uma chance real de ser prefeita de uma grande capital para cuidar da filha pequena. Denunciada na Lava Jato. Esse é um pequeno resumo de quem é a deputada gaúcha Manuela D’Ávila (PCdoB), a mais nova pré-candidata à Presidência da República. E também a mais jovem: tem apenas 36 anos.

O lançamento da candidatura de Manuela, que hoje é deputada estadual no Rio Grande do Sul, foi recebido com certa surpresa no meio político. Desde a redemocratização, em 1985, o PCdoB sempre esteve coligado com o PT nas eleições presidenciais. Agora, desde já o Partido Comunista do Brasil anuncia sua disposição de trilhar (ao menos no primeiro turno) um caminho diferente do que será percorrido pelos petistas.

Guinada forte à esquerda no discurso

A candidatura da deputada gaúcha também marca uma tendência cada vez mais evidente no cenário político brasileiro: a fuga do centro do espectro ideológico em direção aos extremos, algo que vem ocorrendo tanto na esquerda quanto na direita.

O PCdoB tem adotado um discurso bem à esquerda, fazendo jus ao seu nome e a sua orientação: o marxismo-leninismo. Em seu site, a sigla celebra de forma elogiosa, por exemplo, o centenário da Revolução Comunista na Rússia. Classifica-a como “o acontecimento de maior relevância no século 20, (...) a mais significativa ação para superar o capitalismo”.

Sem citar que Stálin construiu um Estado socialista totalitário, o partido considera que o socialismo levou progresso aos russos, mas não resistiu à “ofensiva imperialista”. O PCdoB ainda defende a tese de que é possível construir o socialismo do século 21, democrático, aprendendo com os erros da União Soviética.

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O que Manuela pensa sobre o comunismo?

A defesa do comunismo e do socialismo não faz parte do discurso cotidiano de Manuela D’Ávila, mais marcado pelas causas sociais e das minorias, e pela crítica ao que chama de “desmonte do Estado” que vem sendo promovido pela direita. Mas ela não nega sua filiação ideológica em manifestações esporádicas.

Em novembro de 2016, por ocasião da morte de Fidel Castro, divulgou vídeo em que elogiou Cuba e a extinta União Soviética. E, ao exemplificar o que considera ser as qualidades do socialismo, exaltou que a União Soviética na década de 1960 era mais desenvolvida tecnologicamente do que os EUA. E citou o iPhone – que, segundo ela, só existe por causa de uma pesquisa realizada pelos soviéticos. “Os celulares existem graças aos comunistas”, disse Manuela.

De fato, na União Soviética houve um protótipo de celular desenvolvido a partir de 1955 por Leonid Kupriyanovich. Mas há registros de pesquisas anteriores a isso. Em 1918, houve um sistema de telefonia móvel nos trens da Alemanha. Em 1947, norte-americanos já faziam pesquisa na área. E, de qualquer modo, o desenvolvimento efetivo da telefonia móvel como existe hoje e o acesso da população a ela só tomou impulso a partir da década de 1980. No mundo capitalista.

Comunista pode ter iPhone

No vídeo, Manuela usou a pesquisa soviética como argumento para sugerir que um comunista pode ter, sem crise de consciência, um iPhone – um dos grandes símbolos do consumismo capitalista. E ainda ironizou os defensores do capitalismo que compram o celular da Apple: “Será que vocês podem ter um iPhone [celular que, segundo ela, tem tecnologia comunista]? Acho que não”.

Três anos antes, em 2013, numa entrevista à revista TPM, ela foi questionada se era possível conciliar comunismo e consumo. A resposta demonstra que, embora seja comunista, Manuela não vê possibilidade concreta de implantar esse sistema econômico no país.

“Primeiro que eu não vivo no comunismo, né? Vivo no Brasil, um país capitalista. O comunismo nunca existiu [o comunismo, na teoria marxista, seria uma sociedade sem classes e sem Estado; o que teria ocorrido na experiência histórica foi o socialismo – a propriedade estatal dos meios de produção]”, disse Manuela. “O mundo que eu quero ver, se der tudo certo enquanto eu viver, é um mundo capitalista, minimamente desenvolvido, mas justo.”

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O PCdoB, na nota de lançamento de Manuela à Presidência, também não fala de construção do socialismo – um dos objetivos do partido. Aborda, em linhas gerais, um programa de um partido tradicional de centro-esquerda, com um viés desenvolvimentista.

“Trata-se de uma pré-candidatura que tem como algumas de suas linhas programáticas mais gerais a retomada do crescimento econômico e da industrialização; a defesa e ampliação dos direitos do povo, tão atacados pelo atual governo; a reforma do Estado, de forma a torná-lo mais democrático e capaz de induzir o desenvolvimento com distribuição de renda e valorização do trabalho”, diz a nota do PCdoB.

Cortes sociais, minorias, gênero, aborto

Do ponto de vista concreto, a ação política de Manuela D’Ávila na Assembleia do Rio Grande do Sul tem sido marcada pela oposição aos cortes orçamentários realizados pelo governador gaúcho, José Ivo Sartori (PMDB), sobretudo nas áreas sociais. Ela considera se tratar de um desmonte do Estado – posição, aliás, que a deputada repete em relação do governo Michel Temer.

Manuela também tem atuação expressiva na defesa de mulheres (com posição feminista), negros, comunidade LGBT, jovens, indígenas. Como deputada federal, cargo que ocupou de 2007 a 2015, teve embates com o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) quando ele ainda era um parlamentar pouco levado a sério. Em 2011, pediu a saída de Bolsonaro da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara – em função das posições extremadas do parlamentar.

Essas causas continuam como as que ela mais defende nas redes sociais. Denuncia casos de feminicídio. Afirma que é preciso discutir gênero com meninas e meninos. Manifesta-se contra propostas de tratamento psicológico para a “cura gay”: “Não há cura para o que não é doença”.

Recentemente, classificou como “censura” o fim da exposição Queermuseu, em Porto Alegre (RS), que foi fechada após protestos de grupos que viram na mostra uma apologia à pedofilia e à zoofilia. Manuela questionou a alegada intenção dos críticos de proteger as crianças que eventualmente frequentavam a exposição. Segundo a deputada, os críticos não se manifestam, por exemplo, sobre o que ela considera serem abusos cometidos pela publicidade infantil.

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Manuela D’Ávila também já defendeu a necessidade de discutir a legalização do aborto. Embora diga que nunca faria um aborto, diz que mulheres pobres correm risco de morte ao fazer isso em clínicas clandestinas – o que, segundo ela, poderia ser evitado com a descriminalização e a oferta de cirurgias desse tipo na rede de saúde pública.

A vida pessoal que cruzou a vida pública

Em pelo menos duas ocasiões a vida pessoal de Manuela D’Ávila cruzou com sua vida pública.

Entre 2008 e 2010, ela namorou o então colega de Câmara dos Deputados José Eduardo Cardozo (PT), que viria a se tornar posteriormente ministro da Justiça. Ela considera que ter assumido o namoro foi um gesto de ousadia, já que foi a primeira deputada a admitir ter um relacionamento com outro parlamentar. Em entrevista à revista TPM, disse que à época foi vítima de machismo e de comentários de corredores.

Em 2016, depois de ter disputado duas eleições para a prefeitura de Porto Alegre em que ficou na terceira e na segunda colocação, Manuela abriu mão da possibilidade de disputar novamente o cargo para o qual era apontada como uma das favoritas. Preferiu cuidar de sua filha Laura, que na época tinha cinco meses de idade. “Não adiantaria lutar pelo desenvolvimento de nossos bebês e não fazer valer a minha luta para minha própria filha”, disse na ocasião.

A citação na Lava Jato

Manuela D’Ávila também não escapou do furacão da Lava Jato. O ex-diretor da empreiteira Odebrecht Alexandrino Alencar afirmou em depoimento que a construtora pagou caixa 2 eleitoral de Manuela nas eleições de 2006, 2008 e 2010. O pagamento por fora, segundo o depoimento, foi de R$ 360 mil no total.

Em 2006, quando se elegeu deputada federal, teriam sido R$ 10 mil. Em 2008, na disputa pela prefeitura de Porto Alegre, R$ 300 mil. E outros R$ 50 mil na reeleição para a Câmara – em 2010.

À época da denúncia, no início deste ano, a deputada negou ter recebido o caixa 2 e disse ter a “tranquilidade de quem há 13 anos constrói sua via pública com transparência e ética”.

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