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Liberais versus desenvolvimentistas. Estado mais enxuto e menos gastador contra Estado forte, interventor e possivelmente mais gastador. Menos impostos (e mais dinheiro no bolso) ou mais tributos (e mais serviços públicos). Direita versus esquerda.

Com algumas variações, essa é a briga que vai dar o tom da campanha presidencial do ano que vem. E, como é a economia que costuma decidir uma eleição para presidente, os conselheiros dessa área por trás dos candidatos ao Planalto têm de tudo para serem as grandes eminências pardas da disputa eleitoral de 2018. Afinal, são eles que vão definir as propostas que, se implantadas pelo vencedor, afetarão o bolso do cidadão.

A Gazeta do Povo elaborou uma lista de quais são os “cabeças pensantes” em economia dos principais pré-candidatos a presidente – ao menos daqueles que já têm os seus assessores de política econômica. E, principalmente, o que eles já fizerem e no que acreditam.

Direto ao ponto

Clique no nome do candidato e vá direto para o texto sobre o conselheiro econômico dele. O trecho referente a Lula está logo abaixo deste quadro. E, ao fim da reportagem, veja ainda quais são os dois candidatos que dispensam conselheiros.

- Jair Bolsonaro

- Marina Silva

- Geraldo Alckmin

- João Doria

- Ciro Gomes

- João Amoêdo

Lula (PT)

O ex-presidente Lula tem vários conselheiros em economia. A maioria deles ocupou cargos de destaque nos governos do PT: Nelson Barbosa (ex-ministro da Fazenda), Marcio Pochmann (ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Ipea), Luciano Coutinho (ex-presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social, BNDES), Guido Mantega (ex-ministro da Fazenda), Aloízio Mercadante (ex-ministro). O ex-presidente do Palmeiras e professor da Unicamp Luiz Gonzaga Belluzzo é uma exceção na lista: não integrou o primeiro escalão nas gestões petistas.

Com algumas variações de pensamento, esses economistas são da linha desenvolvimentista – que defende a intervenção do Estado na economia para garantir o desenvolvimento do país, seja pela participação direta (por meio de estatais) ou indireta (estímulos à iniciativa privada).

Os economistas do PT (a partir do alto à esquerda, no sentido horário): Nelson Barbosa. Marcio Pochmann, Luiz Gonzaga Belluzzo, Guido Mantega, Aloizio Mercadante e Luciano Coutinho.

Lula, ao mesmo tempo em que critica as reformas do presidente Michel Temer e o ajuste fiscal, tem encampado esse discurso. Afirma que a expansão do crédito público à população vai aumentar o consumo das famílias e, assim, estimular a economia. Para ele, quando isso ocorrer, a arrecadação do Estado cresce e os problemas fiscais do governo federal serão resolvidos. O governo, segundo Lula, também tem de fazer investimentos em obras públicas para dinamizar a economia.

Essa política econômica funcionou para evitar que o país fosse afetado mais duramente pela crise internacional de 2008. Mas o modelo se exauriu nos anos seguintes e, no governo Dilma, não proporcionou crescimento – além de aumentar o rombo das contas públicas.

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Jair Bolsonaro (PEN/Patriota)

O deputado federal Jair Bolsonaro, nas votações de projetos na Câmara, costumava ter um posicionamento desenvolvimentista e nacionalista na economia – alinhando-se à política econômica da ditadura militar, do segundo mandato de Lula e da gestão Dilma. Porém, nos últimos tempos ele vem assumindo um discurso liberal, a favor de um Estado mais enxuto e menos interventor na economia. Bolsonaro recentemente defendeu a privatização da Petrobras, por exemplo.

O liberalismo econômico é a linha defendida pelo conselheiro de Bolsonaro para assuntos econômicos: Adolfo Sachsida, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Sachsida comandou o braço de Brasília do Movimento Brasil Livre (MBL) – que se autodefine como uma organização que luta pelo causa liberal.

Adolfo Sachsida: o liberal que aconselha o candidato que tinha tendê ncia desenvolvimentista.

O economista diz estar aconselhando Bolsonaro a propor a revisão de políticas públicas de subsídios governamentais a determinados setores da economia. Ele também defende o controle das contas públicas. Segundo Sachsida, somente assim será possível fortalecer políticas sociais como o programa Bolsa Família.

Sachsida também afirma ter orientado Bolsonaro, caso eleito, a manter parte da equipe econômica do presidente Michel Temer. O conselheiro do deputado é um defensor da independência do Banco Central.

Pelo DEM, partido de direita, Sachsida tentou ser deputado distrital em Brasília em 2014. Não se elegeu.

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Marina Silva (Rede)

O professor do Insper Eduardo Giannetti é o principal conselheiro econômico de Marina Silva desde a primeira vez que ela concorreu à Presidência, em 2010.

No cenário dos “gurus” econômicos dos presidenciáveis de 2018, Gianetti é um dos que tem tido as propostas mais originais: em alguns aspectos, suas ideias se aproximam do liberalismo; em outros; está mais próximo da esquerda. Gianetti diz, por exemplo, que o Brasil vive uma situação paradoxal em que precisa de menos Estado em alguns setores e mais Estado em outros.

Eduardo Gianetti: mais Estado e menos Estado ao mesmo tempo.

Gianetti costuma elogiar a política econômica do primeiro mandato do ex-presidente Lula, que deu continuidade ao modelo implantado por FHC. Mas critica o desenvolvimentismo adotado pelo petista em seu segundo mandato e também por Dilma Rousseff posteriormente. Atualmente, aprova a gestão econômica de Temer, mas não sua postura política.

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O economista é contra o pacote de privatizações de Temer. Para ele, o Estado não deveria vender seu patrimônio para cobrir o rombo fiscal (como tenta Temer), mas sim dentro de um plano maior para dar eficiência à economia. Por outro lado, Gianetti defendeu a criação de um teto de gastos para o setor público (posição divergente inclusive da de Marina Silva). Ele também diz que é necessário haver uma reforma da Previdência e do sistema tributário – agenda que coincide com a de Temer.

Mas as mudanças tributárias, para Gianetti, teriam de vir juntas de outra reforma mais ampla: a do modelo federativo. Para o economista, é preciso que o país descentralize a arrecadação tributária. “Meu lema hoje é menos Brasília e mais Brasil. Não vejo por que o dinheiro público precisa ir até Brasília e depois voltar para os estados. Ele deveria ser gasto o mais próximo possível de onde é arrecadado. O cidadão mora no município, precisamos dar poder aos governos locais”, disse recentemente numa entrevista.

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Luciano Huck (sem partido)

Ex-presidente do Banco Central no segundo mandato de FHC, Armínio Fraga tem se reunido com Luciano Huck para dar-lhe conselhos econômicos. É tido como um economista da linha liberal – o que tem feito com que o apresentador de tevê seja visto pelo mercado como um nome “aceitável”.

Fraga defende o chamado tripé macroeconômico: câmbio flutuante, meta de inflação e superávit primário. Apesar de ser visto como um economista de direita, o ex-presidente do BC já disse ser contra a privatização da Petrobras, por exemplo.

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Na última eleição presidencial, Fraga foi conselheiro econômico do candidato do PSDB, Aécio Neves. Se o tucano tivesse sido eleito, ele seria o ministro da Fazenda.

Armínio Fraga: liberal é o conselheiro de Luciano Huck.

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Geraldo Alckmin (PSDB)

Um dos idealizadores do Plano Real, o ex-presidente do Banco Central e ex-presidente do BNDES Persio Arida é hoje o principal conselheiro econômico do governador paulista Geraldo Alckmin.

Durante os governos Itamar Franco FHC, ajudou a implantar a política de privatizações de estatais, o modelo de austeridade nos gastos públicos e de juros elevados para conter a inflação.

Persio Arida: um dos idealizadores do Plano Real está com Alckmin.

Na política cambial, não permitiu a livre flutuação da taxa de câmbio, mas também não promoveu o total controle estatal. Foi o criador das chamadas “bandas” de variação máxima e mínima do dólar – em que a moeda estrangeira podia variar dentro de limites estabelecidos previamente pelo BC.

Além de Persio Arida, Geraldo Alckmin citou recentemente outros nomes de economistas com quem costuma conversar: Armínio Fraga, José Roberto Mendonça de Barros, Eduardo Giannetti e Mônica de Bolle.

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João Doria (PSDB)

O prefeito de São Paulo, João Doria, costuma ouvir com frequência a economista Ana Carla Abrão Costa. Ela foi secretária de Fazenda de Goiás (no governo do tucano Marconi Perillo). E é mulher de Persio Arida – que, por sua vez, tem aconselhado o governador Geraldo Alckmin.

Ana Carla Abrão Costa: privatizações e contenção de gastos.

Como secretária de Goiás, conduziu um programa de privatização e de parcerias público-privadas – que também faz parte do programa de gestão de Doria na prefeitura. Ela considera que o Estado é mau empresário e diz que uma estrutura estatal menor é a única forma de ser mais eficiente. No governo de Goiás, também adotou um severo ajuste fiscal.

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Ciro Gomes (PDT)

Dois intelectuais fazem a cabeça do ex-governador do Ceará Ciro Gomes: o economista Luiz Carlos Bresser Pereira e o filósofo Mangabeira Unger.

Bresser, que já teve cargos de ministro nos governos de José Sarney e de Fernando Henrique Cardoso, é da linha desenvolvimentista. E costuma criticar o liberalismo.

Bresser Pereira lançou plano para que o país “volte a ser grande”.

Em junho, o economista lançou o Manifesto Brasil Nação – um plano econômico, segundo eles, para que o país “volte a ser grande”. O programa inclui cinco pontos: responsabilidade fiscal (sem o que ele chama de “populismo neoliberal”, como o teto de gastos públicos); câmbio favorável para que as empresas brasileiras sejam mais competitivas no mercado internacional (o que implica alguma intervenção na cotação do dólar); redução da taxa de juros (sugerindo outra intervenção); investimento estatal para infraestrutura; e distribuição da renda mais justa (com tributação progressiva sobre a renda e investimentos pesados em educação e saúda). Ciro apoiou o manifesto de Bresser.

Outro intelectual que faz a cabeça de Ciro, já há mais tempo, é Mangabeira Unger, professor de Harvard. Mangabeira é crítico do modelo de estímulo da economia por meio do consumo das famílias – adotado nos governos do PT – e também do modelo de austeridade fiscal (de Temer).

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O filósofo afirma que é preciso ter um projeto com foco na produção e no trabalho. Diz ser necessário um Estado forte que qualifique a mão de obras (sobretudo das pequenas e médias empresas), estimule os pequenos empreendedores e proteja os 40% dos trabalhadores que estão na economia informal.

Segundo Mangabeira, a esquerda não pode ser adversária da “pequena burguesia”, mas sua aliada. E, na opinião dele, essa aliança com os pequenos produtores vai levar o país a um desenvolvimento econômico e social mais satisfatório.

Magabeira Unger: filósofo aconselha Ciro na economia.

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João Amoêdo (Novo)

Um dos idealizadores do Plano Real, o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco foi filiado ao PSDB por 28 anos. Mas quem “ganhou” seu passe para 2018 foi o pré-candidato do Partido Novo à Presidência, João Amoêdo, de quem é hoje o principal conselheiro econômico.

“Nos últimos anos os horizontes se ampliaram extraordinariamente para as ideias pró-mercado e para novas abordagens sobre o desenvolvimento tendo como base o indivíduo, o progresso pessoal e a liberdade para empreender”, disse Franco ao deixar o ninho tucano e ingressar no Novo.

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Gustavo Franco – bem como o Novo, partido ao qual se filiou – é liberal. O economista defende a “simplificação do Estado”, as reformas previdenciária e trabalhista, a abertura maior do país para o capital estrangeiro, a venda de estatais e o uso do dinheiro arrecadado para reduzir a dívida pública.

Gustavo Franco saiu do PSDB e se filiou ao Novo.

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Henrique Meirelles (PSD)

Atual ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central no governo Lula, Henrique Meirelles pode se dar ao luxo de dispensar um conselheiro econômico. Afinal, ele próprio estabeleceu a política econômica durante duas gestões distintas.

Embora tenha sido presidente do BC durante um governo do PT, Meirelles adotou uma política considerada liberal, baseada no controle da inflação por meio do chamado tripé macroeconômico: meta inflacionária, câmbio flutuante e superávit primário (obtido por meio da contenção de despesas).

Atualmente, é um dos principais defensores da política de corte de gastos do governo Temer e das reformas trabalhista e da Previdência.

Henrique Meirelles dispensa um “guru” econômico.

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Paulo Rabello de Castro (PSC)

O economista Paulo Rabello de Castro, assim como Henrique Meirelles, tende a não ter um conselheiro econômico porque ele próprio tem capacidade de elaborar sua própria política para o setor.

Atual presidente do BNDES e ex-presidente do IBGE, Rabello de Castro estudou na meca do liberalismo: a Universidade de Chicago (EUA), onde teve aula com um dos papas dessa linha de pensamento econômico, o Nobel Milton Friedman.

Rabello de Castro estudou na meca do pensamento liberaç.

Embora comande um banco de desenvolvimento que faz empréstimos a empresas privadas com juros subsidiados pelo Estado, já afirmou que o país precisa “praticar o exercício do desapego ao subsídio”. Apesar disso, em recente encontro de seu partido, defendeu a facilitação do acesso ao crédito para os pequenos e médios empresários.

Rabello de Castro também foi coordenador do Movimento Brasil Eficiente, que propõe a simplificação tributária e mais eficiência no gasto público.

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