Em uma Câmara dos Deputados renovada, o ativista político Kim Kataguiri (DEM) é um dos novos nomes da legislatura que assumirá no dia 1º de fevereiro de 2019. E também um dos mais jovens. Com 22 anos, o deputado federal eleito por São Paulo com 460 mil votos é uma webcelebridade e uma pedra no sapato da esquerda brasileira.
Ele ajudou a fundar, em 2014, o Movimento Brasil Livre (MBL), grupo que foi um dos protagonistas do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Ao lado de movimentos como Vem Pra Rua e o Revoltados Online, o MBL promoveu e participou de diversos atos de rua que tomaram conta do país entre 2015 e 2016, contra a corrupção e pela cassação do mandato de Dilma.
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Tido como libertário, Kataguiri é adepto da corrente de pensamento político que defende a menor interferência do Estado na vida das pessoas e na economia, e a liberdade individual de escolha dos cidadãos.
Chegou a ser considerado um dos jovens mais influentes do mundo pela revista norte-americana Time em 2015. No início de 2016, ganhou uma coluna semanal no site da Folha de S. Paulo, que foi publicada durante um ano.
Nesse período, escreveu o livro “Quem é esse moleque para estar na Folha?”. O prefácio é de autoria de Janaina Paschoal (PSL), co-autora do pedido de impeachment de Dilma que se tornou a deputada estadual mais votada da história do Brasil, com mais de 2 milhões de votos nas eleições de 2018.
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O MBL deu visibilidade a Kataguiri, mas foi na internet que sua popularidade, de fato, disparou. Com quase 1,1 milhão de seguidores na página pessoal no Facebook, ele se tornou um dos grandes influenciadores digitais do país no últimos anos. Encontrou ainda nas páginas do MBL em canais no YouTube (942 mil inscritos) e no próprio Facebook (3 milhões), e em programas online como o “Teste do Sofá”, em que entrevista políticos e artistas, entre outras celebridades, o espaço que precisava para expor suas ideias e críticas.
Em seu principal palanque, a web, o agora deputado federal ataca e é atacado, sobretudo por causa de postagens. Os ex-presidentes Lula e Dilma, o PT, líderes e nações comunistas, a ditadura da Venezuela e o atual candidato a presidente Fernando Haddad são seus alvos prediletos.
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Em janeiro deste ano, Kataguiri resolveu fazer uma lista de pessoas que, supostamente, teriam fugido ao debate com ele, incluindo o deputado Jean Wyllys, o presidenciável Guilherme Boulos, a deputada Maria do Rosário e até o ex-presidente Lula. Acabou recebendo respostas nada agradáveis de diversas frentes.
Nos últimos dias, por ocasião da hashtag #VemProDebate, lançada pelo PT para provocar Jair Bolsonaro, o líder do MBL incluiu Haddad nessa lista, chamando-o para um debate com ele. O presidenciável do PSL está impedido pelos médicos de participar de debates na TV por ainda estar em recuperação da facada que sofreu no início de setembro.
Chegou chegando
Mal as urnas foram abertas e Kim Kataguiri, fiel ao seu estilo, começou a “causar”. Ele anunciou na última semana que pretende se candidatar a presidente da Câmara dos Deputados. Ambição que causou desconforto em seu partido, o Democratas, que já preside a Casa com o deputado Rodrigo Maia (RJ), um dos caciques da sigla. Maia deseja se reeleger em 2019 e articula nos bastidores desde antes da campanha eleitoral começar oficialmente.
A juventude de Kataguiri pode ser uma barreira. O presidente da Câmara é o segundo na linha sucessória do Executivo e, para ser presidente, é necessário ter, no mínimo, 35 anos. O líder do MBL terá 23 na época da eleição para a presidência da Casa. Ele alega que isso não será problema e se fia e uma jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF).
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Kataguiri não está nem aí para a opinião do DEM e promete defender com unhas e dentes a sua independência. A filiação ao partido, em março deste ano, foi uma mera formalidade para que pudesse se candidatar, não uma camisa de força. Sua verdadeira sigla é o MBL. “Hoje o MBL é um partido político que está em diversas legendas”, disse ele, em entrevista à Gazeta do Povo em outubro de 2017.
A posse de Kataguiri como deputado federal marcará o reencontro dele com a Câmara dos Deputados, pouco mais de dois anos após o impeachment de Dilma. A curiosidade é saber agora qual será o relacionamento dele junto ao Executivo, com a possibilidade de Bolsonaro ou Haddad saírem vitoriosos nas urnas.
Com relação ao petista, a oposição é clara. Já em relação ao capitão da reserva é uma incógnita. Pouco após eleito, no último domingo (7), declarou apoio a Bolsonaro. Mas ele garantiu há um ano na Gazeta: “A gente não elogia Bolsonaro. A gente elogia a agenda”, disse referindo-se às propostas do presidenciável do PSL.
Como parlamentar, Kataguiri promete abrir mão de alguns privilégios do cargo, como auxílio-moradia e carro oficial com motorista, e cortar pela metade gastos com verba de gabinete.
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