Lançado oficialmente como candidato ao Planalto pelo DEM nesta quinta-feira (8), o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (RJ), pode se tornar o primeiro presidente da República nascido fora do Brasil – caso seja eleito. Maia é “chileno”. Nasceu em Santiago, capital do país, em 1970. Na época, o pai dele, o ex-prefeito do Rio Cesar Maia, era exilado político e vivia no Chile.
Embora tenha nascido no exterior, Rodrigo Maia foi registrado num consulado do Brasil naquele país. Por esse motivo, é considerado brasileiro nato e pode ser presidente da República. A Constituição exige que os presidentes sejam brasileiros natos.
Militância comunista está por trás do nascimento de um político de direita
Pai de Rodrigo Maia, Cesar Maia foi militante de esquerda na juventude. Era integrante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e acabou sendo preso após o golpe militar de 1964.
Cesar Maia exilou-se no Chile em 1968 – onde conheceu a sua mulher, a chilena Mariêngeles. Em Santiago, durante o período do exílio, nasceu Rodrigo Maia e um irmão dele. Após retornar ao Brasil, em 1973, Cesar Maia trabalhou na iniciativa privada e depois ingressou na política – quando já não era mais comunista. O principal cargo que ocupou foi o de prefeito do Rio de Janeiro.
O filho, Rodrigo Maia, aproveitou-se da fama do pai e se candidatou à Câmara pela primeira vez em 1998, quando tinha 28 anos. Foi eleito e desde então sempre consegue a reeleição – já está no quinto mandato. E nunca chegou a ser um campeão de votos: entre os 46 deputados do Rio eleitos em 2014, Maia foi apenas o 29.º mais votado, com 53.167 votos – 8,7 vezes menos que o campeão naquele pleito, Jair Bolsonaro, que obteve 464.572 sufrágios.
Curiosamente, Rodrigo Maia diz ser um liberal e é filiado ao DEM, um dos maiores partidos de direita do país – o completo oposto do comunismo do qual seu pai foi militante e que, indiretamente, levou ao nascimento do atual presidente da Câmara.
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Rodrigo Maia tem bom trânsito com os comunista e diz querer “conversar com todos”
Apesar de ser de um partido de direita, Rodrigo Maia tem bom trânsito entre os comunistas do PCdoB. Em 2017, quando o presidente Michel Temer (PMDB) esteve ameaçado de ser afastado da Presidência devido às denúncias dos donos da JBS, Maia teria costurado com o PCdoB um acordo para tentar assumir o Planalto numa eleição indireta realizada pelo Congresso. E a vaga de vice teria sido ofertada justamente a um comunista: o ex-ministro e ex-deputado Aldo Rebelo, que hoje está no PSB.
Em julho de 2016, o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), em entrevista à Gazeta do Povo, resumiu o perfil político de Rodrigo Maia: “É um amigo, um conciliador. Tem consciência do momento e entende que a radicalização não leva a nada. (...) Tem capacidade de pactuar. É defensor de uma economia de mercado sem fechar os olhos para o social. É um opositor [dos partidos de esquerda] moderado e tem uma visão política que vai além desse Fla-Flu que estamos vendo aí”.
Durante o pronunciamento em que aceitou ser candidato a presidente, nesta quinta-feira (8), Maia buscou reforçar essa percepção e disse que será um candidato que vai “conversar com todos (...) sem o antagonismo atrasado da direita e da esquerda”.
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Os possíveis “enroscos” da campanha de Maia: Eduardo Cunha e a Lava Jato
Mas o bom trânsito entre os políticos possivelmente fará Maia ter de dar explicações durante a campanha eleitoral. Até 2015, o atual presidente da Câmara era um deputado um tanto apagado. Foi após o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) chegar ao comando da Câmara, naquele ano, que Maia começou a ganhar força dentro do Legislativo. Os dois foram próximos. E, numa manobra, Cunha tirou Marcelo Castro (PMDB-PI) da relatoria da reforma política e a cedeu a Maia. Foi a partir daí que Maia ganhou os holofotes.
Além disso, Rodrigo Maia está envolvido em denúncias da Operação Lava Jato, assim como Eduardo Cunha. O deputado do DEM aparece nas delações dos ex-executivos da Odebrecht por suposta prática de caixa dois nas eleições de 2008, 2010 e 2012. Teria recebido, segundo um ex-dirigente da empreiteira, R$ 600 mil por, entre outras razões, ter atuado numa medida provisória de interesse desses empresários. Maia nega as acusações.
Autor de projetos de lei curiosos: SUS para animais, controle da gordura trans e filtro solar para trabalhadores
Na lista de projetos de autoria de Rodrigo Maia na Câmara dos Deputados, chamam a atenção alguns temas em princípio estranhos para um liberal. Ele defende, por exemplo, que seja criado no país um Sistema Único de Saúde (SUS) para os animais. E justifica com o argumento de que os maus-tratos aos bichos gerou um “holocausto da vida animal” no Brasil.
Outra proposta de Maia quer controlar o excesso do consumo de gordura “trans” e restringir sua comercialização. “Estudos recentes sobre os possíveis efeitos das gorduras trans no organismo mostraram a necessidade de prover informações para que o consumidor tenha a opção de escolher os alimentos que deseja consumir”, explica na justificativa do projeto.
O excesso de sol na pele das pessoas é outro incômodo para Maia. Ele defende que seja incluído na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) a obrigatoriedade de as empresas fornecerem filtro solar para seus funcionários que trabalham expostos ao sol. E o filtro tem de ter, no mínimo, fator de proteção solar número 30.
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