O mantra petista que ficou conhecido no primeiro turno "Haddad é Lula" será substituído nos próximos 19 dias por frases como "Dirceu não".
É parte dos planos da campanha de Fernando Haddad no segundo turno distanciá-lo de tudo que o eleitor possa associar aos "tempos ruins do PT". Isso inclui, além de Dirceu, o ex-presidente Lula. A ideia é que o presidenciável reduza as visitas ao ex-presidente e o mencione menos. Ao invés de colar a imagem, como fez no primeiro turno, agora a estratégia é descolar para trazer votos da direita e do centro.
Os artifícios são relatadas por petistas com quem a reportagem tem conversado nas últimas semanas. Em entrevista ao Jornal Nacional na noite de ontem (8), Haddad disse: “Dirceu não participa da minha campanha nem participará do meu governo. Eu discordo dele”.
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Dirceu é condenado em dois dos escândalos mais famosos nos quais o PT se viu envolvido: o Mensalão e a Lava Jato. Mas nunca deixou de ser um dos nomes de peso do partido, respeitado internamente, com influência suficiente para negociar acordos, seu ponto forte.
Assim tem feito. Foi ele que costurou, nos bastidores, o apoio do PR ao tucano Geraldo Alckmin e não a Jair Bolsonaro, como se indicava no início da pré-campanha - o senador do partido, que acabou não conseguindo se reeleger, Magno Malta (ES), era cotado para vice do candidato do PSL. O apoio do PR ampliaria não apenas o tempo de TV de Bolsonaro, mas o fundo eleitoral ao qual ele teria acesso.
É também José Dirceu que conversa com caciques com MDB sobre palanques no Nordeste para o petista nesse momento determinante da campanha. A região é a única dominada pelo PT, que ficou cercado, sem apoio nas demais. Reforçar a base na região é fundamental nesse momento.
Por que então renegar Dirceu?
O petista histórico, apesar de trabalhar pelo partido, tem usado viagens pelo país de divulgação de seu livro "Memórias" para dar entrevistas. E em muitas, fazer declarações polêmicas.
Dez dias antes do primeiro turno, chegou a dizer que, mesmo que Fernando Haddad não vença o pleito deste ano, o PT tomaria o poder. Dois dias depois, teceu durar críticas ao Ministério Público e à Lava Jato.
Da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, de onde coordena o tabuleiro, o ex-presidente Lula se irritou e mandou um recado a seu ex-ministro: "manda ele ficar calado". Avaliou que suas declarações, àquela altura do campeonato, prejudicavam a campanha.
Não colocar Dirceu em um papel de destaque tem ainda um outro motivo: a relação com o Legislativo. "Independente de quem vencer, haverá dificuldades com o novo Congresso. Como nomear Dirceu, logo o Dirceu e seu histórico ministro? É comprar briga de cara. Temos que agir com inteligência.", ponderou uma das fontes ouvidas.
Colaborou com esta matéria Evandro Éboli
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